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01/06/2023 às 8:54 • Atualizada em 01/06/2023 às 13:45 - há XX semanas | Autor: Leo Moreira

DROGAS DO EFEITO ZUMBI

Drogas K chegam à Bahia e preocupam autoridades; entenda os riscos

O Portal A TARDE conversou com autoridades e especialistas da Bahia e de São Paulo para entender perigos

Primeira apreensão da "k9" aconteceu em março no bairro de Tancredo Neves em Salvador
Primeira apreensão da "k9" aconteceu em março no bairro de Tancredo Neves em Salvador -

A descoberta de um esquema de envio da droga da 'família K', conhecida como K2, K9, spice e, erroneamente, chamada de maconha sintética, no último dia 28 de maio em Santo Estêvão, alertou as autoridades baianas para a chegada de um dos entorpecentes mais perigosos já inventados. Extremamente viciante, a nova substância é responsável por causar um estado de letargia mental, uma espécie de "efeito zumbi", ou seja, faz com que o usuário se comporte como os personagens fictícios mortos-vivos, vistos em obras de ficção.

Os 5 kg da droga encontrados em Santo Estêvão tinham como destino uma organização criminosa com atuação no bairro do Nordeste de Amaralina, em Salvador. Esta já é a quarta apreensão do entorpecente em território baiano só este ano. Preocupado com essa crescente, o Portal A TARDE conversou com autoridades e especialistas da Bahia e São Paulo, onde a droga já se tornou um problema de saúde pública, para entender e explicar ao leitor os perigos que a nova substância pode trazer.

"É uma droga com um alto poder viciante, inclusive é mencionado que é muito mais viciante que o crack, além de ser muito mais barata. Então, é uma droga que pode se popularizar rapidamente. É importante também registrar que não se deve falar de 'supermaconha', justamente para evitar qualquer tipo de comparação a maconha e até estimular seu consumo", disse o delegado Yves Correia, coordenador de Narcóticos do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), em entrevista exclusiva.

Se na Bahia o número de apreensão e consumo ainda é considerado baixo, em São Paulo a droga já invadiu os presídios e bairros mais carentes. Em 2021 foram localizados 1,5 kg. Este número subiu para 11 kg no ano seguinte e aumentou para 19 kg em 2023, até o momento, segundo o delegado Carlos César Castiglioni, do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) da Polícia Civil de SP. Ou seja, um aumento de mais de 1000% no período de dois anos.

Originalmente, a droga surgiu com o nome de K2, fazendo alusão a uma das montanhas mais altas do mundo, localizada na Ásia, para dizer que quando a pessoa usa ela fica 'alta', no 'hype'

Carlos César Castiglioni - delegado da Denarc de SP

Ele ainda explica como as drogas K chegaram ao estado mais populoso do país e se alastraram tão rapidamente. "Há uns cinco anos começou a surgir, mas ainda sem expressividade. Houve um aumento muito grande da quantidade de apreensões nos últimos anos". Para ele, a rota de entrada do entorpecente, criado para reproduzir os efeitos da maconha, mas que deu errado, foram os presídios paulistas.

Uma das formas encontradas por usuários para utilizar as drogas K é através de um cigarro normal de nicotina. Outra maneira seria borrifar a substância em papel, foi assim que a droga invadiu os presídios paulistas. "É como surgiu aqui [em SP], entrando na cadeia. A gente entende que a porta de entrada das drogas K foram as cadeias. Essas drogas em papel, dada uma semelhança a LSD, que você põe na língua, a gente chama de K4 ou K9", essa artimanha dificultaria a identificação do produto, facilitando o ingresso”.

