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CADERNO 2

Festival traz ótimos shows com grandes nomes da música baiana

Projeto 'Salvador Capital Afro' está acontecendo até domingo, no Centro Histórico

Por Lila Sousa*

02/12/2022 - 6:30 h
Lazzo: “Acho que a gente já deveria estar fazendo isso há muito tempo”
Lazzo: “Acho que a gente já deveria estar fazendo isso há muito tempo” -

O festival Salvador Capital Afro, com a iniciativa de reunir ações voltadas para fortalecimento e valorização dos produtos e serviços locais fornecidos por pessoas pretas está acontecendo até domingo, no Centro Histórico. O evento também visa estimular o desenvolvimento de políticas públicas necessárias para o posicionamento de Salvador como uma cidade antirracista.

“O Salvador Capital Afro é um movimento que visa posicionar Salvador como destino turístico afrocentrado e uma cidade racista em desconstrução”, declara Simone Costa, coordenadora do Núcleo de Ações Turísticas do Prodetur Salvador.

O movimento é uma iniciativa da Prefeitura Municipal, através da Secretaria de Cultura e Turismo, no âmbito do PRODETUR Salvador, em parceria com a Secretaria da Reparação. O projeto tem financiamento do BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento. “É um marco histórico, potente e transformador. Traz uma programação com debates urgentes e necessários sobre a contrução de cidades e empresas antirracistas, Afroturismo, Afroempreendedorismo, Rodadas de Negócios, oficinas, mentorias, show cases, envolvendo profissionais renomados e inspiradores, de referência nacional e internacional”, explica Simone.

A coordenadora destaca que o festival também traz para Salvador grandes empresários nacionais e internacionais da música e audiovisual, para conhecer e conectar os profissionais e projetos locais potencializando a economia através das culturas, além de contar com uma agenda que contempla atividades voltadas pra crianças, inserindo-as nesse contexto de transformação.

A ideia é que o festival entre no calendário oficial da cidade. “A gente entende que isso é só um começo, é uma semente que está sendo plantada. Essas conversas, esses debates precisam ter sequência. A ideia é que no próximo ano a gente tenha o Salvador Capital Afro enquanto movimento, dando continuidade as ações”, relata Simone.

Tambor é passado, é futuro

Alguns artistas locais apresentarão seus trabalhos musicais para o público em um palco localizado no Largo do Cruzeiro de São Francisco. Os shows foram escolhidos pelo grupo curatorial formado pela jornalista Camila França, o DJ Branco, a produtora Edmilia Barros, o músico e pesquisador Fabrício Mota e o músico e produtor Vince Athayde. Serão 15 apresentações, com uma curadoria diversa, com trabalhos contemporâneos e também de música tradicional, incluindo samba, rap e música pop.

Uma das bandas presentes será Panteras Negras, que surgiu em 2018 com a necessidade de movimentar a cena musical baiana. Com musicistas negras, esta é a primeira banda feminina negra, instrumental, LGBTQIA+ do mundo. “Para nós é um presente participar do Festival Salvador Capital Afro, justamente pra demarcar nosso espaço e mostrar nosso trabalho pra um público cada vez mais crescente que vem se identificando com a música que nós fazemos. Estamos muito felizes com o convite de poder participar do festival”, afirma Aline Santana, baterista e diretora musical da banda.

“O público pode esperar um show bem dançante. A nossa música instrumental preta passeia por vários estilos e ritmos musicais do ijexá, o samba, o jazz, então a gente brinca muito no palco. Apresentaremos no festival um repertório que tem a maioria das músicas e também duas releituras que são surpresa. Vai ser um show vibrante”, garante Aline.

O festival será encerrado com um grande show, no domingo, às 18h, na Praça da Cruz Caída. Com direção musical de Fabrício Mota e Ênio, a apresentação reunirá as Ganhadeiras de Itapuã, Larissa Luz, Lazzo e Russo Passapusso, expoentes da música baiana que farão uma grande celebração à cultura negra soteropolitana.

“Já não era tempo”, é o que diz Lazzo Matumbi ao se referir a importância de eventos com a iniciativa do festival. “Salvador, como cidade mais negra fora da África, acho que a gente já deveria estar fazendo isso há bastante tempo. Bom que pintou! Então se pintou eu fico superfeliz e mais feliz ainda de estar participando”, declara o cantor.

A noite de celebração contará com músicas que fazem parte dos sucessos de Lazzo, canções antigas, sem esquecer de 14 de maio. “É a música que estou o tempo todo cantando, mais do que nunca trazer essa música como forma de reflexão – não só da comunidade negra mas de toda sociedade baiana – é super importante. Nesse momento é tocar coisas que tem a ver com o sentimento de aquilombamento, de acolhimento, de junção”, reflete Lazzo.

Russo Passapusso, que também compõe a grade de atrações de encerramento do evento, já integrava movimentos como esse, a exemplo da cultura sound system e com o Mutirão Mete Mão – na cidade, nas ruas, levantando som, fazendo a cultura acontecer. “É uma fusão de movimentos, de movimentos que se interligam e completam com artistas que vão estar colocando a realidade do que a gente vê nas ruas, nas ruas da cidade em termos culturais. Da música de Lazzo, das participações de Larissa. É um aprofundamento dentro da relação da representatividade”, destaca o artista.

Pensando na comunicação direta com o público, Russo tem preparado um repertório junto com SekoBass, baixista e produtor do Baiana.

“Ele conversou comigo e falou que era legal a gente tocar as músicas que tivessem uma linguagem direta e essa relação com as lembranças de memória, do que seria essa música que vem de África. Então, a gente vai tocar esse repertório que tem os batuques do tambor mais acirrado. Tambor é passado, tambor é futuro”, conclui Russo.

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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