Menu
Pesquisa
Pesquisa
Busca interna do iBahia
HOME > CADERNO 2
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email

CADERNO 2

A arte salva

Cantora e compositora carioca Joyce Moreno, um dos expoentes da Bossa Nova, lança o disco Brasileiras Canções

Por Daniel Farias

22/08/2022 - 6:00 h
Imagem ilustrativa da imagem A arte salva
-

Na fase mais difícil de isolamento social por conta da pandemia, a cantora e compositora Joyce Moreno teve a criação musical como uma reserva de força. “Fiz para mais de 40 músicas. Acabou sendo um período muito fértil de criação”, conta. Desse conjunto, ela selecionou 12 para integrar o seu novo álbum, Brasileiras Canções, gravado no primeiro semestre e lançado neste mês de agosto pela Biscoito Fino.

"Como tinha feito mais de 40, tive que penar um pouco para escolher. Eu gosto que as canções tenham alguma coisa em comum. Eu sou antiga nesse ponto, penso em termos de LP, de disco, não tenho pensamento imediatista do streaming, do Tik Tok”, diz Joyce.

Trata-se do 42º álbum de Joyce, com músicas que passeiam por samba-jazz, samba, bossa nova, chorinho e letras que abordam temas fundamentais, como a vida e a morte, o amor, os momentos mais duros da vida e do mundo, como o que vivemos nos últimos anos, e a tão necessária esperança. A própria artista construiu os arranjos, com as valiosas "dicas do violão", e deu o norte estético para a banda formada por Hélio Alves (piano), Jorge Helder (baixo) e Tutty Moreno (bateria).

Imagem ilustrativa da imagem A arte salva
| Foto: Leo Aversa | Divulgação

Conexões

O disco tem ainda a participação de Mônica Salmaso, na música Tantas Vidas, de Moacyr Luz, na faixa A Morte é uma invenção, e Alfredo del Penho, em Quem Nunca.

“Já tenho uma amizade e uma afinidade com a Mônica há muitos anos. E ela já gravou músicas minhas. E tenho uma afinidade muito grande também com Alfredo del Penho. A gente trabalhou junto em um programa de televisão educativo para crianças (Pequenos Notáveis, na MultiRio). E Moacyr Luz é um parceiro, fez a música junto comigo e chamei ele para cantar. Gostei muito da participação dele”, observa a cantora.

As letras de quase todas as músicas foram escritas por Joyce, mesmo nas músicas em parceria, como Nas Voltas do Tempo, com Marcos Valle e Alimento, a primeira coautoria com Cristovão Bastos, e A Morte é Uma Invenção, com Moacyr Luz. A única exceção é Tantas Vidas, cuja letra foi feita pelo poeta e letrista português Tiago Torres da Silva e a parte musical, pela compositora.

“É a única letra feminina do disco e foi escrita por um homem, mas é cantada por mim e por Mônica, porque cada mulher é uma e muitas ao mesmo tempo”, destaca.

Ela afirma que, durante a feitura de Brasileiras Canções, queria abordar uma série de assuntos. “Fui escrevendo, queria falar sobre o tempo, a morte, e se tornou um disco bastante reflexivo”. Porém, o tratamento desses temas bastante complexos, que mobilizam questões que atravessam a história da humanidade, não se desdobra em algo fechado ou hermético. As canções fluem como um curso de um rio ou a brisa do mar e, mais do que respostas, constroem um clima propício para estimular a nossa reflexão.

Esse percurso é traçado desde a primeira música, Todo Mundo, que tem nos versos: Todo mundo quer saúde / todo mundo quer chegar / mais além da juventude / Eu sei / Todo mundo tem razão / Todo mundo faz questão / De uma vida menos rude”.

“Talvez essa seja a música que mais deixa isso claro, que é exatamente uma questão universal. Quer dizer, todo mundo, no fundo, busca a mesma coisa, que é saúde, ser feliz, amar, não importa a latitude. E, quando eu fiz, a humanidade estava vivendo, em conjunto, uma situação bem difícil”, diz Joyce, amalgamando a conversa com os seus próprios versos na canção.

A cantora e compositora ressalta que não apenas para ela, mas para muitas pessoas, a música e a arte em geral foram essenciais nesse momento tão complicado.

“Ficou demonstrado, mais uma vez, que a arte é o que nos salva. E a gente viveu aquele momento de pandemia com esse tremendo desgoverno. E algumas pessoas diziam que precisam de advogado, médico, mas nunca tinham precisado de um artista. Isso é mentira. Todo mundo precisa da arte. Sem a arte, você enlouquece. Ela é o que exatamente segurou a saúde mental nesses dois anos”, afirma.

Esperança no Brasil

O título do disco remete tanto às sonoridades, quanto à afirmação de uma brasilidade diversa, forte e criativa. Uma brasilidade que ganha um sentido de liberdade e que tem esperança em um país e um mundo melhor.

“São mais de 35 anos viajando pelo mundo e vejo que a música brasileira é uma das coisas mais fortes que a gente tem. Ela pode chegar em qualquer país do mundo, é impressionante como as pessoas amam a música brasileira. Já vi uma plateia japonesa cantar Chega de Saudade inteira, sem errar uma palavra”, relata.

Segundo Joyce, o Brasil tem desprezado esse imenso potencial, inclusive no sentido econômico. “É uma pena porque a gente está perdendo divisas. Olha o que a Coreia do Sul fez com o K-pop. Imagina o Brasil com o tesouro que tem. E a gente não aprende”. Um desafio, nesse sentido, é recolocar os símbolos nacionais que, de acordo com a cantora e compositora, foram capturados.

“Todo governo autoritário gosta de se apropriar dos símbolos nacionais, então tem a falsa moral, o falso patriotismo, porque, na verdade, as pessoas que lançam essas ideias detestam o Brasil. Se elas pudessem, estariam todas em Miami, Orlando, morando lá”, opina, ecoando versos da mencionada faixa de abertura: “Quantas vezes chega o mal/ Disfarçado de virtude”. Para a artista, os símbolos precisam ser disputados e resgatados, da camisa da seleção aos hinos.

“Os nossos hinos são belíssimos, de uma musicalidade incrível. A gente vai percorrendo do Amazonas ao Rio Grande do Sul e vê uma diversidade de culturas, de comidas, de línguas, de tudo. É um país maravilhoso”, conclui.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Siga nossas redes

Siga nossas redes

Publicações Relacionadas

A tarde play
Play

Ilha de Itaparica recebe gravações de filme "Melodia do Amor"

x