Mais competitivas
Confira a coluna Acréscimos
A seleção brasileira feminina de futebol venceu a Austrália por 3 a 1, e, Brisbane, na última quinta-feira, 28, no primeiro de dois amistosos que encerrarão a excelente temporada da equipe em 2024, que teve a medalha de prata na Olimpíada de Paris como ponto alto. O triunfo, que veio com autoridade, quebrou um tabu de oito anos sem bater as Matildas, e confirmou a evolução do time nas mãos do técnico Arthur Elias.
Ao contrário de muitos críticos, reconheço muita importância no trabalho longo e consistente da sueca Pia Sundhage, antecessora de Arthur Elias no cargo. Ela renovou o time e o deixou mais competitivo, mas falhou feio ao meter os pés pelas mãos em convocações cruciais, deixando de fora atletas importantes para o elenco e dando espaço a outras que já não mereciam tanto assim estar na equipe. Resultado, como se diz no jargão futebolístico: ‘perdeu o vestiário’ e a confiança.
Arthur Elias deu o passo que Pia não soube dar. Mexendo pouco no elenco, adicionando poucas peças, conseguiu deixar o Brasil ainda mais competitivo, ganhando a prata em Paris mesmo com inúmeros desfalques por lesão. E em seus primeiros jogos pós-Olimpíada, já se preparando para o Mundial de 2027, que será aqui no Brasil, o ex-técnico multicampeão no Corinthians tratou de acelerar a renovação do time, deixando-o ainda mais competitivo e capaz de encarar as equipes adversárias não apenas tecnicamente, mas também no jogo físico.
Contra a Austrália, pela primeira vez em anos, a seleção conseguiu superar as Matildas porque não sofreu com trombadas, jogo aéreo e luta por posse de bola. Repetiu em Brisbane aquilo que executou em Paris contra a Espanha, surpreendendo as campeãs do mundo, que esperavam um Brasil pouco combativo em campo (e que terminaram acusando as brasileiras de serem violentas na partida, o que não corresponde à realidade).
Mesmo sem Marta, que afirmou na Olimpíada que aquela era sua última competição oficial pelo Brasil, a seleção deve chegar ao Mundial como uma das favoritas ao título. Considero que a equipe ainda que esteja num nível abaixo de Espanha, Estados Unidos e Inglaterra, mas já alcançamos um patamar melhor ou parecido em relação a Japão, Suécia e Austrália, e com apoio da torcida, podemos sonhar com o título, por que não?
Se fracassa e falha miseravelmente com o planejamento do futebol brasileiro e da seleção masculina, a CBF tem créditos na evidente evolução da seleção e do futebol feminino no país. Com investimento crescente (muito aquém do masculino, diga-se de passagem) e cada vez mais apoio das emissoras de televisão, temos cada vez mais campeonatos competitivos, público aos estádios e atletas mais reconhecidas pelos torcedores.
Estamos ainda muito longe do ideal, mas medidas como regulamentações obrigando clubes da Série A a investir na modalidade, e organização e seriedade no desenvolvimento de competições aumentam significativamente a quantidade e qualidade de mulheres na prática profissional do esporte, assim como nas divisões de base.
Fico muito feliz ter acompanhado essa evolução e poderosa transformação do futebol feminino no Brasil, ainda que saiba que há um grande caminho a ser percorrido para transpor as barreiras do latente machismo que reina no esporte e a busca pela igualdade de gênero. O caminho, contudo, está cada vez mais bem pavimentado e tenho confiança que os grandes resultados aparecerão naturalmente.