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29/09/2024 às 0:00 - há XX semanas | Autor: Rafael Carvalho, crítico de cinema

CINEINSITE

‘O Dia que Te Conheci’ é mais um retrato cotidiano palpável

Trama é conduzida com graça e leveza pelo cineasta André Novais Oliveira

Imagem ilustrativa da imagem ‘O Dia que Te Conheci’ é mais um retrato cotidiano palpável
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Marcado pelo tom sincero e naturalista com que retrata o cotidiano familiar, o cinema de André Novais Oliveira é hoje um dos mais pulsantes e consistentes da cinematografia nacional. Filmes como Ela Volta na Quinta (2014) e Temporada (2018) criavam imagens muito delicadas de dramas pessoais de gente oriunda da periferia de Belo Horizonte, cheios de complexidade humana.

O diretor mineiro acaba de lançar nos cinemas seu mais novo filme, O Dia que Te Conheci, comédia romântica que subverte certos padrões do gênero para encaixá-lo nesse cinema de afeto e singeleza que compõe sua caligrafia fílmica. Não é apenas uma maneira brasileira de fazer uma comédia romântica, mas sobretudo imbuída de uma “mineirice” perceptível nos detalhes e costumes locais.

A trama segue o típico conto do “homem que encontra mulher” no que eles acabam desenvolvendo uma aproximação amorosa, muito embora tudo nesse filme pareça seguir por caminhos levemente diferentes do usual, ainda que com resultados muito reconhecíveis a uma plateia acostumada aos dramas românticos.

Nada açucarado e seguindo um propósito realista de deixar as coisas acontecerem naturalmente, o filme faz jus ao título ao retratar um período de 24 horas na vida de Zeca (Renato Novaes). Seria um dia quase comum, caso ele não fosse demitido do emprego como atendente em uma biblioteca de uma escola primária por conta dos constantes atrasos – ele depende do transporte público para cruzar um longo trajeto até o local.

Quem lhe dá a notícia é uma colega de trabalho, Luísa (Grace Passô). Ela também lhe oferece uma carona para voltar para casa, já que está indo na mesma direção. Assim eles passam a se conhecer melhor, compartilham suas rotinas, pensamentos e dilemas – e algumas receitas de antidepressivos também. O grande charme de O Dia que Te Conheci é fazer desse encontro algo muito casual, a partir de uma péssima notícia, e brincar com as expectativas do público do que pode resultar tal encontro.

São muitos temas que perpassam pelas conversas dos dois e, em algum ponto, podemos até mesmo questionar se, de fato, a narrativa caminha para um desenlace amoroso. Ao mesmo tempo, é possível pensar em como o amor idealizado nesse tipo de filme parece eliminar outras nuances, que contam muito no fortalecimento dos laços de qualquer casal.

É nesse sentido que o filme não está interessado em seguir normas do gênero, mas passear por elas quando convém. Os atores não possuem padrões de beleza vistos nas comédias românticas de maior apelo comercial e há de se pensar até mesmo em quantos filmes do gênero são protagonizados por pessoas negras, da periferia de uma grande capital brasileira, mais gordinhas que os modelos difundidos pelo cinema hollywoodiano.

Estilo sólido

Por algum tempo, André Novais usava como atores de seus filmes os próprios familiares, que interpretavam versões muito próximas de si mesmos (como no curta Pouco Mais de um Mês e no longa Ela Volta na Quinta). Isso fazia com que as obras tivessem uma carga documental muito evidente, apesar de estarem calcadas em uma trama ficcional sólida e bem construída.

É interessante notar como o diretor solidificou esse estilo nos seus últimos trabalhos – e O Dia que Te Conheci parece ser o ápice desse processo –, mas conseguiu alcançar uma abordagem naturalista em que fosse possível distanciar os atores de certas personas muito marcantes (notadamente como pai, mãe, irmão e namorada em filmes anteriores).

Ao mesmo tempo, conseguiu manter uma dramaturgia que nos aproximasse facilmente desses homens e mulheres aparentemente singelos, mas cheios de questões, dores e desejos – um exemplo evidente disso está nos diálogos do filme que parecerem improvisados ou retirados da vida real dos atores, mas estão calcados em um roteiro muito mais técnico e preciso dentro da lógica do drama.

Renato Novaes é irmão do diretor (já apareceu em diversos outros filmes dele) e Grace Passô, uma das mais atuantes e interessantes atrizes e dramaturgas da cena teatral brasileira, repete a colaboração com o diretor depois de protagonizar Temporada.

Eles se tornaram caras bastante associados aos filmes do diretor – e consequentemente de outras produções da Filmes de Plástico, produtora de André com outros cineastas amigos –, mas também conseguiram criar figuras humanas que caminham com suas próprias pernas.

E esse é de fato um filme de atores, já que grande parte da trama se sustenta pelas trocas e conversas entre os dois. O que Passô e Novaes fazem aqui é um trabalho de gigantes, tão carismáticos quanto críveis nas suas fragilidades e potências humanas, fora a química imediata que existe entre eles e os toques de humor que pontuam a narrativa.

Tempo esgarçado

É bem bonito e mesmo impressionante ver o que André Novais faz aqui, com aparentemente tão pouco em termos narrativos, com uma cadência que parece tão comedida e desproposital, quase como se o filme não quisesse que o tempo passasse. A trama tem pouco mais de uma hora e mesmo assim está repleta de elementos que se ampliam a partir da experiência que Zeca e Luísa compartilham entre si quando estão juntos.

Não há pressa nenhuma em estabelecer os detalhes da rotina dele antes de chegar no trabalho – atrasado mais uma vez. Assim como a própria aproximação do casal, inicialmente visto com total distanciamento, leva seu tempo próprio para se firmar como possibilidade amorosa.

É esse esgarçamento do tempo que faz com que os encontros sejam transformadores. Um dia comum termina como um dia especial, e talvez cada espectador poderá dizer quando essa chave muda. Ou apenas os próprios personagens poderão perceber, com o distanciamento do tempo, quando é que o amor nasce.

O Dia Que Te Conheci / Diretor: André Novais Oliveira / Com Renato Novaes e Grace Passô / Veja salas e horários em cinema.atarde.com.br

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