Para onde vai o crime
As organizações criminosas se apropriaram das transformações tecnológicas de armamento
Com a escalada da violência nas regiões metropolitanas, municípios médios e pequenos brasileiros, a raiz de tudo está fincada nas duas principais organizações criminosas nativas e ativas: Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital, ambas nascidas das entranhas dos presídios carioca e paulista.
No apogeu da ditadura, ataques ferozes às agências bancárias entraram no rol dos crimes contra a segurança nacional. Nesse conceito, assaltantes de bancos foram desembarcados no presídio da Ilha Grande, segundo narra a coletânea “Novas Tendências da Criminalidade Transnacional Mafiosa”, coordenada por Alessandra Dino e Walter Fanganiello Maierovitch.
Os criminosos, analfabetos ou semianalfabetos, conectaram-se com presos políticos, a maioria intelectual, com vivência universitária – e assim aprenderam com eles a resistir aos brutamontes agentes penitenciários, respeitar qualquer detento.
No desdobramento, concebeu-se o fundo coletivo: a comida, entregue pelas visitas, estocava-se e colocava-se à disposição da população carcerária, sem discriminação. Paralelamente, instituiu-se o sistema de voto para eleição do representante da comunidade junto à direção da unidade prisional.
Com a anistia aos presos políticos, os detentos comuns decidiram escolher seus próprios líderes e batizaram o grupo de Falange Vermelha, que evoluiu para o poderoso Comando Vermelho, controlador das favelas do Rio de Janeiro, além de submeter moradores às suas leis
A outra organização criminosa, Primeiro Comando da Capital, mantém sua sede em São Paulo e se autoconfigurou com o perfil da Máfia italiana. No final do século XX, Totò Riina, chefão dos chefões da temível Cosa Nostra, declarou guerra ao Estado italiano: ordenou a detonação de bombas, ao mesmo tempo, em Roma, Florença e Milão, trancafiando residentes em casa.
Há exatos 17 anos e cinco meses, com tática de guerrilha, o PCC incendiou ônibus em circulação, metralhou quartéis, distritos policiais e repartições públicas no território paulista. Depois de uma semana de confronto, 200 pessoas mortas, numa cidade sitiada e amedrontada. No período, a Polícia calculou que havia 18 mil homens integrantes do PCC. Pesquisadores acadêmicos, contudo, garantiram que o total deveria ser multiplicado por 10.
A verdade ampla, porém, é que as organizações criminosas se apropriaram das transformações tecnológicas de armamento, além das suas articulações com poderes políticos e econômicos. Antonio Costa, especialista em antidrogas das Nações Unidas, confessou que o dinheiro do narcotráfico regou instituições bancárias na crise internacional de 2008: US$ 400 bilhões detiveram a implosão do sistema. Pouco se sabe quem se beneficiou com o mutirão.
* Helington Rangel é professor universitário, economista, jornalista