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A Tarde Memória

Por Cleidiana Ramos*

ACERVO DA COLUNA
Publicado sábado, 12 de março de 2022 às 6:02 h | Autor:

A TARDE passou a funcionar em sede própria na Praça Castro Alves

O prédio de seis andares e em estilo art déco foi o endereço do jornal ao longo de 45 anos

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O imóvel 
foi reconhecido como bem cultural da Bahia pelo Ipac
O imóvel foi reconhecido como bem cultural da Bahia pelo Ipac -

No ano em que completou 18 anos, A TARDE ganhou, em 12 de março de 1930, um grande presente: sua sede própria. Depois de funcionar na Rua da Preguiça e na Rua Santos Dumont, o jornal foi transferido para um imóvel construído especialmente para a modernização do seu parque gráfico. O prédio na Praça Castro Alves tinha seis andares e uma estrutura que permitiu a instalação de um moderno maquinário.

“A inauguração, hontem, do edifício próprio d´A TARDE, à Praça Castro Alves foi ensejo para que a população da cidade affirmasse, mais uma vez, as suas sympathias por esta folha, que somente ao seu apoio incessante deve a sua prosperidade. Muitos foram, os milhares de pessoas que nos trouxeram a sua visita trazendo-nos as suas saudações, que importavam em novo estímulo ao prosseguimento da nossa defeza destemorosa aos interesses da Bahia”. (A TARDE, 13/3/1930, p.2).

Imagem ilustrativa da imagem A TARDE passou a funcionar em sede própria na Praça Castro Alves
| Foto: Arquivo A TARDE

A cerimônia contou com uma benção do então arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, Dom Augusto Álvaro da Silva (1876-1968) e a presença de diversos convidados entre autoridades e intelectuais. Além da cerimônia para apresentação das novas instalações, a programação incluiu um jantar para os funcionários com a presença de representantes de um outro periódico em circulação na cidade: O Imparcial.

Em seu discurso, transcrito em terceira pessoa na cobertura da inauguração, o fundador do jornal, Ernesto Simões Filho (1886-1957) destacou a promessa de o jornal continuar servindo ao que fosse considerado interesse comum.

“Seu jornal continuaria sem dependências que não fossem as do interesse geral, servindo tão só à política da seriedade e da lealdade. Fora dahi, A TARDE não sanccionará jamais os processos das políticas de traições pessoaes, ou aos interesses collectivos”. (A TARDE, 13/03/1921, p.2).

Desde a fundação do jornal em 1912, Simões Filho tinha preocupação com a atualização gráfica e editorial. A busca de maquinário moderno e inovações, como a publicação de clichês, placas de chumbo utilizadas para a reprodução de imagens, pôde ser consolidada com a construção das novas instalações.

Na edição de 3 de março de 1930, os leitores de A TARDE foram avisados de que o jornal estava preparando mudanças também de conteúdo. Em conjunto à reforma gráfica, o periódico investiu em novos serviços, como o sistema de informações telegráficas por rádio.

“Além da machinaria aperfeiçoada que assegura ao jornal uma confecção graphica, tão rápida quanto perfeita, pois é a última palavra dos "ateliers" allemães e americanos, contamos offerecer ao público um abundante serviço de informações telegraphicas por intermédio de estações radio-telegraphicas Marconi, próprias, a se inaugurarem com o número commemorativo da grande reforma porque vae passar esta folha”. (A TARDE, 3/3/1930, p.3).

Imagem ilustrativa da imagem A TARDE passou a funcionar em sede própria na Praça Castro Alves
| Foto: Arquivo A TARDE

Marco

A primeira sede na Rua da Preguiça contou com um moderno sistema de impressão para a época por meio das linotipos. Pouco tempo depois a necessidade de atualização do maquinário provocou a mudança para a Rua Santos Dumont, mas Simões Filho desejava mais. Ao adquirir um terreno na Praça Castro Alves e, por meio de financiamento, ele deu início ao projeto de construção da sede própria.

