O balanço do 1º semestre e os desafios do segundo
Confira a coluna de Armando Avena desta quinta-feira
Em fevereiro deste ano, estive em uma reunião em São Paulo e encontrei o empresariado em polvorosa. Todos especulavam sobre os riscos de um governo de esquerda, intervencionista, que eliminaria o teto de gastos e passaria a gastar como se não houvesse amanhã. Haddad, já nomeado, não era do ramo e as falas de Lula do tipo, “gasto em saúde e educação é investimento” e “a Eletrobras deve ser reestatizada” indicavam que o fim do mundo estava próximo.
Mas “o diabo é o diabo não porque é sábio, mas porque é velho”, por isso, brandindo minha experiência e a condução da política econômica nos governos de Lula, discordei. Haddad era um negociador nato, Lula um político pragmático e, em se tratando de economia, seu lema sempre foi: Tra il dire e il fare c'è di mezzo il mare. Ou seja, entre o dizer e o fazer ... o mar, e é esse mar que separa a retórica do presidente – cujo objetivo é agradar a militância – da realidade.
Não deu outra, passados seis meses de governo, Fernando Haddad tornou-se o queridinho da Av. Faria Lima e a economia voa em céu de brigadeiro. O governo não se rendeu à gastança, Haddad se mostrou mais austero do que se previa e sua capacidade de negociação resultou na aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária na Câmara de Deputados.
Os indicadores econômicos do 1º semestre mostram que a safra recorde e a taxa de juros nas alturas derrubaram a inflação que, medida pelo IPCA, registrou deflação em junho e caiu para 3,19% no ano, cada vez mais próxima ao centro da meta de inflação do Banco Central. O dólar caiu 10% frente ao real nos últimos seis meses, para os atuais R$ 4,75, a menor taxa desde abril de 2022, e a bolsa de valores registrou uma alta de 15% entre abril e junho e atingiu 122 mil pontos.
Já o Produto Interno Bruto (PIB) do 1º trimestre de 2023 cresceu 4% comparado ao 1º semestre de 2022. Esse crescimento deve-se fundamentalmente a agropecuária brasileira e a safra recorde de grãos, mas deve-se também a manutenção dos níveis de consumo, já que o mercado de trabalho continua gerando emprego e são maiores as transferências de renda via Bolsa Família.
E para completar o cenário, a agência internacional de classificação de risco Standard & Poor’s elevou o grau de investimento do Brasil de “estável” para “positivo” e, ontem, a agência Fitch fez o mesmo.
O cenário é muito bom, mas há desafios para o 2º semestre. O maior deles é a redução dos juros que já começam a impactar o crescimento do PIB. O IBC- Br, que é uma prévia do PIB, já indicou uma queda de 2% em maio e os juros precisam cair para não travar o crescimento. Será preciso também aprovar a reforma tributária e o arcabouço fiscal no Senado, e dar início à reforma tributária da renda. Além disso, será necessário ter base política no Congresso para aprovar medidas para garantir o déficit zero em 2024 e medidas provisórias como o Desenrola e a própria lei orçamentária.
Esse é o cenário e, de acordo com todos os indicadores, demonstram que, em se tratando de economia, o governo voa em céu de brigadeiro.