A Bolsa é volúvel como a água

Louco de ciúmes, Otelo dizia que Desdêmona era volúvel como a água. A Bolsa de Valores também é volúvel como a água. É isso que explica a valorização das ações, que, provavelmente, vai fazer o Ibovespa atingir os 100 mil pontos em breve.
Para os investidores e especuladores da Bolsa, não interessa o presente, cujas estatísticas registram um desastre econômico, nem o futuro, com a previsão de queda acentuada do PIB no Brasil e no mundo: o que vale é esse intervalo entre o presente e o futuro.
O preço das ações está subindo porque, estabilizado o coronavírus nos países ricos, a economia voltou a crescer em forma de V, como previsto aqui, ou seja, após o fundo do poço, crescimento acelerado, como se vê na China e outros países. Mas outro fator faz a Bolsa disparar mundo afora: o excesso de liquidez, pois está sobrando dinheiro no planeta. Todos os países derramaram bilhões no mercado para compensar a paralisação da economia, através do aumento de dívida ou da impressão de moeda. Com juros baixos em toda parte, essa dinheirama está rodando o mundo em busca de rentabilidade.
E, como no Brasil a Bolsa caiu mais e o dólar valorizou mais que em outros lugares, o país ficou barato e as ações de muitas empresas estão de graça, especialmente daquelas que produzem o que os países desenvolvidos querem: commodities, como minério de ferro, celulose, soja e outros. Resultado: o fluxo de dólares se inverteu e bilhões entraram no país, derrubando a cotação do dólar e fazendo a Bolsa subir.
Mas, apesar disso, tudo é incerteza, tanto para a Bolsa quanto para a economia. Em primeiro lugar não está descartada uma nova onda de coronavírus pelo mundo, fazendo a retomada ter a forma de W, ou seja, após a queda, uma retomada, para, logo em seguida, nova queda. E, no Brasil, a crise do coronavírus está em vias de se agravar, e quando dois mil mortos por dia forem empilhados em frente do Palácio do Planalto teremos uma enorme crise sanitária, política e econômica. Então, o investidor estrangeiro vai embora e a Bolsa despenca.
E isso sem contar as estripulias de Paulo Guedes, que, de repente, deixou de ser liberal, esqueceu o déficit fiscal e a conta que virá pós-pandemia e está viabilizando um programa de renda mínima para todos, até para os informais. No Brasil, tudo é possível, por isso o investidor nacional que está entrando na Bolsa agora deve ter cautela, pensar no longo prazo e ter consciência de que a Bolsa é volúvel como a água.
Indústria na Bahia: 50% cresceram
A indústria baiana registrou uma queda histórica de 26% no mês de abril, em relação ao ano anterior. Mas pode-se verificar que quase 50% da indústria na Bahia não sofreu com a crise. Isso porque a produção de derivados de petróleo cresceu 4,2%, o setor de papel e celulose cresceu 5,6% e a produção de alimentos registrou um incremento de 1,8%, e esses setores representam quase 50% da indústria baiana.
A explicação é simples, o consumo de alimentos continuou crescendo na crise e os setores de
celulose e petróleo vendem para o mercado externo. Mas a produção de veículos caiu 97%; metalurgia, 35%; bebidas, 60%; e petroquímica caiu 12%.
A Covid e a Bahia
O enfrentamento da Covid-19 na Bahia e em Salvador foi feito de forma adequada e está poupando milhares de vidas. Mas quem examina os modelos vê que, exatamente por estar dando certo, o estado está empurrando o pico de casos para frente para com isso ampliar os novos leitos de UTIs, que no final do mês estarão disponíveis e vão salvar vidas. Mas, à medida que o tempo se estende, a pressão para a reabertura da economia aumenta e os índices de isolamento caem e, com isso, a taxa de contágio se amplia, o que requer novas medidas de isolamento. É uma luta inglória, mas o resultado pode ser um número de mortes bem menor na Bahia do que outros estados. Será uma vitória da boa gestão.