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Dia dos Pais: homens trans relatam desafios e histórias de amor com os filhos

Por Gabriel Andrade

09/08/2020 - 6:00 h | Atualizada em 21/01/2021 - 0:00
César participou, em 2017, de camapanha de dia dos pais do GGB | Reprodução | Arquivo Pessoal
César participou, em 2017, de camapanha de dia dos pais do GGB | Reprodução | Arquivo Pessoal -

Desde 2015, o Dia dos Pais de Cézar Sant’ Anna e da filha Fernanda, de 14 anos, tem sido diferente. Se, antes, eles comemoravam o Dia das Mães, agora a data especial passou a ser outra. Cézar é um dos muitos pais trans que mostram que a paternidade é muito maior do que preconceitos e padrões sociais.

Apesar da vontade antiga de ter um filho, a trajetória de Cézar é diferente da maior parte dos pais. A transição de gênero aconteceu quando a Fernanda já estava com nove anos. Para ele, a maior diferença que sentiu foi a leitura que a sociedade faz da forma como cria sua filha.

"Como mãe, as coisas que eu fazia eram vistas de forma natural, como funções relacionadas ao gênero feminino. As funções 'do pai', que eu sempre exerci, eram as mesmas como mãe, mas como pai as pessoas viam de uma maneira diferente”, explica. Para ele, a sociedade valoriza mais as ações dos pais que das mães.

Uma pesquisa realizada em 2017, pela Universidade de São Paulo (USP), analisou a dinâmica dos papéis de gênero de homens trans que engravidaram. A pesquisa propôs que ser pai é um ato performático, ou seja, não é baseado em hábitos naturais, mas em práticas socialmente construídas.

“Eu sempre falo que um ‘homão’ é uma mulher comum, então quando algumas pessoas falam ‘Cézar, você é um paizão', eu digo 'obrigado, eu sei que a intenção é elogiar, mas eu faço as mesmas coisas que sempre fiz'”, completa.

Imagem ilustrativa da imagem Dia dos Pais: homens trans relatam desafios e histórias de amor com os filhos
| Foto: Reprodução | Arquivo Pessoal
Cézar diz que sempre foi 'pai e mãe' de Fernanda | Reprodução | Arquivo Pessoal

A história de Cézar é parecida com a de Jorge*. Apesar de não ter dado à luz, ele já possuía um filho de 11 meses quando fez a transição de gênero em 2015, aos 24 anos. “Desde muito cedo, a paternidade sempre foi um sonho muito vivo em mim. Mas diante da minha realidade biológica, isso sempre esteve distante”. Quando se entendeu como homem trans, Jorge* pôde realizar o sonho de ser pai.

"Me vesti de coragem e mergulhei de cabeça neste desafio. Tive muito apoio, incentivo e amor me impulsionando”, conta. "Desde sempre fiz questão de ser presente, parceiro de descobertas e, acima de tudo, a melhor referência. Tenho muitas falhas, como todo ser humano, mas tenho também uma vontade enorme de acertar”, completa.

Não existem dados oficiais sobre paternidade ou maternidade de pessoas trans no país, mas um estudo publicado em 2012, com 50 homens trans, mostrou que 54% tinham desejo de ter filhos biológicos. Outro estudo, de 2002, publicado na revista International Journal of Transgenderism, entrevistou 120 mulheres trans e 40% disseram que tinham vontade de serem mães.

Desafios

No pais que lidera o ranking mundial de assassinatos de transexuais, conforme dados da ONG Transgender Europe (TGEu), ser um pai que foge do padrão da sociedade pode ser desafiador. O ator Thammy Miranda, filho da cantora Gretchen, foi alvo de ataques nas redes sociais depois de ter feito parte da campanha de Dia dos Pais da empresa de cosméticos Natura.

Thammy, que tem um filho de seis meses, já foi atacado pelo vereador e filho do presidente, Carlos Bolsonaro. Justamente para não expor seu filho a ataques, Jorge* preferiu não ter seu nome real na reportagem.

“Acho o mundo muito cruel e tenho medo que comentários maldosos causem traumas irreversíveis nele. Tenho feito um trabalho gradual, praticando uma educação inclusiva, diversa e irrestritamente respeitosa”, desabafa.

Cézar também já foi alvo de comentários transfóbicos. ”Na internet, sempre há pessoas que não me conhecem e têm acesso à minha vida e minha história. Sempre tem uma ou outra que comenta algo para invalidar minha vida, minha identidade de gênero. Mas isso não me afeta, até porque isso é feito por pessoas que não me conhecem”, explica.

Em 2017, Cézar foi o personagem principal de uma campanha do Grupo Gay da Bahia (GGB) pelo Dia dos Pais. A campanha mostrou a história de amor entre ele e a filha, que o vê como “o pai mais especial do mundo”. O motivo pelo qual Cézar topou estrelar a campanha foi para que seu exemplo possa ajudar a ampliar os padrões familiares impostos e, principalmente, lutar contra o preconceito.

“Não imaginava a repercussão, o alcance e o quanto isso poderia ajudar outras pessoas. Já recebi comentários de pessoas que viram o vídeo e passaram a acolher os filhos, desassociaram aquela imagem negativa que tinham de pessoas trans. Então, para mim, foi sensacional, muito recompensador”, explica.

O vídeo “O Primeiro Dia dos Pais de Cézar” foi um dos vencedores da premiação Cannes Lions, a maior do mercado publicitário.

Novos caminhos

Jorge* relata que teve um pai ausente e quer fazer diferente com o filho. "Tive um pai ausente e que me traumatizou muito com cobranças excessivas, e esse é o comportamento que mais tento me desviar. Quero ser melhor amigo, conselheiro e, quando tudo parecer fora do eixo, quero ser ombro e colo para que ele desabe”, conta.

Para Cézar, ser pai é quebrar justamente esses padrões “O padrão do homem é aquela coisa que não pode falar dos sentimentos, que não tem a permissão da sociedade para ser carinhoso, de abraçar seu filho. De poder dizer o quanto você ama, você admira. Inclusive de mostrar que é um ser que também erra”, explica. “Quando a gente quebra a ideia de pai perfeito, você permite que o filho aceite a própria imperfeição, que se permita errar”, finaliza.

*Nome fictício

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