O grande problema que a gente tem visto é que cada vez que apreendemos esta droga, ela está com uma composição diferente

Carlos César Castiglioni - delegado da Denarc de SP

Drogas K na Bahia

DHPP e Cipe Litoral Norte descobriram esquema de envio da droga K9 e armas para facção no Nordeste de Amaralina. 5kg da droga foi apreendida
DHPP e Cipe Litoral Norte descobriram esquema de envio da droga K9 e armas para facção no Nordeste de Amaralina. 5kg da droga foi apreendida | Foto: Divulgação

Até então desconhecidas na Bahia, as drogas K só começaram a entrar no radar da polícia baiana de vez no dia 28 deste mês, após a apreensão dos 5 kg em Santo Estêvão e a descoberta de um esquema interestadual da substância. Porém, antes disso, outras três apreensões já haviam sido registradas.

A primeira aconteceu em março, no bairro de Tancredo Neves. Na ocasião, a quantidade apreendida durante ações para localizar e capturar suspeitos envolvidos em um ataque que deixou dez pessoas feridas, não foi revelada.

Não é uma 'supermaconha', é uma maconha que deu errado. Estavam tentando produzir matéria-prima, medicamento para remédio, aí surgiu este 'monstro'

Carlos César Castiglioni - delegado da Denarc de SP

No dia 24, a Polícia Civil de Casa Nova, município localizado a cerca de 570 quilômetros de Salvador, apreendeu 21 pinos da variante da K9. A droga foi encontrada com dois adolescentes de 16 anos. No dia seguinte, cinco pinos de K9 foram apreendidos no bairro de Mata Escura, também em Salvador.

Dificuldade de apreensão e proibição do PCC

A dificuldade para identificar as drogas K também é um fator que preocupa as autoridades baianas e paulistas. "Não é uma supermaconha. É uma maconha que deu errado. Os ‘caras’ tentando produzir matéria-prima, medicamento para remédio, aí surgiu este ‘monstro’. O grande problema que a gente tem visto, é que cada vez que apreendemos esta droga, ela tem uma composição diferente", salientou o delegado paulista.

Esta visão também é compartilhada pela polícia baiana. O delegado Yves Correia afirma que o caminho para o combate é o preparo policial e a educação da população e dos agentes.

"A ideia do PCC [Primeiro Comando da Capital] foi exatamente buscar esse ingresso de uma droga, de forma facilitada nos presídios que não fosse detectada por raio-x ou até mesmo revista. A gente sabe que uma das formas de colocar essa droga é borrifar em uma espécie de papel de uma laminazinha, que passaria fácil. Aí é conscientizar os próprios policiais, treinamento, para começar a perceber as várias formas que os traficantes estão utilizando para poder burlar a fiscalização. O policial tem que saber lidar com isso. Porque de fato, se você está procurando uma droga clássica como tablete da maconha, cocaína, até o ecstasy, é mais difícil identificar uma droga nova como esta", salientou.

E falando em PCC, os efeitos das drogas K chegam a ser tão devastadores que até o grupo, considerado uma das organizações criminosas mais perigosas do país proibiu seu consumo em determinadas localidades de São Paulo. No entanto, o próprio PCC também é apontado como o responsável por trazer o entorpecente para terras brasileiras, informação confirmada pelo delegado Castiglioni.

"A gente fez um trabalho de investigação de combate ao crack, e em uma dessas interceptações telefônicas a pessoa comentou: 'olha, é o seguinte, é para parar de comercializar a droga K, porque o negócio tá trazendo muitos problemas'. Problemas em que sentido? Problemas de saúde. A pessoa consome e passa mal, tem os 'piripaques'".

Droga K em formato de papel apreendida pela Polícia Civil de São Paulo. Uma folha de tamanho A4 rende cerca de 1.200 'doses'
Droga K em formato de papel apreendida pela Polícia Civil de São Paulo. Uma folha de tamanho A4 rende cerca de 1.200 'doses' | Foto: Divulgação

Efeitos destrutivos

O professor do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Dr. Mauricio Yonamine, também conversou com o Portal A TARDE sobre as drogas K.

Segundo o especialista, apesar de ser erroneamente conhecida dessa forma, a chamada 'maconha sintética', na verdade, não tem nada de maconha em sua composição.

