BAHIA
IML de Porto Seguro centraliza serviços mesmo sem estrutura
Por Mário Bittencourt, da Sucursal Eunápolis
Preso entre as ferragens de um veículo, o corpo de Cássio Cunha Maciel, 24, começa a ser molhado pela chuva. São 10h40. Populares, então, resolvem pôr sobre o carro uma lona enquanto o rabecão do Instituto Médico-Legal de Porto Seguro (a 709 km de Salvador) não chega para remover o corpo, o que ocorre por volta das 17h, mas enviado por uma funerária. No entanto, a falta de um médico-legista no IML daquela cidade faz com que o corpo seja levado para o de Eunápolis, a 60 km do local do acidente.
A família de Cássio, que esperava que o rabecão chegasse o mais rápido possível, ficou constrangida e angustiada com a situação, conforme informa a vereadora Carmen Lúcia Gerino Maciel (DEM), tia do rapaz. “Como se não bastasse a nossa dor, tivemos de passar por essa situação”, lamentou.
O acidente que vitimou Cássio ocorreu no dia 6 de março deste ano e, para completar os problemas da família, o IML de Porto Seguro demorou para liberar o laudo cadavérico. “É um absurdo”, diz a vereadora, que preside o Legislativo em Eunápolis.
A família de Cássio não é a única que sofre com esses e outros problemas causados pelo IML de Porto Seguro, como relata o agente da Delegacia Especial dos Direitos Humanos, Luiz Davi Bernardo.
Ele denuncia que parentes de falecidos de outras cidades passam, às vezes, a noite toda à espera do médico-legista – o IML da cidade é responsável por Itabela, Itagimirim, Mascote, Belmonte, Santa Cruz Cabrália, Itapebi, Guaratinga e São João do Paraíso, a mais longe de Porto, com 160 km de distância.
Reclamações – “O corpo, quando chega, tem de ser autopsiado o mais rápido possível para que possa ser velado”, disse Bernardo, informando que, recentemente, cinco corpos ficaram durante todo o dia no IML, porque o médico-legista, só apareceu por volta das 18h. Bernardo diz ainda que quando a geladeira de três gavetas está cheia, os corpos, em estado de putrefação são colocados no fundo do IML, gerando reclamações por parte dos vizinhos por causa do mau cheiro.
Coordenador regional do Departamento de Polícia Técnica (DPT), Reginaldo Cruz reconhece as dificuldades estruturais e de remoção de corpos. “Tem lugar aí que, por causa dos buracos, levamos até duas horas para ir buscar o corpo. E quando o local é muito longe o delegado da cidade autoriza uma funerária a fazer a remoção”, contou.
Sobre o tempo de emissão dos laudos cadavéricos, a média, explica Cruz, é de 15 dias. “Quando demora mais é porque tem algum exame que teve de ser mandado para Salvador. Aí leva de uns 30 a 40 dias”, disse.
Questionado se não seria mais conveniente o IML de Porto dividir os serviços com o de Eunápolis, o diretor estadual dos DPTs do interior, Claudemiro Pires Soares Filho, concordou que seria melhor, mas afirma que “isso não é permitido por lei (não especificou qual)”.
Ele acha que, tecnicamente, seria melhor centralizar o atendimento em Eunápolis. “O que acontece é que em Porto Seguro a estrutura é do Estado. Nós reformamos o prédio e ele está em perfeitas condições. Eu garanto que Porto Seguro tem um dos melhores atendimentos na Bahia”, declarou Filho, negando as acusações de Luiz Davi.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes