MÚSICA
Otto retoma parcerias e segue trajetória que recusa rótulos
Cantor pernabucano lançou, há poucos dias, seu sétimo álbum de estúdio, Canicule Sauvage
Por Chico Castro Jr.
No campo cultural, este ano de 2022 deverá se conhecido no futuro como o ano em que os artistas botaram na rua o que fizeram no isolamento de suas casas, durante os duros anos da pandemia (2020-21). Com o pernambucano Otto não foi diferente. Há poucos dias chegou às plataformas de streaming seu sétimo álbum de estúdio, Canicule Sauvage.
A obra tem pelo menos três características marcantes. A primeira delas é o reencontro com o produtor Apollo Nove, o mesmo que pegou as canções que ele fazia no pandeiro nos anos 1990 e não encontravam casa na banda Mundo Livre SA, que ele integrava, e as transformou em uma pioneira mistura de música eletrônica com ritmos regionais no já clássico Samba Pra Burro (1998).
A segunda característica é a forte presença feminina no disco, com várias cantoras duetando com Otto. Kenza Said e Anais Sylla estão na faixa título, enquanto sua atual companheira, a baiana Lavínia Alves, está em Você Pra Mim É Tudo e Decidez. Tulipa Ruiz canta e coassina Tinta, assim como Ana Cañas, em Menino Vadio. Nina Miranda, da banda inglesa Smoke City, surge em Anna. Outra baiana presente é a percussionista Michelle Abu, que aqui não canta, mas toca em várias faixas.
O terceiro ponto importante deste álbum foi a adesão de Otto, pela óbvia razão da pandemia, ao aplicativo Garage Band, no qual ele “desenhou” o álbum, antes de Apollo Nove assumir a cabine de comando. “Esse disco foi gerado no Garage Band. No Garage, tenho mais liberdade para arranjar sozinho e executar. Tenho certeza que a música do próximo milênio virá carregada destes jovens que trabalham hoje no seu iPhone, como eu . Uma música mais íntima, independente e libertária”, afirma o músico, por email.
“Trabalhar com Apolo 9 é sempre uma honra , temos lindas parcerias desde Samba pra Burro, Condom Black (2001) e Sem Gravidade (2003). Apolo é um produtor, músico e parceiro genial, e nada na minha vida eu farei sozinho. Criamos sempre juntos e vai continuar assim ele sabe tirar o melhor de mim. Um parceiro pra vida”, acrescenta.
Francofonia presente
Apertado (ou clicado) o play, Canicule Sauvage se revela uma audição bastante interessante – como de costume nos álbuns de Otto, não há muita preocupação com unidade estética. Otto se recusa a “tematizar” suas obras a partir de estéticas específicas: aqui tem música eletrônica (Há Tanta Gente Que Se Abre), delírios gainsbourguianos (faixa-título), reggae (Menino Vadio), rock (Peraí Seu Moço, o primeiro single) e por aí vai.
“Nunca serei preso a rótulos musicais, sou nordestino e convivo com a diversidade de ritmos e a diversidade cultural. Sinto que posso mergulhar neste caldeirão, sou bem relaxado quanto a isso. A inspiração quando pega, ela agrega e traz a unidade justamente no plano maior. As coisas vão acontecendo e, no final, a liberdade e a diferença provocam a unidade da obra. É por isso que a arte mexe no sensorial das pessoas . Não se explica. Vem!”, convida Otto.
Uma faixa que merece atenção especial é justamente Canicule Sauvage, a faixa-título. Um mergulho evidente no universo de Serge Gainsbourg, ela traz tudo o que se imagina quando se pensa no polêmico e genial artista francês: suíngue, sensualidade, um quê de delírio e – claro – sussurros em francês. A francofonia não é uma estranha para Otto. Já estava lá no Samba Pra Burro, em uma de suas melhores faixas, a bem humorada Renault / Peugeot.
“O francês é a minha segunda língua. Desde de 1989, quando morei em Paris, ela me acompanha. Sou fã da cultura e da música francesa. Se não me engano, já tenho umas cinco a seis músicas em francês, e Gainsbourg é um ídolo máximo, a música francesa permeia tudo”, conta Otto.
Em tempo: canícula, a tradução da palavra em francês que intitula o disco, é “um fenômeno caracterizado por períodos de ondas de calor, em geral associadas à presença de circulações atmosféricas anticiclônicas estacionárias”, informa o material de divulgação.
“Quando compus Canicule... estava em Marselha, em plena canicule, num terraço lindo. Daí veio a melodia, o canto todo – e ali, também, veio a certeza que eu tinha uma grande música, um conceito de um álbum e o espírito de Gainsbourg. É assim que a música acontece comigo, num estalo da vida. E aí fui criando... O dia conspirou e a França inspirou tudo”, relata Otto.
Agora, o músico se prepara para correr o país fazendo shows e divulgar o novo disco. Salvador, claro, está nos planos. “A turnê deve correr o Brasil e o mundo. Salvador é um lugar que amo e tenho um público maravilhoso. Logo mais estarei aí. Sem falar que minha mulher, além de maravilhosa e cantar no meu disco, é soteropolitana. Assim com o amor por Lavínia Alves, meus laços com a Bahia sempre foram eternos fortes e intensos e apaixonados”, conclui.
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