BAHIA
Câncer de mama em animais? Entenda os riscos para cadelas e gatas
Por Bianca Carneiro* | Fotos: Freepik, Arquivo pessoal e Outubro Rosa Pet

Além de contar os dias, alguns meses do ano possuem um certo significado para a sociedade. Enquanto que a uns são atribuídos termos não tão bons, como é o caso de agosto, conhecido como “mês do desgosto”, outros como fevereiro, que marca o carnaval, são esperados com ansiedade. Outubro no entanto, já ganhou uma missão mais que especial: chamar a atenção do mundo inteiro para a prevenção do câncer de mama.
A incidência mais frequente em mulheres - homens somam apenas 1%, segundo o Instituto Nacional de Câncer - foi a responsável por escolher a cor que atualmente acompanha Outubro: o rosa. Por isso, mais especificamente durante o período, empresas, escolas, unidades de saúde, e até mesmo, o poder público fazem campanhas a fim de ensinar as mulheres a realizar o autoexame e combater a doença.
Entretanto, engana-se quem pensa que somente humanos podem sofrer com esse mal. Com o final do Outubro Rosa, também é necessário discutir a ocorrência do câncer de mama nos animais, especialmente nas gatas e cadelas. Nas caninas, esse é o tipo de tumor mais frequente, enquanto que nas felinas, ele aparece em terceiro lugar. Cães e gatos machos também estão sujeitos ao surgimento da doença, especialmente se já tiverem um tumor no testículo.
A cadela Mel foi uma das atingidas. Em 2017, sua tutora, a biomédica e técnica em radiologia, Rosângela Morais notou um pequeno nódulo em meio as mamas do animal. Foi durante a ação “Outubro Rosa Pet” do Hospital de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia (Hospmev/UFBA), que veio a confirmação: Mel, aos nove anos de idade, estava com câncer de mama.

“No dia da descoberta, fiquei sem reação e comecei a chorar muito”, conta Elisângela. Apesar de ter feito cirurgias e quimioterapia, o câncer já havia se espalhado por todo o corpo e chegado até pulmão, a cadela não resistiu aos sintomas. Depois da experiência, a biomédica, que hoje possui outra cadela, passou a investir mais nos cuidados. “Mel deixou uma outra irmãzinha que já fez todos os exames no Outubro Rosa Pet deste ano”, ressalta.
Especialista no assunto, a médica veterinária e professora da Escola de Medicina Veterinária da UFBA, Alessandra Estrela Lima, já chegou a lidar com casos em éguas, ratas, macacas, chinchila e onça. De acordo com ela, os fatores mais conhecidos envolvidos no surgimento da doença são de ordem genética, ambiental, nutricional e principalmente hormonal.
“O risco de neoplasia mamária (tumor nas mamas) aumenta com a idade. A faixa etária que costuma ser mais acometida vai dos 6 aos 11 anos. Em animais com menos de quatro anos, o índice é mais baixo. Outros fatores são as drogas anti cio e a obesidade”, explica.

Outubro Rosa Pet
Idealizado por Alessandra, neste ano, o Outubro Rosa Pet da UFBA chegou a sua quinta edição. Durante o evento, que ocorreu na manhã do sábado, 20, foram realizados cerca de 115 atendimentos gratuitos para animais vítimas de neoplasias mamárias. Além da consulta e do exame, ainda era exibido aos tutores um vídeo de aproximadamente 5 minutos que abordava a prevenção e o tratamento da doença.
Dentre os profissionais e alunos do hospital veterinário da instituição que prestaram o atendimento voluntário estava o estudante Vitor de Moraes. Prestes a se formar, ele participa da ação a 3 anos consecutivos e conta que ajuda sempre no que for preciso. Sobre os tipos de animais que mais eram atendidos, Vitor afirma serem as cadelas.
“As cadelas são as mais afetadas. No dia do evento, costumam aparecer mais delas, porém, a cada ano, a quantidade de gatas vêm aumentando. O interessante é que o tutor que se preocupa e traz o animal, já tem acesso a prevenção e tratamento”, diz. Dentre os casos que mais lhe chamaram a atenção, Vitor não faz distinção, mas cita um no qual a cadela possuía uma faixa etária menor do que a esperada.
“Todos os casos são interessantes, cada um possui a sua peculiaridade. No entanto, tivemos um no qual a cadela tinha apenas 3 anos de idade e já apresentava nódulo na mama, daí a importância da castração após o primeiro cio”, cita.

Em meio aos corredores do hospital, também estava a médica oncologista veterinária Laís Pereira. Apaixonada pela área, ela está a frente do “Projeto Mama”, núcleo oncológico que visa o tratamento do câncer de mama em animais.
“O projeto funciona da seguinte forma: toda a avaliação clínica com neoplasia mamária, solicitamos os exames pré operatórios, fazemos a cirurgia, encaminhamos a cadeia mamária retirada para a biópsia e após o resultado, a depender da situação, o animal é encaminhado para a quimioterapia”, esclarece.
Ainda segundo Laís, além da cirurgia, os tratamentos mais utilizados são a quimioterapia e a eletroquimioterapia, procedimento novo na Bahia, indicado para casos de desenvolvimento da doença na pele, conhecido como metástase cutânea. A prevenção conta com medidas semelhantes a dos humanos: alimentação equilibrada, exercícios físicos, combate a obesidade e realização do "Toque Amigo", exame de toque feito nas mamas do animal.

Anticoncepcional x Castração
Seja qual for o caso, um fato é consenso entre os profissionais da área. Utilizado para evitar o cio das gatas e cadelas, o uso de injeções anti-cio e outros anticoncepcionais não só prejudica outras questões corporais do animal, como também é um fator de risco para a ocorrência do câncer de mama.
Mas então, qual seria a saída para impedir a procriação do Pet? Alessandra, Laís e Vítor não deixam dúvidas: a castração. De acordo com a especialista, o ideal é que ela seja feita entre o primeiro e o segundo cio.
“Medicações anti cio são totalmente contra indicadas. Se o dono não quiser que o animal procrie, a indicação é realizar a castração. Além de inibir o cio, e atuar como controle reprodutivo, o procedimento é recomendado como um fator protetor contra a própria neoplasia mamária e outras doenças como a piometra (infecção no útero). Ou seja, a castração, é mais que bem-vinda”, afirmou.
*Sob supervisão de Lhays Feliciano
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