O século XXII NÃO é logo ali
Confira coluna ACB em Foco desta quarta-feira
Tenho pressa. Não dá para esperar até 2154 para ver equidade de gênero no mundo corporativo. Segundo o Fórum Econômico Mundial, só daqui a 130 anos a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho será superada. Por que a humanidade avança rápido em tantas áreas, mas devagar em um tema tão decisivo? Para entender melhor, busquei informação e refleti sobre minha própria experiência.
Este ano, o Relatório Nacional de Transparência Salarial revelou que homens ganham, em média, 20% a mais que mulheres. E eles ainda dominam a maioria dos cargos. Sou mulher e CEO de uma empresa de comunicação, e isso aumenta minha responsabilidade. Na emissora que lidero, a gerência de conteúdo – core business do grupo – tem 50,98% de mulheres e 49,02% de homens, mas no total da empresa, a maioria é masculina (60%).
Estamos acima da média, mas sempre dá para melhorar. Precisamos de ações concretas para atrair e reter talentos femininos. Um RH preparado para conduzir processos imparciais é essencial, assim como treinamentos para reduzir a influência de vieses inconscientes no recrutamento. Outra estratégia é implementar políticas inclusivas no dia a dia da empresa. Os líderes devem seguir essas diretrizes para lidar com questões como assédio e a “síndrome da impostora”, quando a mulher duvida de suas próprias capacidades.
Além disso, precisamos reconhecer e enfrentar a dificuldade que muitas mulheres têm em equilibrar trabalho e família. A falta de uma rede de apoio, a ausência de creches e a expectativa cultural de que a mãe deve ser a principal cuidadora dos filhos são grandes barreiras. É crucial criar ambientes de trabalho que ofereçam opções flexíveis e apoio para as mães, incentivando a participação dos pais nas responsabilidades familiares.
É fundamental encorajar as mulheres a assumir posições de liderança, oferecendo apoio e oportunidades de aprendizado. E, por último, devemos construir uma cultura de diversidade, criando espaços para discussões abertas e sem preconceitos, sensibilizando as lideranças sobre a importância da equidade e promovendo ações sociais que beneficiem as trabalhadoras.
Recentemente, participei de um evento com empresários, políticos e gestores. Em um momento marcante, a baiana Mariana Lisboa, Head Global de Relações Corporativas da Suzano, mostrou fotos de solenidades e reuniões onde ela era quase sempre a única mulher em um grupo de homens. Eu me identifiquei com essa situação, e acredito que qualquer mulher em posição de liderança sentiria o mesmo.
Ainda estamos no início da jornada e os avanços são contínuos. No entanto, é urgente acelerar esse processo. Embora seja desanimador pensar que pode demorar tanto para as tataranetas das minhas netas viverem em um mundo mais igualitário, é animador saber que podemos encurtar essas previsões.