O empreendimento se tornou possível, pois A TARDE em seus primeiros anos já havia conquistado um lugar de visibilidade em um mercado de imprensa diária que possuía vários títulos. As inovações gráficas, com o uso de clichês, por exemplo, associadas às estratégias das campanhas em defesa de interesses públicos como a reivindicação de infraestrutura adequada para as escolas públicas, o retorno dos festejos do 2 de Julho em grande estilo, a construção de um monumento para Castro Alves, dentre outras, transformaram o jornal em um empreendimento rentável.

Imagem ilustrativa da imagem A TARDE passou a funcionar em sede própria na Praça Castro Alves
| Foto: Arquivo A TARDE

“Com a empresa superavitária, Simões Filho faz outra aposta. Levanta empréstimo de 400 contos de réis (o equivalente a Cr$ 400 mil) com o Banco Econômico da Bahia. Com o valor, ergue novo prédio, suntuoso para a época, na Praça Castro Alves, para o qual o jornal se transfere, no outono de 1930. Além disso, adquire a rotativa alemã Man e um novo sistema de clicherie e de radiotelegrafia – este último para captar, de forma mais eficaz, informações sobre os acontecimentos do mundo”. (A TARDE, 24/11/2007, p.15).

Imagem ilustrativa da imagem A TARDE passou a funcionar em sede própria na Praça Castro Alves
| Foto: Arquivo A TARDE

Na nova sede, o sistema de produção do jornal ocupou o primeiro andar com a instalação da redação, revisão e tipografia. No térreo foram instalados os escritórios da administração e, no subsolo ficava o sistema de impressão com destaque para uma rotativa de origem alemã que imprimia 16 mil exemplares por hora, uma atração para o mercado local. As outras dependências do prédio passaram a ser ocupadas por escritórios de serviços variados, inclusive consultórios médicos. Dessa forma, o jornal era feito em meio a uma rotina inovadora e próxima ao movimento do então centro financeiro e administrativo da cidade formado pela Rua Chile e pela Praça Municipal, especialmente.

Crise e mudança

Foi nessa mesma sede que A TARDE passou por uma grave crise: depredação de suas novas instalações e censura durante alguns dias. Com a chamada Revolução de 1930 e o início do período de intervenção no governo da Bahia, a sede do jornal foi invadida durante o protesto conhecido como Quebra Bondes, realizado contra a empresa que operava os principais equipamentos de transporte público em Salvador.

Participantes do protesto invadiram a sede do jornal e tentaram incendiar as instalações. A desconfiança recaiu sobre partidários da Aliança Liberal, o partido que levou Getúlio Vargas ao governo provisório que depois virou Estado Novo e durou 15 anos. Desde o início, Simões Filho, que, além de jornalista, militava na política, manteve-se na oposição no primeiro governo de Vargas. O jornal chegou a ficar 11 dias sem circular e Simões Filho partiu, em exílio, para a Europa.

Durante 45 anos, A TARDE ocupou a belíssima sede da Praça Castro Alves até que mudou para o atual endereço na Avenida Tancredo Neves. O jornal foi um dos primeiros equipamentos a instalar-se no novo centro financeiro de Salvador, ao lado do Shopping da Bahia e da Rodoviária de Salvador.

O prédio da Praça Castro Alves foi reconhecido como bem cultural da Bahia pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC) em ação provisória já a partir de 2010. Atualmente, o imóvel abriga o Hotel Fasano, mas a sua condição de sede do mais antigo jornal em circulação diária na Bahia, ainda em atividade, continua marcante no imaginário da cidade, inclusive como referência de localização e beleza por conta do estilo art déco.

A reprodução de trechos das edições de A TARDE mantém a grafia ortográfica do período. Fontes: Edições de A TARDE, Cedoc A TARDE. Confira mais conteúdo de A TARDE Memória, no portal A TARDE, e em A TARDE FM.

*Cleidiana Ramos é jornalista e doutora em antropologia

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