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O ‘negão’ ACM Neto na verdade é um branco racista

Candidato desrepeita o regramento eleitoral e violenta luta histórica do movimento negro brasileiro

Publicado domingo, 25 de setembro de 2022 às 00:00 h | Autor: Yuri Silva*

O pseudo ‘negão’ ACM Neto, ex-prefeito de Salvador e postulante ao Governo da Bahia, é mais um branco racista que se utiliza do poder e da impunidade que lhes são conferidos para atentar contra direitos da população negra.  

Ao declarar-se pardo para usufruir de recursos destinados a candidatos negros (pretos e pardos), o herdeiro da família Magalhães desrepeita não só o regramento eleitoral, mas violenta a luta histórica do movimento negro brasileiro, que, ao longo pelo menos das úlltimas seis décadas, vem lutando de forma sistemática e organizada por uma pauta longa de efetivação de direitos sociais.

Essa agenda antirracista representa o desejo de igualdade entre brancos e negros nos poderes econômico, social e político da nação. Falamos de 56% da população do Brasil que não se enxerga representada nos espaços mais importantes do país, de acordo com dados do IBGE – o mesmo instituto de estatística que, embora renomado, é alvo de deboche de ACM Neto quando ele diz na TV que se considera pardo, mas não negro, e que o instituto está equivocado na classificação de raça/cor que trata como negros a soma de pretos e pardos.

O deboche é também contra a pauta de reivindicações do ativismo negro e todo um povo que, após 400 anos de escravidão negra, foi secularmente excluído da política; está costumeiramente alijado das direções partidárias, seja de direita ou de esquerda; que representa parcela irrisória dos cargos parlamentares; e também está fora do Poder Judiciário.

A fala do ex-prefeito demonstra, ainda, falta de letramento racial que soa estranho para alguém com acesso à educação formal. Reflete, contudo, o pensamento ao mesmo tempo distorcido, conveniente e desinformado da elite brasileira – e de setores correlatos – sobre a representação de raça/cor. Trata-se da chamada afroconveniência, aquela que faz ACM Neto dizer que “se sente pardo” logo no ano em que negros recebem mais recursos eleitorais.

Deveria ACM Neto sentir-se assim todos os anos, durante o ano todo, e usufruir junto com a população negra baiana das violentas abordagens policiais, da chaga da fome, dos péssimos serviços públicos de saúde e educação e da falta de moradia que relega famílias inteiras ao relento das ruas.

Destino 

É esse o destino reservado à maioria do povo negro do Brasil e da Bahia, realidade que lutamos diariamente para mudar, e que o herdeiro do carlismo não conhece de perto. ACM Neto cometeu mais que uma fraude eleitoral; ele faz o que faz para, protegido pela impunidade, zombar da cara do povo negro.

Falamos do mesmo ACM Neto que presidiu o DEM, sigla que foi ao STF pedir o fim das cotas raciais. Ele não nega a tradição política e familiar. É mais um branco racista.

*Coordenador nacional do Coletivo de Entidades Negras (CEN) 

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