QUEBRANDO BARREIRAS
Marinha avança na inclusão de mulheres como Soldados Fuzileiros Navais
Concurso encerra as inscrições nesta quinta-feira, 2, com quase 6.300 mulheres inscritas
Por Isabela Cardoso
Pela primeira vez, a Marinha do Brasil abriu uma seleção para mulheres se tornarem Soldados Fuzileiros Navais. O concurso encerra as inscrições nesta quinta-feira, 2, com quase 6.300 mulheres inscritas, de acordo com o órgão. Ao todo, são 1.080 vagas para exercer o cargo em 2024, sendo 96 para o sexo feminino, todas para unidades militares no Rio de Janeiro.
A medida é um importante passo em direção à igualdade de gênero nas Forças Armadas que, até então, só permitiam a participação de homens em algumas das carreiras. Antes da mudança, as mulheres já eram aceitas em outras áreas da Marinha do Brasil, como a Aviação Naval e a Intendência, mas ainda não tinham permissão para atuar como Fuzileiros Navais, uma das tropas mais respeitadas do país.
Segundo a Marinha, o órgão foi pioneiro no ingresso das mulheres em suas fileiras com a criação do Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha (CAFRM) em 1980, decorrente da reestruturação de Corpos e Quadros. A instituição prosseguiu e ampliou com os avanços no reconhecimento das mulheres na Força Naval, com a participação das mulheres no meio operativo para compor os Corpos da Armada e de Fuzileiros Navais, a partir da Escola Naval.
Ainda segundo o órgão, a trajetória foi ampliada com a promoção da primeira brasileira ao posto de Oficial General das Forças Armadas em 2012, a Contra-Almirante (MD) Dalva Maria Carvalho Mendes. Em 2018, esse caminho foi ratificado com a inclusão de mais uma militar no círculo de Oficiais Generais: a Contra-Almirante (EN) Luciana Mascarenhas da Costa Marroni.
O cargo
“O Corpo de Fuzileiros Navais é uma espécie de Infantaria da Marinha embarcada, que realiza operações anfíbias (do mar para terra) e proporciona a segurança das instalações navais terrestres. É uma parcela da Marinha do Brasil que está habilitada a participar de missões de paz afetas à Organização das Nações Unidas (ONU)”, explica o Capitão de Fragata Bruno La Marca, chefe do Departamento de Recrutamento e Seleção do Comando do Pessoal de Fuzileiros Navais.
O processo seletivo para o cargo de Soldado Fuzileiro Naval é dividido em duas etapas. A primeira consiste em provas de português e matemática. Os aprovados, depois, passarão por verificação de dados pessoais e de documentos, avaliação psicológica, inspeção de saúde e teste de aptidão física de ingresso.
É uma forma de ingresso como graduação (Praça), sendo necessário ter apenas o nível médio completo. Ao passar no processo seletivo, a candidata fará o Curso de Formação no Centro de Instrução Almirante Milcíades Portela Alves (CIAMPA), na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e depois ingressará como Aprendiz de Fuzileiro Naval. Após esse período de estudo, ao se formar, ela se torna Soldado Fuzileiro Naval.
Para Bruno, a inclusão de mulheres no Corpo de Fuzileiros Navais completa o processo gradual e contínuo de inserção feminina nos Corpos e Quadros da Marinha do Brasil (MB). Começando em 2014, como parte do processo de atualização e aprimoramento da administração da Força Naval, o setor admitiu a primeira turma de aspirantes femininas da Escola Naval.
“Outra significativa mudança estrutural foi trazida pela Lei nº 13.541, de 18 de dezembro de 2017, que concedeu a oportunidade das mulheres exercerem atividades para a aplicação efetiva do Poder Naval, com o ingresso, na Escola Naval, no Corpo da Armada (CA) e no Corpo de Fuzileiros Navais (CFN)”, disse.
Além disso, o oficial também destacou que, neste ano, as mulheres também entraram nas Escolas de Aprendizes-Marinheiros, como integrantes do Corpo de Praças da Armada (CPA). Para completar a inserção, a partir de 2024 as mulheres poderão ingressar nos Centros de Formação de Soldado Fuzileiro Naval.
“As mulheres contribuem, sobremaneira, para o cumprimento das mais variadas tarefas da nossa Força, com maior eficiência e eficácia, corroborando sua importância ao longo da história”, completou o chefe de departamento.
A Capitã-Tenente (AFN) Débora Ferreira foi a primeira mulher a ingressar no Corpo da Marinha como combatente. A oficial contou que entrou em 2004 como Sargento Músico Fuzileiro Naval e chegou ao oficialato 11 anos depois.
"A Marinha oferece caminhos para o crescimento profissional dentro da Força, o que me incentivou a realizar um curso universitário, permitindo que eu estivesse apta a realizar o concurso para o quadro de Oficiais Auxiliares do CFN. Foi dessa forma que uma mulher, pela primeira vez, realizou o Curso de Especialização em Guerra Anfíbia, tornando-me habilitada a combater na linha de frente no ano de 2016", explicou a CT.
A CT Débora destacou também que, durante esses últimos anos no Corpo da Marinha, exerceu funções como Comandante do Pelotão de Comunicações; Oficial de Pessoal; Imediato do Corpo de alunos, até chegar na função atual de Comandante de Bateria no Batalhão de Artilharia de Fuzileiros Navais.
Segundo a oficial, não há problemas na rotina diária com a tropa masculina da Marinha. "Sinto-me privilegiada por estar representando as mulheres neste setor ainda com tão pouca participação feminina, mas que está em expansão. Todos me tratam com respeito e com muita naturalidade", concluiu.
Outra mulher que se destacou no órgão foi a Guarda Marinha Maria Helena, a primeira mulher aspirante a Fuzileiro Naval. Ela comentou que estudou por dois anos para ingressar na Escola, antes de ter a idade determinada para fazer a prova.
"Ao ingressar na Escola Naval, também foi necessário bastante esforço, principalmente na parte acadêmica, mas também em avaliações físicas e de Oficialato, para obter uma boa antiguidade, pois através dela é que se escolhe ou o Corpo da Armada, ou o Corpo de Fuzileiros Navais ou o Corpo de Intendentes da Marinha. Tudo isso é para tornar possível o ingresso no Corpo de Fuzileiros Navais", explicou a GM Maria Helena.
As Forças Armadas são organizadas por postos (Oficiais) e graduações (Praças). A GM Maria Helena fez a formação da Escola Naval, equivalente ao nível superior, assim optando entrar para o posto da Fuzilaria Naval e se tornando a primeira e única aspirante mulher no Corpo.
De acordo com a oficial Maria Helena, ela saiu da Escola Naval no ano de 2022 e ainda está em formação. Nesse período, a GM observou que ainda existem desafios para as mulheres no militarismo da mesma forma que acontece no meio civil.
"São situações muito variáveis e individuais. O CFN é muito unido, e independente de ser homem ou mulher, sempre buscamos auxiliar uns aos outros em tudo", completou Maria Helena.
A inclusão de mulheres no Corpo de Fuzileiros Navais também poderá melhorar a qualidade e a eficiência das operações militares, entendendo que a diversidade de perspectivas e habilidades é essencial para o desenvolvimento da tropa. A Marinha afirma que está trabalhando para aumentar a participação feminina em suas fileiras.
“A inclusão de mulheres como Soldados Fuzileiros Navais é uma mudança significativa, permitindo que as mulheres exerçam seu direito de escolha e sejam parte de uma profissão respeitada e desafiadora”, diz o órgão.
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