GIGANTES DE AÇO
Profissionais analisam evolução tecnológica e importância dos trios
Protagonistas da maior festa de rua do mundo, os trios elétricos são o maior símbolo do Carnaval de Salvador
Por Priscila Dórea
Protagonistas da maior festa de rua do mundo, os trios elétricos são o maior símbolo do Carnaval de Salvador desde a “Fobica”, criada por Dodô e Osmar em 1950. Maiores que o Ford 1929 usado na época, quando não estão na folia, os gigantes de aço do Carnaval costumam dormir longe de nossos olhos em galpões afastados do centro da cidade – muitos, até, descansam em cidades do interior. Eles, é claro, são alugados para eventos durante o ano, mas também passam por inúmeras manutenções e inovações nesse meio tempo, com o objetivo de entregar um Carnaval melhor a cada ano.
“Os trios elétricos vivem em constante evolução desde que foram criados e se renovam todo ano, afinal todo dono de trio, banda e artista quer chegar no Carnaval e entregar uma performance de alto nível” enfatiza Quinho Nery, presidente do bloco Camaleão. Esses aperfeiçoamentos vão da estrutura à qualidade sonora dos trios. “O público do Carnaval é grande e cresce, então é importante não apenas melhorar o alcance sonoro, mas também garantir que isso não incomode excessivamente que fica próximo a eles”, explica.
E esse tipo de tecnologia pensada para os trios é desenvolvida, em sua maioria, aqui mesmo na Bahia. “É uma tecnologia que segue evoluindo, alcançando e inspirando equipamentos semelhantes pelo mundo todo”, afirma Quinho Nery. E junto com o avanço dessas tecnologias, há o aumento das demandas dos artistas que sobem neles, salienta Ari Andrade, presidente da Associação Baiana de Trios Elétricos Independentes (ABTI) que há 30 anos trabalha no ramo, e com o aumento dessas demandas - mais banheiros, camarins e espaço para convidados, por exemplo -, é preciso criar mais espaço dentro deles.
Há ainda os equipamentos sonoros, instrumentos e demais pessoas circulando no trio: para se ter uma ideia, conta Ari Andrade, se um trio coloca 100 pessoas, com uma média de 70kg cada, entre convidados e equipe, são 7 mil quilos. “Hoje, o Ministério Público tem conduzido um trabalho para criar parâmetros para diminuir o tamanho dos carros e seu peso, pois não há regras específicas para isso. Então a nossa labuta, muito em breve, será lidar com essas recomendações do Ministério diante das exigências da produtoras”, explica.
Proprietário do trio Magia e outros quatro trios elétricos, Ari geralmente aluga seus equipamentos para o município ou estado, inclusive para artista contemplados pelo edital Ouro Negro, e cita os trios de Ivete Sangalo, Claudia Leitte e Daniela Mercury como exemplos de trios que vem crescendo. “Vale os observar nessa perspectiva nesse Carnaval de 2024”, sugere. Outro ponto interessante de se pensar sobre esses gigantes que agitam tanto Salvador em fevereiro, é nas viagens que eles fazem.
“É comum sermos contratados para apresentações em outras cidades e estados, já transportei alguns dos meus trios de balsa, por exemplo”, conta o proprietário de cinco trios elétricos, João Light, que está no ramo há mais de 20 anos. O avanço tecnológico dos trios, afirma ele, tem sido algo natural, “mesmo a forma como as bandas tocavam anos atrás é diferente de como tocam nos dias de hoje. E isso vale para uma série de segmentos profissionais ligados ao Carnaval, do cantor ao catador de latinhas, que mudaram, não apenas os trios”, explica.
Dentre os seus cinco trios, está o Light, que já levou a banda Psirico, entre outros artistas, algumas vezes para os circuitos de Carnaval. Nos últimos anos, o Light também tem sido o palco móvel de Ivete Sangalo em shows por cidades de toda a Bahia e, em 2024, será pela primeira vez o palco de Veveta no Carnaval de Salvador. “Estamos muito animados e trabalhando a todo vapor. É uma parceria que acredito que será bem longa”, estima o empresário.
Manutenção
E tão grande quanto suas estruturas, está o investimento necessário para manter o negócio de trios elétricos funcionando, explica João Light. De acordo com ele, o aluguel dos trios para todos os dias de Carnaval pode chegar a R$400 mil, mas os gastos com manutenção, inovação, fiscalização, equipe e afins, levam boa parte desse dinheiro. “Minha família sempre trabalhou com isso, mas realmente acredito que pelo investimento altíssimo que é necessário, deixou de ser um negócio e passou a ser um hobbie. Muita gente, assim como eu, continua por ser guerreiro, por realmente amar isso”, confessa.
Nesse ínterim, as parcerias podem ser um bom caminho a ser tomado. De Sapeaçu (Recôncavo da Bahia), o proprietário de trios elétricos Danilo Brito - o Danilo Estrelar - também segue cuidando dos negócios da família há quase 20 anos, e conta que recorre a parcerias, por exemplo, quando um cliente precisa de micro-trios. Hoje, ele possui dois trios grandes, o Estrelar 1 e o Estrelar 2, que há oito anos são o palco de Claudia Leitte e há dois anos do bloco As Muquiranas, no Carnaval de Salvador.
“Mas nós rodamos o ano todo, por todo o Brasil, atendendo artistas como Carlinhos Brown, Bell Marques, Parangolé, Léo Santana, Psirico, Parangolé e muitos outros. Com isso, o preço acaba variando a depender do evento e a distância. Mas a realidade é que esse é um mercado que, cada vez mais, exige que acompanhemos as inovações voltadas principalmente quanto à sonorização, para oferecermos o que nossos clientes querem”, explica Danilo Estrelar.
Presidente do bloco As Muquiranas, Washington Paganelli, que também é presidente do Conselho Municipal do Carnaval de Salvador (Comcar) e da Associação Baiana de Trio Elétricos (ABT), explica que esse avanço das tecnologias tem ajudado a dar mais opções aos trios. Equipamentos como geradores e caixas de som, por exemplo, têm ganhado mais potência e diminuindo de tamanho, o que abre mais espaço para um maior conforto com mais camarins e até chuveiro.
A verdade, salienta Washington Paganelli, é que os trios têm evoluído juntamente com o Carnaval. “Entre trios grandes, pequenos e pranchões, cerca de 200 equipamentos devem fazer parte do Carnaval de Salvador em 2024. Para mim, eles são um equipamento de integração que pode atingir desde meninos como Leo, Márcio e Xanddy que tiveram seus talentos mostrados para o mundo em cima deles, até o folião pipoca que pode curtir inúmeros shows sem pagar por isso. Além, é claro, dos milhares de empregos que os trios geral”, afirma.
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