NAS TELAS
Festa do Cinema Italiano volta ao presencial com nova safra de filmes
Evento chega à 9ª edição e acontece desta quinta até o dia 10 de agosto
Por Rafael Carvalho | Especial para A TARDE
Há tempos que se fala sobre certo marasmo do cinema italiano, isso em comparação ao grande período em que o país tinha cineastas como Federico Fellini, Michelangelo Antonioni, Luchino Visconti, Valerio Zurlini, Ettore Scolla, entre tantos outros, todos fazendo obras-primas a cada ano. É certo que a Itália nunca mais alcançou o mesmo patamar na produção cinematográfica, mas ainda assim oferece uma rica e premiada filmografia.
A 8½ – Festa do Cinema Italiano é uma ótima oportunidade para conferir alguns dos títulos recentes do país. O evento, que acontece simultaneamente em diversas cidades do Brasil, começa na próxima quinta-feira, 28, e segue até o dia 10 de agosto. Em Salvador, as sessões acontecem no Cine Metha – Glauber Rocha e todos os ingressos custam o mesmo valor (R$ 20).
O evento conta com exibições inéditas de filmes recentes premiados nos principais festivais do mundo. É o caso de Il Buco, novo filme do diretor Michelangelo Frammartino (do ótimo As Quatro Voltas) que venceu o Prêmio do Júri no Festival de Veneza de 2021. Trata-se de um documentário que acompanha as expedições ao fundo da caverna mais profunda da Europa, na região da Calábria, enquanto a vida dos moradores locais segue no mesmo passo de sempre.
As reflexões sobre o tempo sempre foram uma constante na obra de Frammartino, assim como acontece em Laços, de Daniele Luchetti, só aqui estamos no campo dos dramas familiares. Dois irmãos crescem em um lar desfeito, fazendo carregar seus traumas para a vida adulta.
O filme é baseado no livro do premiado escritor italiano Domenico Starnone (também apontado como o suposto marido da misteriosa escritora Elena Ferrante).
Laços foi o filme de abertura do Festival de Veneza em 2020, onde, no ano seguinte, estreou O Rei do Riso, filme de Mario Martone que também está na programação da Festa. O grande ator Toni Servillo dá vida a um dos maiores comediantes da extensa tradição de artistas cômicos italianos: Eduardo Scarpetta, dramaturgo de grande sucesso do início do século XX.
Toque dos mestres
De Sergio Leone a Bernardo Bertolucci, de Quentin Tarantino a Brian De Palma, de Roman Polanski a Pedro Almodóvar. Esses e tantos outros nomes do cinema mundial já tiveram em seus filmes trilhas sonoras do grande compositor Ennio Morricone.
Pois é a ele que a Festa do Cinema Italiano rende homenagens este ano, com a exibição de Ennio, O Maestro, filme de Giuseppe Tornatore (que também já contou com a colaboração das trilhas de Morricone, como no seu clássico Cinema Paradiso).
O compositor faleceu em julho de 2020 e possui mais de 500 créditos de criação de trilhas sonoras para filmes e séries em 60 anos de carreira, um feito invejável para qualquer um. Possui um Oscar pela trilha sonora de Os Oito Odiados, de Tarantino, e diversos outros prêmios mundo afora. A Festa contará com a participação do filho do compositor, Mario Morricone, em uma live a ser apresentada virtualmente em data a ser definida.
Outra homenagem do festival vai para o cineasta Pier Paolo Pasolini, por ocasião das comemorações do seu centenário. Por conta disso, a Festa exibe, em cópia restaurada, um dos seus primeiros filmes, Mamma Roma (1962), estrelado pela grande atriz Anna Magnani.
E por falar em mestres, também compõe a programação do festival o longa Leonora, Adeus, dirigido por Paolo Taviani. Ele que teve uma parceria longínqua com o irmão Vittorio Taviani (com quem dirigiu obras-primas como Pai Patrão e A Noite de São Lourenço), viu o irmão falecer em 2018. Ainda assim, ele continua na ativa e apresenta esse novo filme que, além de ser um tributo ao irmão, retorna às histórias do dramaturgo Luigi Pirandello, de quem já haviam dirigido Kaos, filme baseado em seus contos e novelas.
Cinemão italiano
A Festa abre espaço também para o cinema de apelo popular que faz grande sucesso comercial na Itália. Guia Romântico para Lugares Perdidos, de Giorgia Farina, é uma comédia romântica e road movie que reúne a atriz italiana Jasmine Trinca e ator britânico Clive Owen.
Outro nome de destaque na comédia italiana contemporânea é o do diretor e ator Pif (pseudônimo de Pierfrancesco Diliberto), que traz seu novo filme, Tempos Super Modernos, uma espécie de reflexão sobre os empregos temporários e as relações líquidas em época de virtualidades.
Já Freaks Out é um corpo estranho até mesmo no cinema italiano comercial. Dirigido por Gabriele Mainetti, o filme conta a história de uma trupe circense que, nos anos 1940, vive na Itália ocupada pelos nazistas em plena Segunda Guerra Mundial.
Como se não bastasse, os integrantes do circo possuem poderes especiais, o que os tornam super-heróis inconsequentes, fazendo do nazismo seu inimigo de primeira ordem.
As artes plásticas também têm lugar cativo na Festa. Tintoretto – Um Rebelde em Veneza, de Giuseppe Domingo Romano, é um documentário que conta a história de um dos grandes nomes do Renascimento italiano. Também do mesmo período, a vida de Leonardo da Vinci é dissecada em Eu, Leonardo, de Jesus Garces Lambert, que revela não apenas o grande pintor, mas também o cientista, inventor e pensador que ele era.
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