CARNAVAL 2014
Carlinhos Brown: "Crítica, todo mundo já sabe fazer. Queremos resultado"
Por A Tarde
O irrequieto cantor e compositor fala, em entrevista coletiva, tudo o que acha do Brasil e de música. Confira os trechos transcritos pela repórter Karen Souza:
O Museu du Ritmo é a realização de um sonho?
Não é sonho porque não vou ficar pedindo nada ao governo. As cidades e os países precisam parar de criticar. Crítica, todo mundo já sabe fazer. Queremos resultado. O Mercado do Ouro foi todo recuperado com recursos pessoais. Não sou barão, não sou rico, mas devido à atenção que eu tenho na Europa... Não é segredo para ninguém que o meu verão lá é muito bom. Se fala muito na imprensa e se apresenta muito pouco. Eu vou apresentar para vocês. Comecei a reunir o acervo há 20 anos. Tenho um Rigoletto que veio parar aqui e vou mostrar no museu, que é uma coisa muito carnavalesca. Ganhei a guitarra do James Brown, que vou colocar lá e é por ele, também que tenho o nome Brown.
Como relaciona causa social e a sua música?
CBAs causas não são minhas, são nossas. Não vejo que nada do que eu faço tenha um mérito, é minha obrigação reagir e fazer projetos. Há feridas difíceis de ser curadas e a vara de pescar tá na mão das pessoas, e elas já têm onde pescar. Isso é uma força coletiva, nós construímos isso. Isso não tem mérito. Utilizo bastante a imprensa para transmitir esse pensamento. É de nós para o amor, tudo é pra isso acontecer.
Por que acha que faz mais sucesso lá fora do que no Brasil?
O problema é que eu mostro muito as feridas e tem muita gente que não quer ver. O feudalismo é muito forte aqui, é pior do que acarajé. Quero merecer as coisas do Brasil. Lancei Candobless e um jornal importante do Sul mandou as pessoas não ouvirem o CD. É assim o Brasil. Somos desatentos mesmo. Mas um dia eu vou merecer. Quero ser Carlinhos. É um fracasso o que se faz aqui. Não estou sendo crítico porque não combina comigo. Levei um milhão de pessoas para as ruas de Madri e publicaram que eu tinha levado lixo. Mas vou arrebentar, quebrar tudo no mundo, quem quiser que fique aí, achando que está cantando iorubá e que eu estou cantando onomatopéia. São coisas que a cultura oral preserva e que é necessário preservar. Eu quero o que me seja possível. Não corro atrás para fazer show a qualquer preço. Tenho uma proposta social para o Brasil.
Comente o seu sucesso.
Durante esse tempo, não consegui fazer hits no Brasil. Meu sucesso é lá fora.
Acha que o Carnaval pode melhorar?
Nós somos péssimos mesmo em diversão. Somos até alegres, mas não é por aí, felicidade não é isso. O que proponho é uma política. Nós podemos mudar. Aí, as pessoas dizem, você quer salvar o mundo. Quem sou eu. Acho que é isso, consciência. Que medo é esse de enfrentar coisas simples? Acho que nós, artistas, é que deveríamos fazer o Carnaval. O Carnaval tinha de estar em nossas mãos, nós é que sabemos o que é isso, sabemos fazer festa. O governo tem que facilitar, transmitir para a gente realizar. Não é uma festa só de trio, é a cidade que tem que mudar. Tem que puxar um tema, botar um pintor, homenagear a descendência.
O que pensa sobre a crítica musical?
Não é só na Bahia [que não há espaço para o surgimento de novos talentos], não é uma questão de faltar espaço. Mas não é um jogo, as pessoas têm pressa que uma estrela seja extremamente grande e polida. Os espaços precisam ser construídos. Precisamos de críticos mesmo, sem intriga. Há uma descredibilidade enorme, não só política, mas em muitos veículos [de comunicação].
E a música Cachaça?
Cachaça é uma embolada. Mas deixaram o hip-hop entrar no Brasil e tomar a força que tem. Mas, isso que digo não é uma reprovação. Não digo que as culturas externas são ruins, mas é preciso acreditar mais no que é produzido aqui. A miscigenação é a mão do fusionismo. Ficam falando em fusionismo, mas aqui, ele é a miscigenação. A Timbalada passa por um processo de popularização enorme . A Timbalada empresta um estilo rítmico para fazer essa coisa, o fusionismo. E queremos invadir as boates.
E a influência latina?
O Carnaval era latino, sempre foi. Sempre teve orquestras, foi merengueado. Começamos assim nos anos 80. Eu tinha uma proposta de relativização. Peguei Alegria Original [novo CD da Timbalada. Isso é uma escola de obra cafonista. Fui no ouvidão e no interesse de aprender.
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