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Festival Afrofuturismo fomenta debate sobre reparação econômica

Especialistas em tecnologia, criação de conteúdo e empreendedorismo estão no evento

Por Alex Torres

18/11/2022 - 7:00 h
Casa Vale do Dendê, inaugurada ontem no Pelourinho, é um dos espaços da 4ª edição do Festival Afrofuturismo
Casa Vale do Dendê, inaugurada ontem no Pelourinho, é um dos espaços da 4ª edição do Festival Afrofuturismo -

A 4ª edição do Festival Afrofuturismo começa hoje, com mesas de conversa, debates e palestras no Teatro Gregório de Mattos, Palacete Tira Chapéu, Largo Tereza Batista, além da Casa Vale do Dendê, novo Hub de Inovação do Centro Histórico inaugurado ontem. O evento segue até amanhã, com convidados nacionais e internacionais das áreas de tecnologia, criação de conteúdo e empreendedorismo para discutir assuntos relacionados ao protagonismo negro e sua contribuição para a economia criativa, plataformas digitais, universo das criptomoedas, entre outros temas voltados à tecnologia e inovação.

Com o tema “Por uma abolição econômica”, evento reúne nomes como Kamil Olufowobi, fundador da instituição Most Influential People of African Descent (Mipad, sigla em inglês para “afrodescendentes mais influentes”), a escritora Bárbara Carine (@umaintelectualdiferentona), além de personalidades vinculadas à tecnologia e empreendedorismo como Javonté Anyabwelé, da VP Carnival Cruise, Aaron Mitchel, Netflix, Lula Rodrigues, Escola 42, e a atração musical internacional Mad Professor e a banda Ministério Público.

“É um debate que ainda falta muito. Quando a gente vai debater a questão econômica da comunidade negra é sempre num lugar de carência extrema. Pessoas pretas estão fazendo seu corre a partir de ‘black money’, de um modo de empresariar negro, um modo de existir preto, reproduzindo essa existência negra no negócio”, aponta a professora, escritora e influencer Bárbara Carine.

O chamado “black money”, dinheiro que circula entre pessoas e negócios pretos, é um dos principais pontos para as discussões do evento. De acordo com pesquisa do Sebrae, a proporção de empreendedores pretos e pardos é maior nas regiões Norte e Nordeste, chegando a 84% do total dos donos de negócios no Amazonas e Acre.

“É um evento de importância grandiosa que coloca a agenda negra em um outro lugar de centralidade, num lugar de ativista, de potência tecnológica e empresarial. Nosso histórico é de pioneirismo tecnológico, científico. Nós somos desde antes desse contexto de diáspora escravagista”, diz a escritora.

“O Festival começou com uma ativação que nós fizemos em alguns pontos da cidade anualmente que chamava ‘ocupação afrofuturista’”, lembra Paulo Rogério, um dos idealizadores do evento. “No ano passado, a gente resolveu mudar esse conceito e criar um festival mesmo, calendarizado, anual, que pudesse conectar Salvador através de conexões importantes dessa área de tecnologia, inovação e criatividade”, conta.

Marco

O jargão “fatos portadores de futuro” é frequentemente ouvido em discussões do afrofuturismo e inovação, como explica Paulo Rogério. “Fatos que acontecem hoje que têm dentro deles um caminho para entender o futuro”. O idealizador destaca a importância de discutir temáticas como as do festival no Brasil. “A comunidade afro-brasileira, por conta da realidade de desigualdade e outros problemas sociais, não tem tempo de discutir e planejar esse tipo de futuro. E isso é muito importante, o futuro é construído hoje”.

O objetivo do festival é tornar Salvador referência no assunto. “A cidade precisa de eventos como esse que tragam pessoas influentes e investidores”, acredita Paulo. Para além de trazer ao foco a perspectiva e os trabalhos negros dentro do contexto tecnológico, científico e empresarial, o evento busca reunir pessoas pretas de todo o planeta.

Em edições anteriores, o festival trouxe representantes de países como Cabo Verde, Portugal, Angola e Moçambique, ampliando o número de nações este ano, como Nigéria, Panamá e África do Sul.

Uma das principais referências nesta tarefa de reconexão dos povos negros após a diáspora é o CEO nigeriano Kamil Olufowobi, fundador da Mipad (Most Influential People of African Descent). A partir do conceito da conectologia, o mestre em Assuntos Globais participará, amanhã, da mesa “Como conectar a Diáspora Africana com a Internet?”.

“Conectologia é o estudo de conexões. Quando você começa a ver o mundo pelas lentes da conexão, você começa a desbloquear novas possibilidades”, explica. Kamil relata que um fator observado em seu trabalho é que boa parte dos negros ao redor do mundo não sabem onde estão os outros negros. “Nós não sabemos onde estamos. Então, criar economias negras é um problema pra nós, porque não gastamos em nossos próprios negócios, não apoiamos empreendedores negros”.

“A ideia da conectologia é começar a conectar os pontos para que possamos apoiar negócios negros e começar a construir o que chamamos de economia negra. O movimento global do ‘dinheiro negro’ é uma das chaves que estamos insistindo para desenvolver e apoiar empreendedores negro ao redor do mundo”, completa.

Fundador e participantes destacam ainda a importância da ancestralidade na construção de um futuro afrocentrado. “A nossa lógica de futuro é uma lógica de quem sabe de onde veio. Só quem sabe de onde veio, sabe pra onde vai. Tudo conectado. A gente olha pro passado para que o presente e futuro tenham sentido”, diz Bárbara. “Não é só olhar para trás”, completa Paulo. “Você só pode olhar pra frente se você conhecer seu passado. É aquele pássaro com a cabeça pra trás e os pés pra frente”. A programação completa do evento está no site afrofuturismo.com.br

*Sob a supervisão da editora Meire Oliveira

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