MP pede anulação do concurso de Rei Momo

O Ministério Público Estadual (MPE) entrou nesta segunda-feira, 21, com um pedido de anulação da escolha de Clarindo Silva, de 58 kg e 1,70 m, para Rei Momo de Salvador. Por meio de uma ação civil encaminhada à 5ª Vara da Fazenda Pública, a promotora de Justiça da Cidadania, Heliete Viana, pede a realização de um novo concurso “na sua forma costumeira e tradicional, dentro dos aspectos que compõem o imaginário popular”. Segundo o órgão, a escolha de Clarindo foi “aleatória e arbitrária”.

A ação é dirigida à prefeitura, à Emtursa, ao Conselho Municipal do Carnaval e à Federação dos Clubes Carnavalescos da Bahia, que promove as anuais coroações. Se aceita pela Justiça, implicará a escolha de um Momo gordo até 48 horas antes da abertura oficial do Carnaval, dia 31 de janeiro. Heliete entrou com um pedido de antecipação de tutela, devido à proximidade da festa.

A decisão resulta de uma representação de autoria da Associação dos Gordos e Obesos de Salvador (Asgobs), que no início do mês contestou a escolha do rei magro, eleito sem o conhecimento da organizadora do concurso. Para que Clarindo subisse ao trono, o critério da massa corpórea foi extinto, passando a valer o peso da notoriedade social.

As regras foram mudadas durante o processo de escolha e sem o conhecimento dos candidatos gordinhos, para quem os mínimos 120 kg eram condição básica.

O antropólogo Roberto Albergaria atribui preconceito à escolha, “face a uma maioria estética de pessoas portadoras de sobrepeso, categoria tão discriminada pela ditadura televisual da magreza compulsória”. A fim de instruir o processo, Albergaria e o professor da Ufba Paulo Cézar Miguez foram ouvidos pelos promotores do MPE.

O magro Clarindo Silva, por sua vez, não teme ser despojado da coroa frouxa, que custa a equilibrar na cabeça. “Sou o maior representante da alegria e da diversidade, estou tranqüilo”, disse nesta segunda, atribuindo à federação carnavalesca qualquer responsabilidade na mudança dos critérios.