BAHIA
Coronavírus ‘queima’ Judas
Por Tainá Cristina*

“Por mais de 20 anos segui a tradição popular da queima do boneco de Judas Iscariotes, à 0h do Sábado de Aleluia, no bairro de Cosme de Farias. E, este ano, pela primeira vez, não vai acontecer por conta da Covid-19", lamenta o líder comunitário Aílton Soares.
Ele diz que a quarentena acabou com a animação do povo em um evento tradicional nos bairros populares. Segundo Soares, a queima do Judas costuma reunir todos os anos, em Cosme de Farias, cerca de 500 pessoas nas praças. “Todos os anos pegamos uma pessoa famosa, um político que está na mídia desagradando a população, e colocamos a foto dele no boneco. Este ano o Judas seria Bolsonaro. Essa é a intenção da queima de Judas, queimar os traidores do povo”.
Embora seja uma tradição que vem morrendo cada vez mais, a ‘malhação’ do Judas se mantém em alguns bairros populares, como Cajazeiras, Cabula, Narandiba, além da Região Metropolitana de Salvador (RMS), nos municípios de Simões Filho e Mata de São João.
É o que conta Jean Neiva, 40 anos, um dos herdeiros do mais famoso fabricante de Judas de Salvador, Florentino Fogueteiro.
Desde os 13 anos Neiva confecciona os bonecos e destaca que as vendas já não são as mesmas. Mas este ano houve uma queda significativa de pedidos.
Demanda
“Comecei a confeccionar em meados de novembro, fizemos 800 Judas, mas era para fazer uma produção total de 1.200 bonecos. Tinha 400 de reserva, por conta da demanda e por ser ano político. Com esse problema do coronavírus e quarentena só consegui vender 200 bonecos de clientes que já pagaram, mas nem sei se eles vêm buscar", observa.
De acordo com Neiva, “hoje o valor do boneco está de R$ 280, mas só houve prejuízo. Tem gente que encomendou para chácaras e ruas, mas as comunidades que compraram não vieram buscar e nem os vereadores que todos anos compram para distribuir nos bairros populares vieram”.
*Sob a supervisão do jornalista Luiz Lasserre
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