O impacto da queda nos juros
Confira a coluna de Armando Avena desta quinta-feira
O Comitê de Política Monetária (Copom) finalmente reduziu a taxa de juros no montante de 0,5%. A queda poderia ter sido maior, pois os fundamentos da economia, especialmente a inflação que, medida pelo IPCA já encostou no centro da meta, já permitiam uma redução de 0,75%. De todo modo, é um avanço, pois sinaliza o início do ciclo de queda nos juros e em economia as expectativas são mais importantes que o fato.
Se a taxa de juros caísse apenas 0,25%, como estava previsto, significaria um juro real na casa dos 10% e teria pouco efeito para o estancamento da desaceleração da economia, já detectada pelo IBC-Br, que é uma prévia do PIB e em maio registrou uma recessão de -2%.
A queda nos juros é fundamental para garantir que o crescimento econômico supere os 2% previstos. Os efeitos se darão em todos os níveis, gradualmente. Para começar, os bancos, que baseiam suas taxas na Selic, vão reduzir os juros nos empréstimos, tornando o crédito mais acessível para a população. Com o crédito mais barato, o dinheiro circula mais e aquece a economia. Assim, o financiamento de automóveis, imóveis e eletrodomésticos vão ficar mais baratos e isso vai estimular o consumo e dinamizar diversos setores.
A queda dos juros na ponta do sistema não vai ser imediata, especialmente em áreas como o crédito imobiliário, mas, com nova reduções nas próximas reuniões, haverá um efeito multiplicador em toda a economia e é possível, desde que não haja fatos extraordinários, que o PIB cresça mais de 3% em 2023. O estabelecimento do ciclo de queda nos juros vai ter efeito no mercado de trabalho, onde a taxa de desemprego caiu para 8% mesmo com juros escorchantes e, com a ampliação das vendas e dos investimentos, haverá aumento nas contratações.
Ao reduzir a taxa de juros, o Banco Central começa a alinhar a política fiscal com a política monetária, ou seja, se há austeridade fiscal e se a inflação está sob controle, os juros podem cair. E esse movimento vai estimular os investimentos, pois vai ficar mais barato a tomada de recursos de terceiros para aplicar na atividade produtiva.
Além disso, à medida que a taxa de juros for caindo, vai ficar menos rentável a aplicação em papéis e nos fundos de renda fixa e a taxa de retorno nos investimentos produtivos vai aumentar. Os juros mais baixos vão estimular o investimento interno e atrair capital externo, não o capital especulativo que vem por causa dos juros altos, mas o capital produtivo que gera emprego e renda.
E quando o mercado de renda fixa perde atratividade, a bolsa de valores, volta a ser uma boa alternativa para os investidores, que buscam maior rentabilidade no longo prazo. Além disso, juros mais baixos implicam em despesas financeiras menores, aumento de consumo e produção nas empresas, e isso desperta maior interesse dos investidores nas corporações de capital aberto e eleva as cotações das ações. A decisão de reduzir os juros em 0,5% foi boa para o país, mas poderia ter sido melhor.