Cacau: o campeão voltou...
Confira a coluna do economista Armando Avena
O cacau já foi o principal produto da economia baiana. Houve um tempo em que a Bahia era o maior produtor de cacau do mundo e liderava a pauta de exportações do estado. O "fruto de ouro" enriqueceu famílias inteiras, criou os famigerados coronéis e muitas pessoas saíram da sua terra em busca do progresso que as terras do cacau prometiam. Tão forte foi essa economia que seus personagens se entranharam no imaginário popular e Jorge Amado tornou-se um dos maiores escritores do mundo contando a saga do cacau em livros como São Jorge dos Ilhéus, Terras do Sem Fim e Gabriela, Cravo e Canela. Em meados dos anos 80, mais de 400 mil toneladas de amêndoas foram colhidas no país e a Bahia era de longe o maior produtor. O cacau era o campeão quando se tratava da economia baiana. Foi um dos principais ciclos econômicos da história da Bahia, embora não beneficiasse o estado como um todo, pois os excedentes gerados não eram investidos aqui e vazavam para o Sudeste, transformando-se na maioria das vezes em gastos supérfluos e em apartamentos em Ipanema e Leblon. Mas os cofres da Bahia permaneciam abarrotados e muitos investimentos foram frutos dessa riqueza. De repente, a prosperidade acabou. Com a demanda internacional em alta, os países africanos ampliaram desmedidamente sua produção e os preços no mercado internacional despencaram. E, então, um fungo originário da Amazônia, chamado de “vassoura de bruxa”, chegou ao Litoral Sul da Bahia não se sabe exatamente como e apodreceu os frutos, destruiu as plantações e gerou uma crise de grandes proporções. A economia do cacau desabou e de tal modo que a produção caiu de 400 mil toneladas para menos de 150 mil. E no porto de Ilhéus, que já exportou mais de um bilhão de dólares em sacas de cacau, hoje se exporta soja.
Não cabe aqui seguir contando a história que todos sabem, mas cabe dizer, com toda a precaução possível que o campeão voltou. Uma série de fatores como o envelhecimento das lavouras na Costa do Marfim e Gana, os dois maiores produtores mundiais, e os problemas climáticos reduziram a produção e, com a demanda em alta, o preço do cacau disparou no mercado internacional em 2024, atingindo o preço recorde de US$ 6.884 por tonelada na bolsa de Nova York. Em linguagem ilheense: R$ 500,00 pela arroba de 15 quilos de cacau, mais que o dobro da média. Os produtores baianos e de outros estados estão exultantes, afinal, pela primeira vez em 35 anos estão lucrando com o cacau, pois desde o advento da “vassoura-de-bruxa” só quem lucra são as multinacionais. As fábricas de moagem, que fornecem cacau ao mundo, a exemplo da americana Cargill e da suíça Barry Callebaut, sempre praticaram preços abaixo da média e quando os produtores reagiam ampliavam as importações do cacau da Costa do Marfim e da Indonésia. Agora estão tendo de pagar o preço justo. E hoje, o cacau é outro, são plantas clonadas que resistem ao fungo e o cacau cabruca, que protege a mata e viabiliza a produção de cacau fino, mais caro e de maior qualidade.
Vale lembrar que a alta do preço do cacau reflete o déficit de matéria-prima no mercado mundial e não vai durar sempre. No curto prazo não tem problema, estima-se para este ano um déficit global de 374 mil toneladas, o terceiro consecutivo. Na Bahia houve quebra de safra em 2023 e foram produzidas apenas 114 mil toneladas, ou menos de 30% do que produzia nos tempos áureos. Ou seja, tem preço, comprador e não tem cacau, mas a safra vem aí. No entanto, é preciso ter cuidado, o ideal é o produtor se capitalizar, investir na produção e não abandonar o cacau fino que é mais valorizado no mercado. De todo modo, tem sido bom para o produtor, e para a região. O campeão voltou.