BRASIL
Dia do Abraço: entenda a importância do gesto para as crianças
Por Gisele Souza*

Abraçar parece ser um termo antigo e pouco citado em tempos de pandemia. O contato físico entre as pessoas, uma marca diferencial dos brasileiros, teve de ser reduzido - e até mesmo evitado - para diminuir a propagação do vírus. No entanto, essa demonstração de carinho é um ato considerado importante e recorrente, principalmente para as crianças, que já nascem em uma cultura marcada pelo afeto.
No Dia Nacional do Abraço, comemorado neste sábado, 22, o psicanalista Luiz Mena explica a importância do gesto para as crianças. Segundo ele, a saudação tem o poder de comunicar e expressar sentimento sem o uso das palavras. “Um abraço é importante para uma criança, pois ela tem sua existência no mundo muito pautada pelo corpo e, à medida que vai crescendo e desenvolvendo outras ferramentas de interação, precisa menos do corpo para transmitir o que quer ao outro”, explica ao Portal A TARDE.
O profissional enfatiza que as crianças estão recebendo os abraços dos familiares, mas elas sentem falta de outros pequenos para a convivência e troca de afeto. “Acho que os filhos únicos sofreram muito com a pandemia, exatamente por não poderem conviver com outras crianças”, diz.
A pandemia trouxe uma mudança radical nas relações entre os seres humanos, sejam crianças, adolescentes, adultos ou idosos. Na visão do psicanalista, o distanciamento físico assume diferentes contornos, com destaque para dois: “a dificuldade de falar/conviver com o outro e a de tocar o outro”, explica o especialista. Ele acrescenta que o distanciamento social imposto pela situação emergencial implica, além da falta do contato físico, na ausência da interação ou relação.
O profissional acredita que os adolescentes podem estar sentindo mais falta do abraço do que as próprias crianças, uma vez que há uma ausência ou diminuição da interação social física neste momento. “Estão exatamente na fase de interações corpo a corpo com os outros adolescentes, no início dos jogos de flerte e sedução, onde o corpo joga um papel muito importante, assume outro valor perante os olhos dos outros. Não exercitar essa mudança pode ser bastante prejudicial aos adolescentes de hoje”, diz.
Benefícios
Uma pesquisa da Universidade Médica de Viena, na Áustria, realizada em 2013, concluiu que o abraço faz bem tanto para a saúde física como mental, sendo não apenas um gesto de carinho. Dentre os benefícios, podem ser elencados a redução da pressão arterial, do estresse, da ansiedade e do medo, além da melhoria da memória.
Os mesmos efeitos positivos, e até mesmo da proteção contra a depressão, tambpem foram comprovados por Sheldon Cohen, professor de psicologia da Carnegie Mellon University, nos Estados Unidos, em estudo publicado em 2014.
Pós-pandemia
Que a pandemia trouxe mudanças significativas nas interações sociais é fato. Mas o que preocupa muitos indivíduos é quais alterações podem ser percebidas em um contexto pós-pandemia. O psicanalista alerta que pessoas de todas as idades vão se relacionar com menos abraços.
“Aquela afetividade brasileira, que sempre nos diferenciou inclusive dos europeus de maneira geral, e que tinha no abraço e no beijo fácil uma marca registrada, irá se modificar”, cita, mas reforçando que isso não significaria menos afeto.
Retorno das aulas presenciais
Com muitas aulas retornando de maneira semipresencial ou até mesmo presencial, a maioria das crianças - mesmo que involuntariamente - acaba recorrendo ao abraço no reencontro com os colegas, por terem passado muito tempo seu contato físico.
A professora da Educação Infantil Virgínia Olímpio, que trabalha com crianças de três anos, comenta que foi preciso realizar um trabalho com os alunos durante o ensino remoto para esclarecer, de maneira lúdica, os protocolos sanitários que precisam ser seguidos.
“Durante o ensino remoto, relatamos, através de vídeos educativos, que não podemos abraçar, beijar, tocar. Porém, acredito que uma criança de 3 anos, mesmo diante de toda a conversa, espontaneamente vai descumprir os protocolos”, acredita.
“Nossa cultura é de abraço, de muito contato físico. O abraço é um ato de demonstração constante para as crianças, que transmite segurança, favorece o desenvolvimento emocional. O abraço demostra que ela não está sozinha, que pode contar com alguém, e isso acontece em sala de aula, tanto com a professora quanto com os coleguinhas”, afirma.
Tendo em vista a importância e o hábito do abraço para os pequenos, em especial como demonstração dos sentimentos, a professora salienta que não há como saber se todos vão conseguir cumprir as medidas orientadas, para evitar a infecção pela Covid-19. “Às vezes, o que conversamos não é cumprido devido ao seu movimento, por seus atos involuntários, por ser criança”.
Nesse retorno das atividades letivas, a maior dificuldade para as crianças seguirem as recomendações das autoridades sanitárias não está somente nos abraços, mas em todas as formas de afeto. Contudo, o psicanalista Luiz Mena explica que, a partir dos relatos que tem presenciado em consultório, as crianças e adolescentes “podem até nos ajudar nessa transição, construindo novas possibilidades de interação e afeto”, relata.
*Sob supervisão da editora Thaís Seixas
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