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Investigações sob o sol

Em Glass Onion: Um Mistério Knives Out não há mais o elemento surpresa de Entre Facas e Segredos

Por Tiago Freire*

09/01/2023 - 8:00 h
Glass Onion pode não chegar ao mesmo patamar de roteiro que o primeiro, mas consegue entregar uma excelente história
Glass Onion pode não chegar ao mesmo patamar de roteiro que o primeiro, mas consegue entregar uma excelente história -

Se Entre Facas e Segredos (Knives Out, 2019) já conseguiu ser um baque para o cinema de suspense por seu roteiro excelente, elenco incrível, uma ótima cinematografia e um perfeito protagonista para essa história (o detetive Benoit Blanc, interpretado por Daniel Craig), Glass Onion - Um Mistério Knives Out consegue carregar a mesma qualidade que seu antecessor, mas seu principal mérito é subverter as próprias regras.

Rian Johnson retorna à cadeira de diretor e roteirista em Glass Onion, sequência do filme Entre Facas e Segredos. Ambientado na ilha particular de um bilionário, Benoit Blanc (Daniel Craig) começa a investigar um possível assassinato que acontecerá – e no caminho, irá desenrolar uma teia de segredos e conspirações.

O primeiro filme já foi uma excelente subversão das histórias de detetive no estilo de Agatha Christie. O risco que Glass Onion corria era de acabar caindo em uma fórmula – e que suas revelações não tivessem o mesmo impacto.

Como Rian Johnson entendeu essa possibilidade, ele consegue dar um novo ar para a história e ainda inovar sobre ela. A primeira grande modificação, e uma das melhores, é a mudança completa de cenário. Deixamos para traz aquele clima de outono do primeiro filme e chegamos com peso no verão ensolarado da Grécia. E aquela mansão aristocrática é substituída por uma ilha particular extremamente tecnológica e moderna, com bastante vidro.

Os Disruptores

Esse novo ar é acompanhado de um novo elenco igualmente de peso. Migramos daquela família quase aristocrática para um grupo de amigos ricos chamados de “Disruptores”. Porém esse grupo mostra-se mais um ninho de mentiras e traições. Chefiando este clã, temos o empresário Miles Bron (Edward Norton), que é praticamente uma paródia dos bilionários do ramo da tecnologia, que escondem sua falsidade com discursos sobre disrupção.

O resto do elenco que compõe os “Disruptores” conseguem fazer o máximo de seus personagens. São pessoas que apesar de se considerarem amigas, não pensariam duas vezes em uma trair a outra. Em cada cena, em cada interação, é deixado mais claro o quão disfuncional aquele grupo se tornou. No fim, mesmo com a revelação de quem ali cometeu o assassinato, não há nenhuma redenção daqueles personagens, pois eles apenas são movidos por muito mais interesse próprio do que por qualquer altruísmo.

Essa faceta do personagens, assim como o cenário, estão amarrados no título do filme Glass Onion (Cebola de Vidro). Apesar de uma cebola de vidro ter várias e várias camadas cobrindo-a, seu interior ainda é facilmente visto por fora, o que também vale para aquelas figuras no longa. Mesmo eles se cobrindo de várias camadas, no fim, quem aquelas pessoas são pode ser facilmente vista por fora: narcisistas.

A edição no filme segue perfeita com o retorno do Bob Ducsay, que também foi encarregado dela no primeiro Entre Facas e Segredos. Temos a volta daquelas cenas que se repetem, mas sob perspectivas diferentes, porém, em Glass Onion ela acaba sendo usada um pouco a mais do que o necessário.

Em um dado momento há uma revelação que retroativamente ressignifica uma série de interações entre dois personagens. Então temos uma sequência de flashbacks para contextualizar tudo. Apesar da revelação ser interessantíssima, os flashbacks acabam sendo um pouco demorados demais e poderiam ser um pouco menos explicativos.

Roteiro à altura

Tratando-se de uma sequência de Entre Facas e Segredos a principal preocupação mantém-se: e o roteiro? O primeiro foi premiadíssimo por seu enredo, e será que a sequência teria um a altura?

Glass Onion pode não chegar ao mesmo patamar de roteiro que o primeiro, mas consegue entregar uma excelente história. O filme não busca repetir a mesma história e piadas, mas sim trazer um roteiro que é bem convidativo para quem não assistiu o primeiro filme, mas recompensador para quem já viu o anterior.

Essa segunda aventura de Benoit Blanc consegue destacar-se da primeira e mostrar a verdadeira versatilidade da direção, do roteiro e da produção, produzindo um filme que conseguiu subverter as expectativas uma segunda vez, mas sem comprometer a qualidade. Com certeza, um excelente novo capítulo na franquia do detetive Blanc.

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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