BAHIA
Vítimas do chumbo em Santo Amaro fazem manifestação e pedem indenização
Por Alean Rodrigues | Sucursal Feira de Santana
Com o intuito de sensibilizar as autoridades e a sociedade para o tratamento dispensado aos trabalhadores que foram contaminados pelo chumbo, a Associação das Vítimas da Contaminação por Chumbo e Cádmio (Avicca) realizou, na manhã deste sábado, 28, uma manifestação pelas ruas do município de Santo Amaro da Purificação (a 71 km de Salvador).
O protesto contou com a presença das viúvas de funcionários e ex-trabalhadores da fábrica de chumbo Cobrac, responsável pela contaminação do ambiente e de causar problemas de saúde e morte por causa da emissão de resíduos de chumbo em várias pessoas na cidade.
“Muitos aqui nunca receberam um centavo de indenização. Estamos lutando na justiça, mas o valor que eles querem pagar é de R$ 2.200 para cada funcionário e R$ 500 para cada viúvas, o que é um absurdo, pois estas pessoas deram a vida para trabalhar lá e não podem recebem essa mixaria como indenização”, revelou o presidenta da Avicca, Adailson Pereira.
A fábrica iniciou suas atividades em 1960 e fechou em 1993, tendo acumulado cerca de 3 mil funcionários rotativamente. No fechamento, ocorrido em 31 de dezembro de 1993, foram demitidos 250 trabalhadores sem direito a rescisão e muitos constando na carteira de trabalho a informação de que estavam contaminados, o que prejudicou a procura por novos empregos.
Desabafo – “Trabalhei lá durante um ano e sete meses e não recebi nada de indenização. E ninguém me dá emprego porque sabem que estou contaminado pelo chumbo. Sobrevivo da renda da minha esposa e de bicos que faço quando não estou com dores por todo o corpo”, disse Raimundo de Jesus, 40 anos.
A dona de casa Ely Costa Rego é uma das "viúvas do chumbo", como são conhecidas na cidade as mulheres que perderam seus maridos. Ela revela que o companheiro trabalhou como contador por 25 anos na Cobrac e adquiriu um câncer generalizado, deixando-o na cama por mais de cinco anos.
O filho mais novo do casal, de 38 anos, também foi infectado, já que tinha contato com o pai e hoje está quase sem movimentos nas pernas por causa da contaminação. “Não tivemos atenção nenhuma da empresa. Graças a meus filhos que ele [o marido] resistiu cinco anos, mas até agora não tive nenhuma indenização”, afirma.
INSS – O presidente da Avicca, Adailson Pereira, explica que, como o INSS não reconhece a contaminação por chumbo e elementos químicos como doença ocupacional, a maioria dos trabalhadores não consegue passar pela perícia e adquirir o benefício.
“Quando conseguem o benefício é temporário. Muitos ex-trabalhadores hoje são mendigos e sobrevivem do que catam no lixo. Como as autoridades podem fazer vistas grossas para esta realidade?”, questiona.
Ele informou que na Assembleia Legislativa tem um Projeto de Lei em tramitação há três anos para garantir indenização por parte do Estado às vitimas e seus familiares, mas até o momento o projeto não entrou na pauta de votação.
“Eles querem é esquecer que o projeto existe e nós estamos lutando a cada dia pela nossa saúde e sobrevivência”, completou.
A TARDE tentou falar com os responsáveis pela fábrica Cobrac, mas ninguém foi localizado para dar declarações sobre o assunto.
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