SALVADOR
Vila Laura: e da fazenda fez-se o bairro
Por Vitor Carmezim, do A TARDE
Simpático e aconchegante. À primeira vista, quem decide caminhar pelas ruas do bairro de Vila Laura o percebe desse jeito. Depois de uma olhada mais minuciosa, o que em outros bairros de Salvador pode se tornar uma desagradável surpresa – o visitante acaba se encantando pelas ruas largas e arborizadas deste que é quase o bairro caçula do distrito de Brotas, só um pouco mais velho do que a área de Cidade Jardim. Engana-se, porém, quem confunde menos idade com pouca história.
Avizinhada pelos bairros de Luís Anselmo, Matatu e Cidade Nova, a Vila Laura faz jus à frase, cujo autor não se conhece ao certo, que diz que “todas as ladeiras levam a Brotas”. O bairro é, sim, uma das portas de acesso a um ponto alto da cidade de onde as vias se distribuem e favorecem o deslocamento para diversas áreas da cidade: Rótula do Abacaxi, Sete Portas, Comércio, Estádio da Fonte Nova, Bonocô, Lapa – tudo fica perto, mas com uma ladeira no meio do caminho.
A ótima localização do bairro foi um dos motivos, mas não o único, que fizeram a administradora Ana Miraci Peneluc, 46 anos, optar por morar em Vila Laura há 18 anos. “Não troco o meu bairro por nenhum outro. Nem Pituba, nem Barra. Gosto daqui. Aqui minha filha pôde ter infância”, afirma a moradora.
Fazenda – Antes, porém, num passado que remonta cerca de 70 anos atrás, boa parte do emaranhado de ruas que sobem e descem no bairro não passava de mata, plantação de laranjas ou de pasto da então Fazenda Vila Laura.
Propriedades da família do coronel Frederico Costa, as terras onde hoje vivem cerca de 40 mil pessoas foram loteadas aos poucos. As informações históricas estão bastante frescas na memória de um dos moradores daquele tempo, com seus costumes e rotinas. “Colhi muita laranja, tirei leite de vaca pra dar aos meus filhos e vi essa região inteirinha crescer”, afirma, com a voz mansa, Silvino Augusto Santos, 85 anos, 52 deles vividos na Fazenda Vila Laura.
A casa onde Silvino mora ficava dentro dos limites da fazenda e até hoje é mantida como antes. A fachada em azul abriga uma residência simples, mas com muitas histórias. Gicélia Oliveira, 57 anos, filha de Silvino, descreve saudosa os momentos que viveu na casa. “Nasci e me criei aqui. Lembro, como se fosse hoje, do caminho de terra que eu tinha que seguir todos os dias pra ir à escola. Era em meio ao mato. Hoje, o que vemos são estes prédios que tomaram conta da paisagem”. E complementa: “O local onde ainda tinha a estrutura da casa principal da fazenda foi vendido recentemente para uma construtora e hoje é aquele prédio ali”, diz, apontando para o edifício de cerca de 15 andares.
Os prédios pequenos – de quatro a seis andares – e os maiores – que passam dos 15 – viraram parte integrante da paisagem local, mas as casas térreas ainda trazem para o bairro o clima de cidade do interior. A principal rua de Vila Laura – a centenária Rua Raul Leite – abriga muitas residências que hoje estão bastante valorizadas por conta do crescimento local.
“É bastante perceptível a mudança que o boom imobiliário trouxe para Vila Laura. Com toda a certeza, o metro quadrado da região hoje está bem mais caro”, afirma Marcelo Maia, responsável pela Administração Regional V, que abrange Vila Laura, entre outros. Na ladeira que leva das Sete Portas até o bairro, as laterais da pista são repletas de prédios novos ou em fase de construção. Esta situação se repete em outros pontos.
Escolas– Outra característica notável é a quantidade de escolas distribuídas pelo bairro. De acordo com Maia, em Vila Laura há uma escola pública estadual e nove escolas particulares dos ensinos fundamental e médio. “O grande número de escolas se justifica pela quantidade de novos moradores vindos pra cá que preferem a comodidade e segurança de ter o filho numa escola perto de casa, sem preocupação”, afirma o administrador.
É o caso da jornalista Patrícia Tosta, que mora há pouco mais de um ano e meio no bairro e decidiu matricular o filho Gabriel numa escola que não fosse distante. “Pra mim e pra ele, fica bem mais cômodo. Fico mais tranqüila com a questão da segurança, tenho confiança nas pessoas com quem deixo meu filho e também não tenho que me deslocar muito para poder levá-lo pra estudar”, diz.
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