"O que estão chamando popularmente de 'maconha sintética', K2, K9 ou spice, não se trata de apenas uma substância. No mundo inteiro, já foram identificados atualmente mais de 300 compostos chamados canabinoides sintéticos. O que essas substâncias têm em comum com o THC, que é o princípio ativo encontrado na maconha, é que elas agem nas mesmas regiões do cérebro, contudo em potências variadas, algumas chegando a ser 50 ou 100 vezes mais potentes que o THC".

Yonamine ainda explica as origens do entorpecente. "Grande parte dos canabinoides sintéticos têm sua origem em tentativas da indústria farmacêutica em criar moléculas que agissem no mesmo sistema cerebral que age o THC da maconha. É o chamado sistema endocanabinóide. Algumas dessas substâncias são 100 vezes mais potentes que o THC. De fato, o sistema endocanabinóide é um sistema promissor que pode ser explorado por cientistas e pela indústria farmacêutica para criar medicamentos para uma série de doenças acometidas pelos seres humanos. Contudo, são substâncias que não passaram nos testes iniciais de segurança ou eficácia e foram rejeitadas pela indústria farmacêutica. E de alguma forma acabaram 'vazando' para o mercado ilícito".

K2, k9 ou Spice, droga que devasta SP pode está chegando na Bahia
K2, k9 ou Spice, droga que devasta SP pode está chegando na Bahia | Foto: Divulgação | Polícia Civil SP

As reações entre os usuários são as mais variáveis, porém, quase sempre destrutivas e muitas vezes prolongadas. "Assim sendo, os efeitos dos canabinoides sintéticos são muito mais perigosos dos que os da maconha em si, sendo observados surtos psicóticos, aumento da ansiedade, confusão mental, movimentos descoordenados, paranoia, convulsões e casos fatais, inclusive, como não se trata de apenas um composto, a duração e intensidade dos efeitos também varia, podendo durar de uma a seis horas".

Outra questão que chama a atenção do professor sobre a droga é o baixo valor de mercado e grande potencial viciante. "Para mim isso é uma surpresa, porque drogas sintéticas geralmente apresentam custos mais elevados na sua obtenção do que drogas clássicas originárias de plantas, como, por exemplo, a própria maconha. Há relatos de usuários que têm usado a droga de forma compulsiva (ou seja, fumando um cigarro atrás do outro até a completa exaustão), o que nos dá uma ideia do problema que estamos lidando".

Sesab emitiu alerta público

Após as três apreensões do entorpecente na Bahia, a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), via Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Bahia (CIATox-BA), divulgou um comunicado para alertar e orientar aos profissionais de saúde sobre o diagnóstico e tratamento em casos de intoxicação relacionados à droga

A instituição ressalta que as drogas não podem ser detectadas em exames de rotina e pede a notificação de todos os casos. “O diagnóstico clínico de intoxicação aguda por canabinóides sintéticos geralmente é realizado com base na história do uso da droga relatada pelo paciente e nos achados físicos compatíveis. Até o momento, estas drogas não são detectáveis nos exames toxicológicos de rotina”, orienta o centro.

O CIATox-BA reforça que, dentre os efeitos tóxicos dessas substâncias no organismo, já foram relatados episódios de toxicidade cardiovascular, perda de consciência e coma, depressão respiratória, convulsões, hiperêmese, delírio, psicose e comportamento agressivo.

“Os tratamentos variam de acordo com os casos, que podem ser de leves a moderados, com grande agitação e até episódios de psicose, convulsões, rabdomiólise e dor torácica aguda, entre outros. O CIATox-BA alerta que todos os casos suspeitos ou confirmados de intoxicação por drogas de abuso devem ser notificados”.

O centro está disponível 24h, ininterruptamente, para orientação toxicológica pelo telefone 0800 284 4343.

Alguns dos efeitos provocados pelas drogas K, segundo os especialistas:

-Surtos psicóticos e alucinações

-Aumento da ansiedade

-Confusão mental

-Movimentos descoordenados

-Paranoia

-Convulsões

-Infarto agudo do miocárdio

-Psicose

-Depressão

-Pensamento suicida

-Morte

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