Festa baiana deu alento a Stefan Zweig, um intelectual em busca de esperança

A Lavagem do Bonfim de 1941 foi acompanhada de perto por Stefan Zweig (1881-1942). Ensaísta, biógrafo, romancista e dramaturgo ele foi uma celebridade no mundo intelectual do período. Austríaco, Zweig estava vivendo dias difíceis para o humanista convicto que era: a Europa estava envolvida em uma segunda guerra devastadora e o nazismo havia dominado a Alemanha da forte tradição de escolas filosóficas. Zweig via o seu mundo desmoronar e chegou ao Brasil com o projeto de escrever um livro, pois considerava uma esperança a diversidade cultural e étnica do país. A obra intitulada Brasil, um país do futuro foi publicada, mas ele recebeu inúmeras críticas, especialmente por apresentar uma visão otimista para um país que estava em meio a uma ditadura: o Estado Novo de Getúlio Vargas (1882-1954). No livro, ao falar sobre a Bahia, ele deu um destaque especial à Lavagem do Bonfim, manifestação pela qual ficou completamente encantado. Um ano depois da sua chegada ao país suicidou-se em Petropólis, Rio de Janeiro, ao lado da esposa, Elizabeth Lotte. Na carta que deixou estão as pistas do seu desespero: Adolf Hitler (1889-1945) estava obtendo sucessivas vitórias. Confira mais três informações sobre Stefan Zweig.
1. O desencanto com um mundo perdido
Após a I Guerra Mundial tudo estava diferente na Europa. A Alemanha saiu humilhada e para se reconstruir tornou-se uma república. A mudança de regime teve o melancólico fim com a ascensão de Adolf Hitler. A Áustria, o país natal de Stefan Zweig, vivia o ocaso do fim de um império. Encerrava-se, de forma mais ampla, o período de ouro do mundo germânico. “Viena (capital da Aústria) que foi um dia uma das cidades mais importantes do mundo estava em decadência. O mundo que encantou Zweig e do qual ao mesmo tempo ele era um expoente estava desmoronando ” destaca o doutor em filosofia e reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), professor João Carlos Salles. A Áustria se notabilizou por uma intensa vida cultural e revelou grandes intelectuais, com Sigmund Freud (1856-1939) que era um amigo muito próximo de Zweig. O escritor mudou- se para a Inglaterra, passou um tempo em Nova Iorque e em 1941 chegou ao Brasil, quando visitou Salvador e outras cidades como Cachoeira.

2. O especialista em xadrez
Stefan Zweig escreveu biografias, como as das rainhas Maria Antonieta e Maria Stuart, diversos ensaios, romances, mas também deu uma atenção especial ao jogo de xadrez. Em tempos em que a série O Gambito da Rainha, da Netflix, faz sucesso vale recuperar a obra desse autor sobre esse tema. “Viena foi um centro, uma meca enxadrística. Zweig não deixa de ter histórias de xadrez. Fez contos fantásticos nesse sentido”, diz o professor João Carlos Salles. Em Novela de Xadrez, os passageiros de um navio que parte de Nova Iorque com destino a Buenos Aires, incluindo um campeão no jogo, envolvem-se em uma trama de suspense e reflexões sobre o nazismo.

3. O monumento na Barra
Stefan Zweig foi homenageado com uma herma- um tipo de busto instalado em um pedestal- que foi fixada na Barra, em frente ao Hospital Espanhol. A construção ocorreu por meio de uma campanha para doações voluntárias lançadas por A TARDE. Em 1981, no centenário de nascimento de Stefan Zweig, a herma foi reinaugurada em solenidade registrada pelo jornal na edição de 29 de novembro.

Neste sábado, 9, confira mais detalhes sobre as impressões de Stefan Zweig sobre a Lavagem do Bonfim, registradas em seu livro Brasil, um país do futuro, na versão dessa coluna no jornal A TARDE.