SALVADOR
Verão: Segunda-feira na Ribeira é dia de cozido
Por Tássia Novaes, do A Tarde On Line
A calmaria da praia da Penha, na Ribeira, é cenário para degustar um prato servido especialmente às segundas-feiras: o cozido. A iguaria predomina no cardápio de todas as barracas do local, sendo os temperos mais concorridos os de dona Val e de dona Nide. A partir do meio-dia já é possível sentir o cheiro das carnes e das verduras que borbulham em caldeirões aquecidos em fogo alto. O pirão é feito por último.
O aroma é o convite que aguça o apetite. Chegue cedo e puxe uma cadeira. O som do teclado em ritmo de arrocha faz as honras da casa. E embora seja dia de trabalho, a praia costuma ficar cheia. “Tem gente que faz o pedido antes do cozido ficar pronto“, diz, com um sorriso largo, a cozinheira Ivanildes Mota. Aos 49 anos, ela é conhecida entre os fregueses como Nide.
Enquanto a criançada se esbalda com bóias coloridas nas águas calmas da Baía de Todos os Santos, homens e mulheres curtem o ambiente acompanhados de goles de cerveja. A faixa de areia é pequena, mas cabe muita gente. “Umas 200 pessoas“, arrisca Jorge Dultra, 39 anos, morador da Ribeira. “Mais gente do que no domingo“, acrescenta Marlene Santos, 37, sua esposa.
Ingredientes - Batatinha, abóbora, chuchu, batata doce, quiabo, maxixe, banana da terra, jiló, cenoura e repolho. “Pelo menos dois quilos de cada verdura“, contabiliza Tatiana Mota, 25 anos, uma das filhas da quituteira Nide. Com mais uns 15 quilos de carne é o suficiente para preparar umas 20 porções. “Para três pessoas cada“, garante.
O prato é apreciado por gente de vários pontos da cidade, além de turistas. De férias na Bahia, a paulista Meire dos Santos, 33 anos, aportou na Penha para provar o cozido pela primeira vez. Na companhia de amigos baianos, pediu uma água de coco, enquanto apreciava a Ponta de Nossa Senhora, na Ilha dos Frades, uma das paisagens da vista privilegiada do local. “É melhor pedir logo, senão pode acabar“, advertiu um garçom. Passados uns minutos, com o garfo na boca, veio a constatação: “uma delícia“. Nessas horas se fala pouco. Melhor se concentrar nas garfadas.
A comida é farta e cada porção varia de R$ 10 a R$ 15. A mais cara atende até quatro pessoas. Não se sabe ao certo a origem da tradição. Há 16 anos no local, dona Nide diz que quando comprou a barraca já tinha no cardápio o cozido. “Só fiz continuar“, resume.
A barraca de dona Val tem freguesia cativa de Pirajá. O rasta Wilson Santos, 40 anos, costuma marcar ponto por lá na companhia de outros amigos do bairro. “Venho há uns seis anos. Aqui o diferencial é o atendimento“, destaca.
Talvez a preferência esteja relacionada à decoração da barraca. Pôsteres do lendário Bob Marley e uma bandeira da Jamaica dão cor especial ao local. São vários espalhados nas paredes. Há, ainda, espaço para um quadro com a figura de São Jorge e outro com o escudo do Bahia. “Eu e meu marido somos fãs, adoramos reggae“, explica a cozinheira.
Mas quem chega por alí quer mesmo é saber da comida. “O sabor é demais. É muito gostoso“, avalia Otávio da Cruz, 33, um dos integrantes do ”bonde“ que vem de Pirajá. Curiosos até tentam pescar o segredo do cozido de dona Val, mas a cozinheira mantém o suspense e se limita a dizer “que é o tempero“.
Josevaldo dos Anjos, 59 anos, morador da Ribeira, atribui a tradição do cozido à presença de um grupo de trabalhadores do Pólo Petroquímico que costumava ir à Penha nos dias de folga, ou seja, ás segundas-feiras. Talvez seja esse o início da história. Mas o que vale mesmo é marcar presença e ir até lá degustar.
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