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Por Eduardo S Darzé*

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ACERVO DA COLUNA
Publicado terça-feira, 14 de junho de 2022 às 13:15 h | Autor:

Civilidade e Decência

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Imagem ilustrativa da imagem Civilidade e Decência
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A diferença entre os seres humanos e os outros animais está na liberdade do primeiro de renunciar aos seus instintos e pulsões, modular os seus desejos e aceitar os limites impostos pelo convívio em sociedade. É a partir desse salto evolucionário – apesar do custo psicológico individual – que a humanidade se distancia da barbárie e da brutalidade, e mergulha na cultura e na civilização.

Observando a nossa forma de relacionamento e comunicação no século XXI, parece que o homem resolveu abdicar de sua condição de Sapiens e se restringir apenas ao seu gênero Homo. Quando foi que o argumento foi substituído pela agressão? Em que momento a mentira patente se tornou um recurso retórico? Por que razão a difamação pública passou a ser a primeira instancia do debate? Como pudemos priorizar o proselitismo raivoso em detrimento de nossas relações interpessoais?

Sorrateiro e ardiloso, esse novo modus operandi vem contaminando não somente o debate político, mas também as relações entre familiares, amigos, médicos e pacientes, consumidores e prestadores de serviço. Espero que as ciências humanas decifrem as causas desse triste fenômeno, mas o que precisamos agora para salvar essa sociedade doente são doses altas e contínuas de civilidade e decência.

Civilidade pressupõe respeito e tolerância mútua, regras decisivas para o convívio saudável e produtivo. É preciso aceitar a legitimidade do outro e seu direito de existir, opinar e exercer uma vida plena em todas as suas esferas. A transformação dos nossos oponentes – no âmbito político ou na sociedade civil – em inimigos abre uma porta perigosa para a violência, a repressão e fragiliza as bases da nossa democracia.

Um pouco mais de decência também contribuiria para mudar o status quo. Não no sentido moralista ou politicamente correto, mas como atributo daqueles que se importam, cuidam e valorizam uns aos outros. As pessoas não podem ser resumidas a fascistas e comunistas. Não é aceitável comemorar mortes de pessoas não vacinadas ou normalizar a letalidade policial, pra citar apenas alguns dos flagrantes de indecência. Substituir as certezas e intransigências burras por uma postura mais honesta e modesta ajudaria na construção de um diálogo mais franco tão importante nesse momento de polarização extrema.

Compromise é uma palavra da língua inglesa que traduz a necessidade de negociação, de abrir mão de algumas demandas para obter outras, de ouvir para ser escutado. O momento em que vivemos no Brasil e no mundo requer, como disse Henry Kissinger, a construção de um equilíbrio de insatisfações. Mas para tanto, precisamos fazer jus ao percurso evolutivo da nossa espécie e abraçar definitivamente a civilidade e a decência como valores humanos intocáveis.

*Eduardo S Darzé é médico cardiologista

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