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01/10/2023 às 8:07 • Atualizada em 30/11/2023 às 16:54 | Autor: Priscila Dórea

"OURO NEGRO"

Petrobras completa 70 anos, em história de forte ligação com a Bahia

O óleo foi encontrado pela primeira vez no País em 1939, no bairro do Lobato, na capital baiana

Empresa possui atualmente 56 plataformas 
de produção
Empresa possui atualmente 56 plataformas de produção -

“O entusiasmo era geral quando a Petrobras foi criada. Lembro que eu não havia completado nem 20 anos ainda quando comecei a trabalhar lá, assim como outros colegas, e a gente estava ali porque realmente acreditava naquela empresa, na prosperidade que ela iria trazer não apenas para nós e nossas famílias, mas para todo o Brasil. E foi isso que ela fez”, conta o petroleiro aposentado de 84 anos, Francisco Ramos, o Chicão, que entrou na Petrobras em 1957, quatro anos após a empresa ser fundada.

A Petrobras irá completar 70 anos depois de amanhã, e sua ligação com a Bahia foi, por muito tempo, sinônimo de prosperidade. Criada em um contexto de desenvolvimento da indústria brasileira, ela foi pioneira na exploração de petróleo no Brasil após a substância ser encontrada pela primeira vez no país em 1939 no bairro do Lobato, em Salvador. O primeiro economicamente viável foi achado pouco depois, em 1941, no município de Candeias (Recôncavo Baiano), e foi em 1950 que a primeira refinaria do País, a Landulfo Alves, foi criada na cidade vizinha, São Francisco do Conde.

“O surgimento dessa nova riqueza incentivou, em 1953, a oficialização do monopólio estatal sobre a atividade petrolífera e a criação da empresa estatal Petróleo Brasileiro S.A., a Petrobras, fazendo com que até 1965, a Bahia fosse o único estado nacional a produzir petróleo. O monopólio e a criação da estatal vieram juntos com a forte campanha popular Petróleo é Nosso, que teve muita força em todo o Brasil, e principalmente na Bahia”, explica o coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar.

Imagem ilustrativa da imagem Petrobras completa 70 anos, em história de forte ligação com a Bahia
| Foto: Editoria de arte | A TARDE

A descoberta do petróleo foi tão forte no Brasil, que isso se manifestou até mesmo em meio à população. Não apenas na Bahia, mas em nível nacional. “Surgiu um sentimento de pertencimento, de o ouro negro ser nosso, da nação. Porém, não era qualquer um que poderia explorar, então o governo se viu na obrigação de criar a Lei 2004, que estabelece o monopólio e então a Petrobras é criada. Essa manifestação popular é um marco forte nosso, povo baiano e brasileiro, que quis se tornar pertencente disso”, explica a geóloga do Museu Geológico da Bahia (MGB), Elizandra Pinheiro, que foi parte da equipe que criou a Sala do Petróleo do MGB.

Altos e baixos

Desde a sua fundação, a empresa passou por altos e baixos, indo desde a descoberta do pré-sal em 2007, que colocou o Brasil entre os países com as maiores reservas de petróleo do mundo, até sua inclusão nas investigações da Operação Lava Jato. Durante os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, o investimento da empresa caiu cerca de três vezes, não passando de R$ 50 bilhões ao ano, segundo o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).

“O encolhimento da Petrobras foi acompanhado por redução brutal do efetivo de trabalhadores da empresa e instabilidades no sistema de governança da companhia. Agora, conforme anunciado pelo presidente Lula, a Petrobras terá 47 projetos incluídos no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado em agosto. Os investimentos da empresa no PAC 2023 somam R$ 323 bilhões, contribuindo para o crescimento do País”, explica Deyvid Bacelar, que ainda ressalta que a empresa vem se recuperando e fortalecendo, de olho também na transição energética – em meados de setembro, inclusive, lançou a primeira gasolina carbono neutro do mercado brasileiro.

