Pós Covid: nova gestão hospitalar passa pela tecnologia
Após mais de dois anos de pandemia e com a bem-vinda melhora nos indicadores gerais da Covid-19 no Brasil, é hora de o setor hospitalar aprofundar a reflexão sobre os aprendizados que esse período nos forçou a vivenciar. Refletir não apenas sobre o legado, mas também sobre os gaps que precisamos preencher para garantir uma gestão mais eficiente, que promova melhores desfechos e eficiência clínica, assim como diminua os custos operacionais responsáveis pela altíssima inflação do setor de saúde no país, que a despeito da queda em alguns meses, apresentou recorde histórico no último levantamento do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), atingindo índice de 27,7%, no acumulado de 12 meses até setembro de 2021.
Acredito que os debates sobre esses temas passam, inevitavelmente, pela adoção das novas tecnologias da informação e seu impacto benéfico na eficiência operacional. Inteligência artificial, internet das coisas, uso de algoritmos e data analytics nos permitem acessar, monitorar e analisar milhões de dados gerados a cada minuto na operação de hospitais. Por isso, ainda que sejam altos, esses investimentos são essenciais para alcançar a necessária otimização dos incontáveis processos de uma unidade hospitalar.
Para dar um exemplo de como a tecnologia otimiza processos, recorro à metodologia utilizada no setor aéreo, que apresenta muita equivalência em termos de complexidade e sensibilidade de operação. O controle rígido de qualidade e a previsibilidade tem muito a ver com o que vivenciamos na operação hospitalar. Afinal, são milhões de vidas sob responsabilidade todos os dias. Não por acaso, empresas aéreas e aeroportos possuem altos níveis de automatização e controle inteligente de ações que minimizam riscos e trazem alta eficiência.
Adaptando recursos tecnológicos semelhantes aos utilizados no setor aéreo, vivo na prática os benefícios de contar com um Núcleo de Operação e Controle (NOC) para gestão hospitalar. Essa grande central de comando gera indicadores e informações monitoradas em tempo real para subsidiar estratégias relacionadas à experiência do usuário, possibilitando o controle de toda a operação, além de auxiliar na predição e na tomada de decisão dos gestores.
Com essa operação, geramos indicadores de qualidade médica e dos laudos, medimos a satisfação do paciente e mapeamos o volume de não comparecimentos e os atrasos em agendas. Cito um exemplo prático: em janeiro de 2021, a higienização completa de um leito após a alta de um paciente era feita em 144 minutos; hoje são 63 minutos – uma redução de 56% graças à adoção de novos equipamentos e do uso de elevadores exclusivos para os times de limpeza.
E, como o cuidado hoje passa pelo olhar coordenado do paciente, esses indicadores também trazem benefícios para a medicina diagnóstica. Aqui, cito cases como a redução de 20% no processamento de exames de ressonância magnética, reduzindo o tempo total de realização e retirada de exames; e o redirecionamento de equipamentos ociosos para unidades com demanda reprimida, ampliando em 15% as agendas disponíveis nos laboratórios.
Aprimorar os serviços e o atendimento aos clientes internos, externos, parceiros e fornecedores é fundamental para a sustentabilidade do setor de saúde. Assim como o combate ao desperdício. O uso racional de insumos e a adoção da medicina preditiva e preventiva traz ganhos imensuráveis aos pacientes e a toda sociedade.
Para mim, a inovação não se trata apenas de tecnologia, mas é um processo que envolve mudança cultural, mentalidade e integração: uma nova forma de pensar e agir, definição de papéis e responsabilidades, governança de produtos digitais. Mas sempre tendo as pessoas, sejam profissionais da saúde e pacientes, no centro de tudo. O parâmetro do sucesso passa por uma jornada fluída, em gerar mais valor para quem cuida, acolhe, e em facilitar a vida dos pacientes, por meio de uma experiência que ofereça o melhor desfecho clínico, que facilite a vida e promova bem-estar.
*Emerson Gasparetto é médico radiologista e diretor geral de Negócios Hospitalares e Oncologia na Dasa.