Novas convicções
Confira a coluna do jornalista Leandro Silva
A grande campanha do Bahia no Brasileiro vem mexendo até com os costumes da torcida tricolor. Anos e anos vendo o clube travando outro tipo de disputa, com menos charme, apenas pela sobrevivência na elite, fazem com que o torcedor ainda esteja se acostumando com muitas mudanças.
O nível de exigência parece aumentar, mas, ao mesmo tempo, a compreensão com uma jornada infeliz como foi vista contra o São Paulo, também tende a ser maior pelo entendimento de que o grupo tem entregado bastante durante a competição, dando orgulho, para nos colocar nessa nova realidade que ainda estamos tentando entender.
Ainda soa estranho, por exemplo, ver um jogador ser apresentado pelo clube e falar em chegar à Seleção Brasileira e ao título brasileiro sem soar como uma completa insanidade. Afinal, lá se vão anos e mais anos, desde que eu assistia aos jogos da Seleção com atenção especial para a participação de Luís Henrique, nosso representante na equipe de Parreira que trilhava o caminho para a Copa de 1994.
Quem será, por sinal, o nosso primeiro convocado depois de décadas? Acredito que não demorará a acontecer. Vale lembrar que o título brasileiro de 1988 alçou Bobô, Zé Carlos e Charles à Seleção.
Até a forma que a equipe joga vem quebrando paradigmas. Eu, por exemplo, devo confessar que sou um retranqueiro convicto quando o assunto é Bahia. Estou mais para Simeone do que para Guardiola. Deve vir daí a minha nada secreta afeição por Guto Ferreira.
Marca primeiro, fechadinho, com muita intensidade, sai nos contra-ataques, com pontas rápidos, centroavante matador na área, e pronto. Por sinal, descrevendo assim, até me veio à memória o time armado pelo treinador adversário de hoje, Roger Machado, com Artur Victor e Élber em velocidade pelos lados, com outro adversário de hoje, Gilberto, resolvendo na área.
Lembro, como hoje, que, inebriado, pelo gol de Ernando que confirmou a eliminação do São Paulo pela Copa do Brasil, enviei no grupo que tenho com meus irmãos no WhatsApp: “contrato vitalício para Roger”. A queda de desempenho no segundo turno de 2019, porém, mudou a minha ideia não muito tempo depois.
Depois de divagar pelas memórias afetivas, deixo claro que fiz esse preâmbulo para tentar dimensionar o feito de Rogério Ceni em me empolgar com esse estilo de jogo.
Se você tem boa memória e acompanha com atenção esse espaço, deve lembrar que já compartilhei minha pouca crença em um meio de campo tão leve quanto o nosso para suportar uma Série A.
Pelas minhas convicções, Caio Alexandre e Jean Lucas disputariam um lugar ao lado de um volante estilo Gregore. Hoje, entretanto, é difícil imaginar o time sem um desses dois pilares. E agradeço por Ceni ter outras convicções.
Sobre os meus antigos gostos, sigo me dando por satisfeito com as segundas etapas, quando vejo Ademir, Biel e Óscar Estupiñán prontos para oferecer altíssima velocidade aliada a imposição física na área. Sou fã de Fernandão e Nonato, não tem jeito.
Sem esquecer da entrada de Rezende para representar toda uma interminável linhagem de volantes que já nos defenderam em campo, com muita garra, sangue e disposição.
Espero que voltemos a nos acostumar logo com essa sensação maravilhosa de estar entre os melhores do País, buscando o topo. E que essa seja a nossa nova rotina.
Entre as minhas novas e antigas convicções, sigo agradecendo a Deus por ser Bahia. A essência não muda jamais.