Amor pela Kombi

Permita-me, nobre leitor, o diálogo em primeira pessoa. É por um simpático motivo. Nesta semana, precisamente no domingo, a Kombi celebrou 61 anos de vida. Ainda que tenha saído de linha há quase cinco anos, ela parece cada vez mais viva. Não estou falando das kombis que sobem e descem as ladeiras, as que são o veículo de trabalho de tanta gente, das kombis que ainda transportam estudantes e rurais, das kombis que brilham nos encontros de carros antigos Brasil afora. Estou falando de todas elas.
A Kombi foi nacionalizada em 03 de setembro do longínquo ano de 1957, em pleno desenvolvimento rodoviário durante o governo de Juscelino Kubitscheck. As primeiras unidades tinham metade das peças fabricadas aqui e a outra metade vinda da Alemanha onde ela nasceu em 1950 pela Volkswagen fruto da ideia do concessionário holandês Ben Pon. Foi líder de mercado do nascimento até a sua “morte” no sentido puramente figurado. Fosse fabricada ainda, teria sua fatia de mercado. Afinal, qual veículo carrega seu peso equivalente em carga com baixo custo de manutenção? Todos os brasileiros tem uma história marcante com ela ou a bordo de uma Kombi.
Este colunista, que tem na garagem um exemplar ano 1996, a última modelo “clipper”, cresceu dentro de uma Kombi Escolar, dirigida pela mãe, que tinha no veículo seu instrumento de trabalho. Nos finais de semana, limpava e encerava seu extenso piso e teto até o brilho surgir. Durante as viagens, quando era um menino, usava o porta-malas, conhecido como “chiqueirinho” para ver o mundo e os carros da estrada a partir da Kombi que era da empresa onde um tio trabalhava. Assim, a Kombi imediatamente ao sair de linha por força da obrigatoriedade de todo veículo fabricado no país oferecer air-bags dianteiros e freios ABS, ganhou status de veículo cult. É isso não só pelo filme “Pequena Miss Sunshine”.
A Kombi é um veículo democrático, leva até nove pessoas ou uma tonelada de carga. É versátil capaz de atender uma família numerosa ou um casal aventureiro. É simples de manter, fácil de gostar de sua estranha posição e se acostumar com o motor traseiro especialmente se for refrigerado a ar, seguindo a fórmula original. A Kombi é um veículo utilitário na essência. Não sai de moda. E apesar do seu projeto hoje antiquado, nenhum veículo conseguiu atingir sua versatilidade e seu custo. Assim há milhares de unidades ainda rodando e prontas para arrancar sorrisos de seus proprietários.