Por que a cotação do dólar está oscilando?
Confira a coluna do economista Armando Avena
A cotação do dólar atingiu ontem R$ 5,65, e a pergunta que mais ouvi foi: por que o dólar está oscilando tanto no Brasil? Sempre que sou confrontado com essa pergunta lembro de Edmar Bacha, que disse que Deus inventou a taxa de câmbio para humilhar os economistas. É que são muitas as variáveis que entram na sua composição, e é quase impossível afirmar qual deveria ser a cotação exata do dólar.
Em uma economia que adota o câmbio flutuante, a cotação do dólar é definida pela relação entre oferta e demanda. Assim, se a procura de dólares é maior que a oferta há uma alta no dólar e vice-versa. Entre os fatores que fazem a cotação do dólar subir ou descer está o saldo na balança comercial, o saldo dos gastos de turistas brasileiros e estrangeiros, a diferença entre a taxa de juros do Brasil e dos EUA, e o movimento dos investidores.
Há também fatores de política externa e interna. Neste momento, por exemplo, a moeda americana está se valorizando no mundo inteiro, por conta das incertezas políticas, e porque o Banco Central dos EUA ainda não reduziu os juros. São fatores que fazem os investidores correrem para a moeda americana, que ainda é a mais segura do mundo, e é por isso que o preço do dólar mudou de patamar em vários países, inclusive no Brasil, elevando-se de R$ 4,9 no início do ano para R$ 5,5.
Essa mudança de patamar deslocou a curva, mas a cotação não segue subindo, está oscilando, como deve ser num regime de câmbio flutuante. Essa oscilação leva algum risco para a economia brasileira e pode resultar em uma disparada na cotação do dólar?
A resposta é um sonoro não! Por uma razão simples: a oferta de dólares no Brasil está equilibrada e não falta dólar no mercado. O superávit na balança comercial brasileira no 1º semestre de 2024 foi de US$ 42,3 bilhões; o investimento direto no país somou US$ 31,6 bilhões e, embora se registre a saída de capital especulativo por causa dos juros altos nos EUA, o balanço da oferta e demanda de dólares está mais ou menos equilibrado. Bem diferente, por exemplo, da Argentina, que se liberar o câmbio, como está liberado no Brasil, a cotação dispara. Isso sem falar que o Brasil tem 355 bilhões de dólares em reservas, o que torna impossível uma crise cambial ou uma disparada na cotação da moeda americana.
Política fiscal
Mas as oscilações aqui são maiores que em outros países, e alguns analistas afirmam que a causa é a política fiscal. Não faz muito sentido. Claro, a política fiscal do governo deveria ser mais austera, mas não há crise fiscal que justifique a alta do dólar, afinal, existe um arcabouço fiscal e ele está sendo respeitado. Agora mesmo, o governo cortou e contingenciou gastos no montante de R$ 15 bilhões ao perceber que as contas não iriam fechar. E, embora o país não vá alcançar o déficit zero este ano, o resultado vai ficar no limite inferior previsto em lei: déficit da ordem de R$ 28 bilhões, um desempenho melhor que em muitos anos da década.
É certo que o governo precisa ser mais rígido na questão fiscal e admitir que não há mais espaço para aumentar a carga tributária, mas estamos muito longe de uma crise nas contas públicas que pudesse afetar a paridade com o dólar. Aliás, se isso estivesse acontecendo, as agências internacionais de risco não elevariam a nota do Brasil. A oscilação maior da cotação do dólar é resultado de outros fatores, entre eles, o fato do Banco Central ter deixado de vender dólar no mercado futuro, como sempre fez.
E também porque o mercado cambial no Brasil é amplo e há grandes investidores que divulgam uma suposta narrativa de crise fiscal e apostam na alta ou na queda da moeda americana para ganhar dinheiro. Por tudo isso, investir na disparada do dólar é furada. A cotação do dólar pode até subir no curto prazo, mas logo voltará a cair e deve fechar o ano na casa do R$ 5,30, um pouco mais ou menos.