BAHIA
Pandemia impõe mais desafios na rotina de pessoas com deficiência
Por Thiago Conceição
![Foto: Raphael Muller | Ag. A TARDE](https://cdn.atarde.com.br/img/2020/08/1200x720/pandemia-deficiencia_2020816131824317-ScaleDownProportional.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.atarde.com.br%2Fimg%2F2020%2F08%2Fpandemia-deficiencia_2020816131824317.jpg%3Fxid%3D4540149%26resize%3D1000%252C500%26t%3D1738793154&xid=4540149)
Atividades corriqueiras, como sair ou fazer compras, estão mais trabalhosas com abertura gradual dos setores econômicos no estado, pois é preciso respeitar o distanciamento físico, o uso de máscaras e todas as regras de prevenção. E para as pessoas com deficiência, que já enfrentam desafios no acesso a direitos básicos, como locomoção e saúde, as consequências das mudanças estão intensificadas.
Na Bahia, cerca de 70%dos municípios têm mais de 23,9% da população com algum tipo de deficiência, segundo o último levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010.
Ainda segundo o levantamento, em Salvador, cerca de 700 mil pessoas têm algum tipo de necessidade especial, o que corresponde a 26% da população da capital.
Por causa da vulnerabilidade e risco de contágio pelo novo coronavírus, o garoto Marcos, 12 anos, que tem um grau de comprometimento das funções cognitivas e motoras, passa a maior parte do tempo em isolamento domiciliar, no bairro de São Caetano.
Desde março, por consequência da pandemia, ele está com as sessões de fisioterapia suspensas, atividades essenciais para o seu desenvolvimento.
Nas vezes em que o garoto precisa sair para a realização de exames ou procedimentos de saúde, a mãe, Joseleide Patrocínio, 40 anos, enfrenta o medo da pandemia e o desafio da locomoção até espaços com o Centro de Prevenção e Reabilitação de Deficiências (Cepred), no Parque Bela Vista. Joseleide também é mãe da pequena Manoela, 3 anos.
"Quando é necessário sair, tenho que pegar Marcos nos braços para colocá-lo na cadeira de rodas adaptada. Como existe uma ladeira no caminho de casa, faço um esforço para subir com o meu filho, pois a cadeira pesa. Desde o ano passado, consigo levá-lo para os locais de carro, mas já precisei de muita força para subir com Marcos nos ônibus da cidade. A locomoção sempre foi um desafio, que agora é seguido pelo medo da Covid-19", diz Joseleide.
De acordo com a diretora do Cepred, Normélia Quinto, o centro está em fase de readequação para a reabertura em tempo de pandemia. "Estamos realizando estudos para a reabertura segura. Enquanto isso, estamos sem o atendimento presencial, realizando a assistência para os pacientes por vídeochamada. Nossa equipe atende pacientes com deficiências auditivas, físicas, visuais", afirma.
Antes do isolamento domiciliar gerado pela pandemia, o garoto Marcos também realizava a equoterapia, método terapêutico que utiliza o cavalo para a realização de atividades que buscam o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiências.
A equoterapia é a principal abordagem de assistência multidisciplinar feita pela Associação Bahiana de Equoterapia (Abae), que oferece a alternativa para 131 crianças e adolescentes.
"A Abae nasceu da necessidade de assistência para o meu filho, o Yuri, que nasceu com paralisia cerebral e ficou com certo grau de limitação motora. Por causa da pandemia, nossas atividades, realizadas nas sedes de Itapuã e do Cabula, com o apoio da Polícia Militar e do 19º Batalhão do Exército Brasileiro, estão suspensas", conta Maria Cristina Brito, presidente da Abae.
![Imagem ilustrativa da imagem Pandemia impõe mais desafios na rotina de pessoas com deficiência](https://cdn.atarde.com.br/img/2020/08/724x0/pandemia-deficiencia_2020816132654584-1.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.atarde.com.br%2Fimg%2F2020%2F08%2Fpandemia-deficiencia_2020816132654584.jpg%3Fxid%3D4540151&xid=4540151)
Com o amor e o apoio da família, Yuri, hoje com 39 anos, conseguiu concluir o curso superior de propaganda, em 2008, sendo o orador da turma.
"Tendo minha mãe, meu pai, meu irmão e família como os principais responsáveis pela minha recuperação e desenvolvimento, vejo que cada família assistida na Abae tem a esperança de ver a mesma evolução no seu “Yuri”, conta Yuri. Em casa, Yuri tem mantido uma rotina de exercícios na esteira elétrica e bicicleta ergométrica. De acordo com Juliana Portela, titular da Secretária de Promoção Social e Combate à Pobreza (Sempre), iniciativas como a da Abae, feita em parceria com a pasta, estão associadas com outras ações de assistência para as pessoas com deficiência.
"Desde o início da pandemia de Covid-19, a Prefeitura, através da Sempre, adotou um conjunto de medidas para proteger as pessoas com deficiência”, diz Juliana.
Segundo ela, já foram distribuídas 13.557 cestas básicas a crianças com microcefalia e alunos da rede municipal com deficiência. Houve, ainda, flexibilização do uso de máscaras por pessoas com autismo, diante da reatividade sensorial com os objetos.
Unidade em Coutos volta a atender pessoalmente
No Centro Especializado de Reabilitação (CER), localizadonoSubúrbio360, em Coutos, as pessoas com deficiência física e intelectual já voltaram a ter atendimento presencial. No entanto, por segurança, a unidade opera com 30% da capacidade. Desde de março, a assistência do CER estava sendo feita por teleatendimento.
Os teleatendimentos também estão sendo usados nas Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apaes) da Bahia. "Como o deslocamento em momento de pandemia é arriscado, nossas atividades estão remotas, através de oficinas digitais. Algumas atividades de reabilitação voltaram, mas o movimento é baixo e as pessoas estão com certo receio", conta Márcia Rocha, gestora de assistência social da Apae.
Para Heliana Diniz, presidente do Instituto de Cegos da Bahia, o momento é de gradual retomada das atividades de assistência e redução dos danos causados pelas medidas restritivas de combate ao coronavírus. "Estamos funcionando com 10% dos 9mil atendimentos mensais que eram feitos antes do fechamento, há quase cinco meses. E quando você atrasa um tratamento, você atrasa o progresso do paciente. Em casos mais graves, a falta de acompanhamento pode levar a cegueira", diz Diniz.
Fechada
Apesar da gradual retomada das atividades de instituições na capital, na Associação Baiana dos Deficientes Físicos (Abadef), localizada no Centro, as portas seguem fechadas. “A sede vai permanecer fechada. Temos que respeitar os riscos da pandemia. Só vamos retomar quando houver vacina ou momento de maior segurança”, afirma Luiza Câmera, presidente da entidade.
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