BAHIA
Olhar Cidadão: Reprovação alta é entrave para alunos de Pojuca
Por Bruno Luiz Santos e Roberto Aguiar | Fotos: Joá Souza | Ag. A TARDE

O alto índice de reprovação é um entrave para a melhora na qualidade da educação do município de Pojuca, Região Metropolitana de Salvador (RMS). Em 2017, a taxa de retenção, ou seja, de alunos que não conseguiram avançar para outro ano, foi de 17,5% nos anos finais do ensino fundamental. O dado é da plataforma QEdu, que reúne estatísticas sobre educação no Brasil. Segundo a iniciativa, índices acima dos 15% indicam a necessidade de ações “o mais rápido possível”, para evitar que “muitos estudantes fiquem fora da escola”.
O número incide na taxa de abandono escolar encontrada na cidade, também nos últimos anos do Fundamental, de 10,9%. A reprovação elevada, por sua vez, acabou afetando a nota do município no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2017: 3,4 nos anos finais. Criado em 2007, o indicador mede a qualidade do ensino básico e também estabelece metas para sua melhoria. Um dos fatores utilizados para calcular o Ideb é justamente o fluxo escolar, que pode ser resumido como a taxa de aprovação.
Seguindo uma tendência nacional, os últimos anos do Ensino Fundamental são os mais problemáticos para Pojuca. Nos iniciais, o município da RMS atingiu 5,2 no Ideb em 2017, o que superou a meta de 4,7 para aquele ano. Em relação à reprovação, nos primeiros anos, a taxa ficou em 12,9%, o que, segundo a plataforma QEdu, aponta a “necessidade de definir estratégias para conter” o avanço do fenômeno.
Apesar da retenção ainda elevada, Pojuca tem uma trajetória de queda nesses números. Em 2013, por exemplo, a taxa quase chegou a 30%, ficando em 29,4%.
Para a diretora-geral do Instituto Anísio Teixeira, Cybele Amado, múltiplos fatores estão envolvidos no aumento da reprovação na etapa final do Fundamental.
Um deles é o fator socioeconômico na vida do aluno. Quando ele é mais pobre, é mais frequente viver situações em que tenha que se afastar da sala de aula para trabalhar e sustentar a família. “Essa é uma faixa etária que, a depender do contexto socioeconômico, é muito provável que os estudantes sejam mais reprovados ou até abandonem a escola”, explica.
A secretária municipal de Educação, Olívia Silveira, pondera que não se pode comparar o desempenho de anos iniciais e finais porque os contextos são distintos. “O conteúdo nos anos finais é fracionado, há organização distinta de horários, o grau de dificuldade dos conteúdos maior”, enumera.

Outro gargalo nos anos finais é proficiência, que mede a competência do aluno em habilidades em Português e Matemática. Em 2017, 26% dos estudantes da cidade tiveram conhecimento em leitura e interpretação de texto. Quando o assunto é resolução de problemas em Matemática, o percentual cai para 5%.
Cybele Amado avalia que é necessário um melhor diagnóstico das deficiências do aluno na migração dos anos iniciais para os finais, como forma de sanar o problema rapidamente. “Nesses 4 anos finais do fundamental, a gente precisa ter uma colaboração muito produtiva entre professores, coordenadores e diretores para que a gente avance”, aconselha.
Ações
O Colégio Municipal Castelo Branco é onde se sentem os reflexos dos problemas que Pojuca vive na etapa final do Ensino Fundamental. Seu Ideb de 3,3 é o pior da rede municipal. O corpo docente avalia que o fato de a unidade concentrar 60% dos alunos do 6º ao 9º ano de todo o município - há apenas mais duas escolas voltadas a esse público escolar na cidade - prejudica o desempenho. A avaliação é corroborada pela secretária de Educação.
“É um modelo da década de 60. É preciso espalhar esses alunos para que eles possam se matricular em escolas mais próximas dos seus bairros. Essa é uma forma mais contemporânea de desenho educacional”, defende. De acordo com ela, a prefeitura trabalha no projeto de construção de uma nova escola para os anos finais, que deve abrigar cerca de 300 alunos.
Também no rol de ações para melhorar a qualidade da educação municipal, a secretaria criou o programa “Ação de Educar” para reduzir o atraso escolar. A prefeitura também aderiu ao projeto do governo do Estado “Tempo Juvenil”, voltado para alunos entre 15 e 17 anos que ainda não concluíram o ensino fundamental.
Para melhorar os números do Ideb, a secretaria municipal aderiu ao programa “Iniciativa 90”, parte do Plano de Ações Articuladas (PAR) do Ministério da Educação (MEC), que faz preparação dos estudantes com material didático específico para a Prova Brasil. “Tento trazer formas inovadoras, baseadas no dia a dia deles, para facilitar a assimilação dos conhecimentos”, conta a professora de Matemática Miriam Santos, do Colégio Municipal Castelo Branco.
Para Bruno da Paixão, 15, aluno do 9º ano, a iniciativa é um reforço na preparação dos estudantes para o exame. “Confesso que estou um pouco nervoso, mas me sinto preparado”, afirma.
Escola de bairro periférico tem a maior nota do ideb nos anos iniciais
Localizada no Central, bairro periférico de Pojuca, a Escola Municipal João da Costa Libório tem a maior nota do Ideb entre as escolas dos anos iniciais (1º a 5 ano do ensino fundamental): 6,1.
Uma escola pequena, que não conta com biblioteca, nem auditório, muito menos com laboratório de informática, mas “tem o diferencial de ter construído um projeto político pedagógico (PPP) de maneira coletiva, com a participação de toda a comunidade escolar, incluindo os pais”, acredita Mauricélia Bispo Silva, coordenadora pedagógica da instituição.

