CADERNO 2
Olhares para o mundo
Mostra Internacional de Cinema de São Paulo retoma formato presencial, sem deixar de oferecer conteúdo on line
Por Rafael Carvalho | Especial A TARDE
Para os amantes do cinema, outubro é o momento de conhecer boa parte dos principais filmes do ano, tanto aqueles que passaram pelos principais festivais de cinema do mundo, como as novas descobertas do que vem se destacando no mercado internacional. Começa hoje a 46ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que retorna ao formato presencial, mas continua a apresentar alguns títulos virtualmente.
É, sem dúvida, um dos maiores festivais de cinema no Brasil a descortinar o mais pulsante do audiovisual recente, com filmes vindos não só de toda parte do planeta, mas também da vigorosa produção nacional, a serem exibidos durante os próximos quinze dias.
Este ano, um dos chamarizes são os filmes que venceram os mais importantes festivais internacionais: de Cannes, a Palma de Ouro concedida ao filme sueco Triângulo da Tristeza, de Ruben Östlund (que será o filme de abertura); de Berlim, o Urso de Ouro dado para Alcarràs, filme espanhol da cineasta catalã Carla Simón; e, premiado recentemente, aparece também o longa colombiano Los Reyes del Mundo, da diretora Laura Mora, vencedor do Festival de San Sebastián, na Espanha.
E do Festival de Locarno, na Suíça, chega o vencedor do Leopardo de Ouro, que vem a ser um filme brasileiro: Regra 34, da cineasta carioca Júlia Murat. É um prêmio muito importante já que a última vez que um filme nacional trouxe para casa o galardão principal de Locarno foi com Terra em Transe (1967), do baiano Glauber Rocha.
Também dentre os filmes brasileiros destacados, há o longa pernambucano Paloma, de Marcelo Gomes, que acabou de vencer a competição do Festival do Rio; e o longa do Acre que venceu o Festival de Gramado este ano, Noites Alienígenas, de Sérgio de Carvalho.
“O processo de seleção dos filmes dura o ano inteiro. Desde o começo do ano, por volta de fevereiro, no Festival de Berlim, já vamos buscando os filmes. Daí abrimos as inscrições em março e recebemos muitas outras obras. Criamos uma comissão que assiste aos filmes, separa e faz relatório. Depois eu vejo o relatório, faço uma análise antes de liberar e montamos a programação”, afirma a diretora da Mostra, Renata de Almeida, que conversou com A Tarde sobre a edição deste ano.
Podemos destacar também outros filmes muito aguardados pelo público: o novo longa-metragem do mexicano duas vezes oscarizado Alejandro González Iñarritu, com seu Bardo – Falsa Crônica de Algumas Verdades; The Kingdom Exodus, novo projeto do polêmico Lars Von Trier – trata-se, na verdade, de dois episódios da série que é uma espécie de continuação de O Reino, que ele fez para a TV dinamarquesa nos anos 1990; e os longas Armaggedon Time, de James Gray, Sem Ursos, novo filme do iraniano Jafar Panahi, e Com Amor e Fúria, da francesa Claire Denis.
Cinema e resistência
Almeida pontuou também as dificuldades que a Mostra enfrentou com a perda de patrocínios importantes, como a ausência do benefício da Lei Rouanet. Isso diminuiu muito o montante do financiamento, mas serviu de impulso para se criar o projeto dos Patronos da Mostra, uma espécie de financiamento colaborativo aberto ao público.
“Nós pensamos em manter um grupo de patronos, mas quem abraçou a iniciativa foi o próprio setor do audiovisual. A ideia se espalhou e isso ajudou a Mostra a acontecer este ano”, confidenciou Almeida. Com os cortes, o evento diminuiu a participação de artistas que vinham de vários países do mundo e também perdeu algumas salas de cinema para as exibições, mas em termos de tamanho o evento mantém a sua dinâmica dos últimos anos.
Serão exibidos cerca de 220 filmes até o próximo dia 2 de novembro, oriundos de cerca de 60 países.
A diretora do evento também pontuou sobre a dificuldade de conseguir filmes para serem exibidos virtualmente, já que nos anos anteriores os formatos virtuais deram muito certo: “Para a Mostra, que apresenta filmes super novos, não é fácil conseguir esses filmes para o online. Este ano, mantivemos as sessões virtuais só com os nossos parceiros, o Sesc Digital e a SPcine Play”. Tais plataformas possuem uma programação específica, que pode ser acessada através do site oficial da Mostra (www.mostra.org).
Dentre alguns destaques, os filmes Corações Gentis, da Bélgica, e Sonne, da Áustria, ambos premiados no Festival de Berlim; o francês O Estranho Caso de Jacky Caillou, exibido no Festival de Cannes; e o indiano Pedro, exibido no IndieLisboa.
Importante destacar ainda o Prêmio Humanidades, que desta vez vai para a cineasta brasileira Ana Carolina. Além de suas obras clássicas, como Mar de Rosas (1977) e Sonho de Valsa (1987), será exibido também o seu mais novo filme, Paixões Recorrentes. Sobre essa homenagem, Almeida observa: “Os filmes mais antigos da Ana Carolina não estão restaurados. A gente precisa conversar novamente sobre restauro dos filmes brasileiros. E a gente tem que visitar quem fez cinema lá atrás, quem desbravou o mercado de cinema para as mulheres no Brasil”.
Produção e mercado
O lugar da produção de cinema também ganha espaço cativo dentro da programação da Mostra. Este ano, será realizado o II Encontro de Ideias, voltado para discutir o mercado audiovisual brasileiro em conformidade com as práticas exercidas hoje no mundo. O evento é gratuito e busca reunir realizadores, produtores, gestores culturais e profissionais do mercado, além de estudantes e interessados na feitura por trás das câmeras.
Um dos destaques desse evento é a realização de pitchings (apresentação de projetos em andamento ou que buscam apoio e patrocínio), tanto para filmes quanto para a publicação de livros.
Um caso interessante este ano é a apresentação do projeto O Rio do Desejo, do cineasta baiano Sérgio Machado, protagonizado por Sophie Charlotte e Daniel de Oliveira. O filme já está pronto e terá exibição única na Mostra, antes de participar de festivais internacionais.
O longa é uma adaptação de um conto do escritor Milton Hatoum e que agora, depois da realização do filme, será publicado como um romance, em um movimento inverso. Tanto o cineasta quanto o escritor estarão presentes em uma mesa do Encontro para falar sobre o projeto e sobre a imbricação entre literatura e cinema.
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