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Vacinação de adolescentes é suspensa em Salvador após decisão polêmica do MS

Publicado quinta-feira, 16 de setembro de 2021 às 09:12 h | Atualizado em 16/09/2021, 20:01 | Autor: Cássio Santana e Fernando Valverde
Salvador vacinaria adolescentes de 14 a 17 anos | Foto: Shirley Stolze | Ag. A TARDE
Salvador vacinaria adolescentes de 14 a 17 anos | Foto: Shirley Stolze | Ag. A TARDE -

A prefeitura de Salvador suspendeu a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos sem comorbidades nesta quinta-feira, 16, seguindo o que estabeleceu a Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, vinculada ao Ministério da Saúde, em nota informativa enviada a estados e municípios na noite de quarta-feira, 15. No documento, a pasta pede que sejam vacinados apenas os adolescentes com comorbidades ou privados de liberdade.

O Ministério da Saúde informou que revisará, sempre que necessário, suas recomendações, com base em dados de segurança e na evolução das evidências científicas. A paralisação acontece enquanto a pasta investiga a morte de um adolescente de 14 anos que tomou a vacina da Pfizer, em São Bernardo, no estado de São Paulo. Não há certeza se o óbito está ligado ao imunizante.

Em entrevista ao programa Isso é Bahia, da Rádio A TARDE FM, nesta quinta-feira, o prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), comentou a suspensão e se disse preocupado com a medida. 

"Temos uma preocupação grande. Agora pela manhã o Ministério da Saúde notificou as prefeituras recomendando a suspensão das doses dos adolescentes. Ocorreu um caso em São Bernardo (SP) de um adolescente de 14 anos que tomou a primeira dose da vacina da Pfizer e veio a óbito. Esse caso já está sendo investigado, e hoje, que teríamos a vacinação do público de 14 a 17 anos, estamos suspendendo diante dessa recomendação. Estamos aguardando orientações do Ministério da Saúde"., pontuou o prefeito. 

A capital baiana já havia iniciado às 8h desta quinta a vacinação de adolescentes a partir de 14 anos. A imunização de menores de idade foi iniciada na cidade há algumas semanas. No entanto, após a recomendação, a Prefeitura de Salvador suspendeu imediatamente a vacinação do público-alvo e optou por manter suspensão nesta sexta-feira, 17.  A imunização de adolescentes de 12 a 17 anos que apresentem deficiência permanente, comorbidades ou que estejam privados da liberdade segue normalmente.

Surpresa

A secretária de saúde da Bahia em exercício, Tereza Paim, afirmou que recebeu com surpresa a nota informativa do Ministério da Saúde; De acordo com a titular da pasta, a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab)  recebeu na noite de quarta-feira, às 21h20, o documento.

“Isso [a suspensão pelo Ministério da Saúde]  vai de encontro a um planejamento que vinha sendo executado no desejo da ampliação da vacinação para adolescentes de 12 e 17 anos sem comorbidades. Vários municípios já evoluíram no cadastramento e vacinação dessa população. Além disso, a nota informa que a Organização Mundial da Saúde [OMS] não recomenda essa vacinação. Fica aqui um esclarecimento para a população: vários países já vacinaram essa população. Alguns países já avançaram para crianças menores de 12 anos, com segurança e evidência científica.”, disse Paim, em vídeo publicado no canal do governo do estado no Youtube. 

A secretária informou que a Sesab se manifestou através do Congresso Nacional de Saúde (Conas) para exigir da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) uma manifestação imediata “dessa panorama”. “Nós esperamos que até o final da tarde tenhamos um posicionamento da Anvisa  do Ministério da Saúde.”, finalizou Paim. 

Críticas e manutenção da imunização

O governo de São Paulo lamentou a decisão do Ministério da Saúde. "A vacinação nessa faixa etária já é realizada nos EUA, Chile, Canadá, Israel, França, Itália, dentre outras nações. A medida cria insegurança e causa apreensão em milhões de adolescentes e famílias que esperam ver os seus filhos imunizados, além de professores que convivem com eles", declarou a gestão do governador João Doria (PSDB), em nota. 

Na capital paulista, a prefeitura decidiu manter a vacinação de adolescentes sem comorbidades mesmo após o posicionamento do Ministério da Saúde em relação ao tema.  A secretaria estadual orientou os municípios do estado a seguirem vacinando os adolescentes sem comorbidades.

"Coibir a vacinação integral dos jovens de 12 a 17 anos é menosprezar o impacto da pandemia na vida deste público. Três a cada dez adolescentes que morreram com COVID-19 não tinham comorbidades em São Paulo. Este grupo responde ainda por 6,5% dos casos e, assim como os adultos, está em fase de retomada do cotidiano, com retorno às aulas e atividades socioculturais", disse a secretaria. 

