TEATRO
Múltiplos sotaques
Festival de Artes Cênicas da Bahia chega à 14ª edição, com cinco dias de espetáculo
Por Eugênio Afonso

‘Espalhe a palavra’. Com esse tema, a 14ª edição do Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia - Fiac Bahia – retoma a programação presencial, abortada nos últimos dois anos, período em que a pandemia deu as cartas por essas plagas. Os espetáculos começam nesta terça-feira, 25, e vão até o próximo dia 29.
A ideia é não só discutir a palavra, sua força e significado em cena, mas, de alguma forma, expandir as reflexões de artistas das artes cênicas contemporâneas para além do universo dos ambientes culturais.
Segundo Rita Aquino, curadora e coordenadora geral do Fiac, o objetivo do festival é contribuir para o desenvolvimento cultural da Bahia, em especial nos segmentos da difusão, criação e formação a partir do pressuposto de que a cultura é um direito de todas as pessoas.
“Nesta 14ª edição, a primeira presencial após a pandemia, nosso objetivo principal é retomar a experiência do convívio tão caro às artes do corpo e da cena – dança, teatro e performance –, em especial em um momento de grande importância para a vida pública no país”, reforça Aquino, que assina o Fiac ao lado de Felipe Assis.
Rita diz ainda que, considerando o contexto explícito de disputas de narrativas, o festival convoca a palavra para o debate. “Nesse movimento, colocamos a própria palavra no plural: as palavras que compõem a curadoria são pronunciadas por diferentes pessoas, diferentes vozes, multiplicando as possibilidades de existir”.
A estreia é com o artista franco-brasileiro Pol Pi, que leva ao Teatro Vila Velha, às 19h, o espetáculo ECCE (H)OMO, peça que mescla diversas linguagens para falar de sentimentos humanos a partir do legado de Dore Hoyer, dançarina alemã que se debruçou sobre os afetos humanos no século passado.
Diversidade em cena
No cardápio do Fiac, dança, teatro, performance, além de oficinas e encontros. Ao todo, serão seis espetáculos presenciais, uma montagem virtual, uma leitura dramatizada e uma intervenção urbana.
Entre eles, CASALS, PICASSO e NERUDA – Os Três Pablos Guerreiros Contra o Dragão da Maldade, direção de Márcio Meirelles, Coração (Reforma Cia de Dança), Gota d’Água (Cia Baiana de Teatro Brasileiro) e Um Corpo de Palavras, com direção de Naiara Tristão Gramacho.
Tem ainda E.L.A, da cearense Jéssica Teixeira, Eu Não Vou Fazer Medeia, de Jonathan Andrade, e AltaMira 2042, da atriz, diretora e pesquisadora carioca Gabriela Carneiro da Cunha.
Augusto Nascimento, ator e codiretor de Gota d’Água, peça que será encenada no dia 27 no Vila Velha, afirma que quis mergulhar na dramaturgia nacional e trazer à cena obras do moderno teatro brasileiro.
“Essa peça já foi tão montada Brasil afora, então queria ter um diferencial. Nosso desejo foi mergulhar nas poéticas e na estética do subúrbio ferroviário de Salvador. Uma região tão mágica, mística, com tantos problemas e, ao mesmo tempo, com tanta potência, tanta produção artística e intelectual”, diz Nascimento.
E com uma investigação cênica sobre o corpo inquieto, estranho e disforme, a peça E.L.A – exibida amanhã – traz a atriz Jéssica Teixeira a Salvador. Ela afirma que é possível escolher operar no mundo com esse corpo tido como não convencional.
“Um corpo cênico que dança, atua, canta. O espetáculo se dá a partir dessas questões que foram molas propulsoras para a criação de E.L.A. O espetáculo é mais sobre quem assiste do que sobre mim. Fala que o nosso corpo é sempre o outro”, pontua Jéssica.
“A deficiência me constitui. Constitui minha inteligência, sexualidade, sensualidade. Mas gostaria de ser vista como um ser humano, antes mesmo do que está posto à primeira vista. Quem realmente não consegue lidar com pessoas com deficiência? São aquelas que, de fato, continuam na estrutura discriminatória e preconceituosa”, lamenta Jéssica Teixeira.
Subjetividade
Nesta edição, criações de linguagens múltiplas e com diferentes sotaques têm em comum o desejo de explodir as subjetividades das palavras escritas, dançadas, encenadas ou silenciadas. Quase toda a programação contará com tradução em Libras.
Além de toda a programação cênica, três oficinas e quatro encontros da 8ª. edição do Seminário Internacional de Curadoria e Mediação em Artes Cênicas marcam a programação formativa do festival.
Aquino informa que há também uma preocupação da equipe de curadoria com relação à representatividade das pessoas envolvidas. “Eu diria que, sobretudo, geográfica, étnico-racial, de gênero/sexualidade e pessoas com deficiência”, salienta a diretora.
“É importante destacar que a composição da curadoria de cada edição não se restringe às propostas recebidas pelo festival, mas também preserva a possibilidade de realizar convites diretos, assim como estabelecer outras formas de cooperação”, conclui a curadora.
A programação completa pode ser acessada no site fiacbahia.com.br, onde também estão disponibilizadas informações detalhadas do Seminário Internacional de Curadoria e Mediação em Artes Cênicas.
Os ingressos devem ser adquiridos pelo Sympla ou presencialmente (na bilheteria dos teatros, no dia de cada sessão).
Mais informações nas redes sociais do FIAC (@fiacbahia) e através da newsletter semanal do festival, cujo cadastro está disponível no link https://mailchi.mp/7oito/cadastro.
O Fiac Bahia tem apoio financeiro do Estado da Bahia, pelo Fundo de Cultura, Secretaria de Cultura e Secretaria da Fazenda.
14ª edição FIAC Bahia – Espalhe a palavra / 25 a 29 de outubro de 2022 / vários espaços da cidade / ingressos pelo Sympla
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes