Mineração e a ‘Licença Social’
Confira o artigo do diretor do WWI no Brasil
Avanços e desafios da mineração foram destaques da Expo & Congresso Brasileiro de Mineração (EXPOSIBRAM 2023), realizado pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), de 28 a 31 de agosto, em Belém (PA). Eles revelam como as empresas, pressionadas por demandas globais, colocaram a agenda ODS/ESG na pauta do dia. “Precisamos que as lideranças participem e sensibilizem suas direções para que a gente tenha uma legitimidade maior em um projeto desenvolvido em conjunto com todos vocês”, disse Alexandre Mello, diretor de Mudança do Clima do IBRAM.
Gestores das maiores empresas do País tambem se manifestaram. “O ESG tem de ser algo incorporado à cultura das empresas. O grande desafio é internalizar isso e fazer com que os executivos, as lideranças e as comunidades entendam e deem as informações necessárias de forma genuína", afirmou Rafael Bittar, vice-presidente da Vale. Por sua vez, Othon Maia, diretor de Sustentabilidade da AngloGold Ashanti, acrescentou: “A questão da relação com as comunidades e da transição energética são temas em transformação, não são temas estáticos. A cada ano, a gente vê uma mudança de patamar que está sendo acompanhada pelas empresas”.
Alinhados com o Prospectors & Developers Association of Canada (PDAC), a principal convenção anual de mineração que representa mais de 7.500 membros em todo o globo, com representantes de 135 países, e reconhecido como referência em inovação e sustentabilidade no setor, os associados do Ibram afinam as vozes. Raymond Goldie, presidente do PDAC, que conhece os potenciais minerais do Brasil, e da Bahia, está atento aos movimentos, especialmente em função do reconhecimento internacional como potência minero-energética.
O setor mineral é um dos maiores consumidores de energia do mundo. À medida que as energias renováveis se tornam mais acessíveis, avalia-se o que as empresas mineradoras têm a ganhar e, principalmente, como elas podem abastecer a indústria de energia renovável, fornecendo os minérios que precisam. Este é um dos focos do PDAC, que trabalha para apoiar um setor mineral competitivo, responsável e sustentável. A Rede WWI (Worldwatch) vem acompanhando globalmente tanto as indústrias de energia renovável, quanto as de mineração, que compartilham objetivos e incentivos.
Responsável por entre 4 e 7% das emissões globais de gases com efeito de estufa, a mineração, mais do que qualquer outra indústria, enfrenta grande pressão por parte dos governos, dos investidores e da sociedade para reduzir as emissões. De acordo com estudo realizado pela Deloitte, a incorporação de energias renováveis pode reduzir os custos operacionais em 25% nas operações mineradoras existentes e até 50% nas novas minas. Dado que o uso de energia constitui cerca de 30% dos custos operacionais totais da maioria das minas, vale a pena considerar estratégias de longo prazo que possam acomodar as crescentes necessidades energéticas da forma mais sustentável e econômica.
O Towards Sustainable Mining (TSM - Rumo à Mineração Sustentável) da Mining Association of Canada (MAC), é um programa reconhecido globalmente que apoia empresas de mineração na gestão dos principais riscos ambientais e sociais, fornecendo às comunidades informações valiosas sobre o desempenho das operações em suas áreas, como extensão comunitária, gestão de rejeitos e biodiversidade, permitindo que as mineradoras transformem compromissos ambientais e sociais de alto nível em ações concretas locais.
O Brasil é, hoje, o quarto consumidor global de fertilizantes e o maior importador mundial de NPK (nitrogênio, fósforo e potássio).
Investimentos em exploração mineral e na descoberta de agrominerais mostram também que parte do que é considerado resíduo de mineração pode constituir uma fonte de nutrientes para a agricultura.
Destacada na geração de energia solar e eólica, a Bahia tem hoje 268 usinas em operação, somando as duas fontes - 227 usinas eólicas e 41 solares em funcionamento. Até 2025, mais de R$ 50 bilhões serão investidos no estado com a implantação de outras 74 usinas (63 eólicas e 11 solares), oferecendo potenciais abundantes de energias renováveis para mineração, segundo informações da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do estado.
Neste novo cenário, a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), fundada há 50 anos, presente na Exposibram, está ciente que a `Licença Social´ outorgada pela comunidade é, entre todas, a mais cobiçada por estar ligada à reputação das empresas. Inovando, a velha empresa de pesquisa migra para a visão de 'Agência de Fomento e Pesquisa à Mineração' atraindo assim atenções do Ibram e do capital estrangeiro, interessados nos potenciais locais minerários e de energias renováveis.
*Eduardo Athayde é diretor do WWI no Brasil