A Secretaria de Saúde do Distrito Federal informou, também, que manterá o cronograma de vacinação de adolescentes. "O Distrito Federal vai manter a vacinação de adolescentes de 14 ,15, 16 e 17 anos com a vacina Pfizer, como estava previsto. A vacina Pfizer é a única que tem registro definitivo, e ela é mundial. Isso é fundamental. E nunca houve nenhuma manifestação da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] quanto a isso", afirmou o secretário de Saúde, general Pafiadache, durante coletiva de imprensa na tarde desta quinta-feira. 

No Rio de Janeiro, o executivo estadual  optou, também, por manter a vacinação de adolescentes sem comorbidades com idades entre 14 e 17 anos.   Já a vacinação dos adolescentes de 13 e 12 anos de idade será discutida na próxima quarta-feira, 22, no Comitê Especial de Enfrentamento à Covid-19 do município.

O secretário de Saúde do Espírito Santo e vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) na região Sudeste, Nésio Fernandes,  disse em sua conta no Twitter que a nota da pasta comandada por Queiroga é "vaga" porque não suspende nem contra-indica a vacinação de adolescentes. Ele falou também que a competência para autorizar ou não o uso de imunobiológicos é da Anvisa.

Segundo o Conass e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) enviaram uma nota conjunta ao presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, pedindo um posicionamento ao órgão. Ele afirmou que o Conass não pediu a suspensão da vacinação de adolescentes ao ministério, mas a priorização da dose de reforço aos idosos.

Saúde rebate

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, criticou a manutenção da vacinação de adolescentes sem comorbidades em alguns estados mesmo após o posicionamento contrário do governo federal, e disse que o Ministério da Saúde não vai se responsabilizar “por erros de imunização”. 

Segundo o ministro, a vacinação deste público foi ‘intempestiva’ e dos 3,5 milhões de adolescentes imunizados no país, milhares receberam doses de imunizantes que não são recomendados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para este público. Segundo a pasta, mais de 1.500 teriam sofrido eventos adversos, a maioria leves.

Diante destes números e de outros pontos decorridos na nota técnica, Queiroga disse que resolveu pela suspensão porque o Ministério da Saúde não pode se responsabilizar por erros de imunização dos estados. O ministro enfatizou que os governos locais devem seguir as recomendações do Programa Nacional de Imunizações (PNI).

“Não dá para o Ministério da Saúde se responsabilizar por condutas que são tomadas fora das recomendações sanitárias do país. Não apliquem vacina que não tem autorização da Anvisa; e mãe não leve suas crianças para sala de imunização para tomar vacina que não tem autorização da Anvisa porque nós não vamos aceitar isso”, disse.

Anvisa nega

A Anvisa  divulgou  comunicado na noite desta quinta-feira, dizendo que investiga o caso da morte do adolescente de 16 anos após aplicação da vacina da Pfizer, mas ressalta que até o momento "não existem evidências que subsidiem ou demandem alterações nas condições aprovadas para a vacina".

"A Anvisa já iniciou avaliação e a comunicação com outras autoridades públicas e adotará todas as ações necessárias para a rápida conclusão da investigação. Entretanto, com os dados disponíveis até o momento, não existem evidências que subsidiem ou demandem alterações nas condições aprovadas para a vacina. Além de estabelecer contato com as sociedades científicas, a fim de intensificar a identificação precoce dos casos de eventos adversos graves pós-vacinação de adolescentes, a Anvisa realizará reunião com a empresa Pfizer e os responsáveis pela investigação do caso no Estado e CIEVS Nacional para obter mais informações", publicou o órgão regulador. 

"Com os dados disponíveis até o momento, não existem evidências que subsidiem ou demandem alterações da bula aprovada, destacadamente, quanto à indicação de uso da vacina da Pfizer na população entre 12 e 17 anos."

A agência reforçou que o uso do imunizante em adolescentes com 12 anos ou mais está autorizado em outros países.

Nota

Segundo a nota do Ministério da Saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda a imunização de crianças e adolescentes com ou sem comorbidades, o que não é verdade. A recomendação da OMS é para que os menores de idade só sejam imunizados depois que todas as pessoas dos grupos de maior risco estejam vacinadas.

Assinado por Rosana Leite de Melo, secretária extraordinária de Enfrentamento à covid-19, o documento afirma que a maioria dos adolescentes sem comorbidades são assintomáticos ou apresentam poucos sintomas. No entanto, especialistas dizem que vacinar os mais jovens é uma estratégia importante para frear a transmissão do vírus.

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