Campo de Fazenda Panelas na Unidade de Operações em Catu
Campo de Fazenda Panelas na Unidade de Operações em Catu | Foto: Luis Benedito / Ag. Petrobras

“No início de tudo, o trabalho e a tecnologia não eram como hoje. Levávamos equipamentos nas costas e abríamos caminhos pelo mato. Vários desses caminhos, inclusive, são estradas reais hoje. Acreditamos muito naquilo que estávamos fazendo e por isso hoje nos mantemos firmes defendendo os petroleiros e a Petrobras”, salienta Chicão, que também faz parte do Sindicato dos Petroleiros e Petroleiras da Bahia (Sindipetro Bahia).

Atualmente, com 11 refinarias e 56 plataformas em produção, a Petrobras possui 5.042 poços produtores de óleo e gás, que produzem 2,64 milhões de barris de óleo equivalente por dia e possui uma reserva provada de 10.470 bilhões de barris de óleo equivalente (boe), além de produzir 1 milhão e 743 mil barris de derivados por dia. Os investimentos na empresa estatal ultrapassam os US$ 9 bilhões, e ela possui uma receita de venda que passa dos R$ 600 bilhões, e um lucro líquido de mais de R$ 180 bilhões. Hoje, de acordo com informações no site da empresa, ela possui 37.189 funcionários.

A indústria do petróleo trata de insumos estratégicos, aponta o petroleiro e diretor do Sindipetro Bahia, Radiovaldo Costa. Logo, estamos falando de um produto de que a economia mundial depende, e vai muito além do gás de cozinha e do combustível. “O petróleo está praticamente em toda a cadeia produtiva, por isso a importância de haver esse controle do estado e essa necessidade de defender a Petrobras da privatização. Isso é defender o Brasil. O petróleo é a locomotiva da economia nacional”, enfatiza.

E fazer parte de uma empresa com esse potencial permanece sendo um motivo de orgulho, afirma a técnica em química de petróleo na Petrobras Transporte, e coordenadora do Sindipetro Bahia, Elizabete de Jesus Sacramento. “Fazemos parte de uma grande empresa com tarefas diversas, mas o meu maior orgulho é saber que estou numa empresa que tem o potencial de alavancar a economia nacional, gerar emprego e renda, de forma direta e indireta, em diversos estados, e contribuir com o bem social promovendo derivados essenciais à dignidade humana a preços justos”, explica.

Museu Geológico estadual abriga a Sala do Petróleo

“Falar da importância desta sala para o estado, para o Brasil e para mim é muito emocionante. Primeiro, porque participei do projeto de elaboração da sala e da idealização presente nela. Entrei como estagiária e esse foi meu primeiro projeto e estágio. Então é muito emocionante falar sobre isso, é como reviver um passado”, afirma a geóloga do Museu Geológico da Bahia (MGB), Elizandra Pinheiro dos Reis.

Vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) do estado da Bahia, o MGB possui a chamada Sala do Petróleo, espaço financiado pela Petrobras, que também fornece apoio técnico. Com um rico acervo, a sala nos transporta para o mundo do ouro negro, contando desde a origem do petróleo, a presença dele no Brasil e sua ligação com a Bahia, até a empresa como ela é atualmente, suas bases e derivados produzidos.

Sala do Petróleo no museu Geológico da Bahia
Sala do Petróleo no museu Geológico da Bahia | Foto: Shirley Stolze | Ag. A TARDE

A pesquisa para a criação da sala foi intensa e extensa, e Elizabete afirma se emocionar toda vez que lembra de todo o processo onde ela, inclusive, chegou a visitar uma plataforma da Petrobras. Mas um dos episódios da criação da sala que mais emociona Elizabete foi o encontro da equipe com Eugênio Antonelli, o funcionário de crachá número 1 da Petrobras. “Ele falou da entrada no Recôncavo Baiano e em como a Petrobras que existe hoje foi construída pelos petroleiros que naquela época simplesmente abraçaram a empresa”, relata.

Personagens da época

A exposição ainda conta com amostras de petróleo e seus derivados – inclusive amostras do poço do Lobato –, e itens de personagens da época dessa descoberta, como Manoel Ignácio Bastos que recolheu a primeira amostra no Lobato e Oscar Carneiro, que trouxe a sonda para constatar que a substância havia sido encontrada em solo soteropolitano. “É muito gratificante, profissional e pessoalmente, saber que fiz parte da construção desse espaço e continuo transmitindo este conhecimento para milhares de estudantes e visitantes de várias localidades do mundo”, afirma a geóloga

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