O PPP é o guia de todos os planejamentos e ações desenvolvidas na escola, explica a diretora Rozilda Brito. Entre tais ações inclui-se a Prova Brasil.
“Não fazemos um treinamento específico para alcançar a nota do Ideb. Não acreditamos que esse deve ser o foco da escola. Pensamos a formação do aluno como um todo, como um processo contínuo de desenvolvimento de suas habilidade e capacidades. A nota do Ideb é apenas o resultado de trabalho que desenvolvemos”, ressalta.
Contexto social
Outro diferencial do PPP é o diagnóstico do contexto social no qual os alunos da escola estão inseridos. Além das crianças do bairro Central e adjacências, 22% dos 180 estudantes matriculados são da zona rural.
“Temos um público diverso. Nossos alunos são de comunidades pobres da zona urbana e da zona rural. Alguns deles são filhos de trabalhadores do lixão. Essa realidade tem que ser levada em consideração em nossas ações pedagógicas”, destaca Mauricélia Silva.

“Para cada dificuldade que o aluno encontra, buscamos a solução adequada. Em uma escola pequena como a nossa, podemos fazer esse trabalho individual de cada aluno. Isso é fundamental”, completa.
A direção da escola informou que se o aluno falta por dois dias seguidos, os pais são procurados para saber o motivo da ausência. A cada dois meses é realizada uma avaliação das atividades desenvolvidas em sala de aula, o que ajuda a direcionar os planos de aula. Os alunos com dificuldades no processo de aprendizagem são direcionados ao programa Reforço Paralelo, realizado no turno oposto, e, quando necessário, são encaminhados ao Núcleo de Atendimento Inclusivo, que desenvolve atividades psicopedagógicas.
Problemas
Mas nem tudo são flores. A escola não dispõe de um parque para as crianças do ensino infantil. As atividades físicas são realizadas na quadra esportiva do bairro, localizada em uma área afastada do colégio, já que a instituição não possui uma área interna adequada. Biblioteca e laboratórios, equipamententos importantes para um melhor desenvolvimento do processo ensino/aprendizagem, também não existem.
A Secretaria de Educação informou, que desde 2018, a prefeitura tem aplicado um plano de revitalizações de todas as escolas municipais.
Transporte escolar atende 1,8 mil alunos
Mil oitocentos e três alunos da rede municipal são transportados todos os dias na cidade de Pojuca. O sistema de transporte escolar do município é misto, isto é, o serviço é executado em veículos próprios da prefeitura e da empresa vencedora do processo licitatório.

Além dos alunos da rede municipal, são transportados 577 estudantes da rede estadual de ensino; 112 do Colégio Técnico Fundação José Carvalho; e 415 alunos dos ensinos técnico e superior que estudam em Alagoinhas e Salvador.
De acordo com a secretária municipal de Educação, Olívia Silveira, 95 localidades são atendidas pelo sistema de transporte escolar.
“A prefeitura tem 10 ônibus próprios adquiridos pelo programa Caminhos da Escola, do governo federal. São utilizados outros 28 ônibus, 12 micro-ônibus, 8 vans e 5 kombi que pertencem à empresa vencedora da licitação”, informou.
Em pelo menos dois municípios visitados pela equipe Olhar Cidadão, o transporte escolar apresenta problemas: Pilão Arcado e Vitória da Conquista. No primeiro, os estudantes são transportados em condições inadequadas. Já em Conquista, alunos ficaram sem aulas por problemas no processo licitatório.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes