Banalização da mediocridade
O futebol brasileiro patina, na organização e na gestão dos clubes e das federações
Existe quase um consenso no futebol, em todo o mundo, o que é raríssimo, que Manchester City e Real Madrid, dirigidos por Guardiola e Ancelotti, são os dois melhores times do mundo e os que dão mais espetáculo, coletivo e individual. Mesmo assim, com tantos elogios de outros treinadores, da imprensa, torcedores e jogadores, são raríssimas as equipes que seguem as filosofias e as estratégias de jogo do City e do Real. Estranho! Temos que aprender com os melhores.
A única seleção da Eurocopa e da Copa América que pressiona a maior parte do jogo, que tem mais o domínio da bola e espera o momento certo para acelerar em direção ao gol, é a Espanha. Rodri é o centro médio, o maestro do City e da seleção espanho. Se a Espanha tivesse um ótimo atacante finalizador, teria goleado a Itália na vitória por 1x0.
A única seleção da Eurocopa e da Copa América que possui uma estratégia e um posicionamento tático parecido com o do Real Madrid, é a Argentina. A diferença que no Real existe, além do trio de meio-campistas e do meia ofensivo Bellingham, uma dupla de atacantes (Vini e Rodrygo). Na Argentina, são três meio-campistas, Messi entre os três e o centroavante e mais o ponta Di Maria, que alterna pelos dois lados.
A Argentina venceu o Canadá por 2x0. Scaloni já prepara a saída de Di Maria que vai parar de jogar depois da Copa América. O técnico tem as opções de colocar um ponta veloz, driblador ou usar uma linha de quatro meio-campistas, como fez no segundo tempo contra o Canadá.
Scaloni tem mostrado, principalmente pelo que fez na copa, que é capaz de mudar com sucesso o esquema tático de varias maneiras de acordo com o momento do jogo.
O Brasil, que tem a dupla de atacantes do Real Madrid, que poderia jogar de uma maneira parecida com a do Real deve manter amanhã contra o Costa Rica os titulares dos amistosos e a mesma estratégia. É preciso dar boas condições para Vinicius Junior brilhar como no Real Madrid. No time espanhol, ele não é mais ponta que volta também para marcar nem centroavante. É um atacante que utiliza muito bem os espaços por todo o ataque.
Os nítidos e importantes problemas defensivos da seleção ocorrem porque há apenas dois jogadores que marcam no meio campo em um grande espaço e porque os zagueiros ficam distantes dos dois meio-campistas. Preocupados com a marcação os dois do meio campo deixam de construir as jogadas e de avançar, tarefas também importantes para os jogadores deste setor.
A Inglaterra decepcionou nos dois primeiros jogos da Eurocopa. O seu dilema é parecido com o do Brasil. O técnico escala os quatro ótimos meias ofensivos e atacantes (Bellingham, Folden, Saka, Kane) e deixa apenas dois jogadores no meio campo, sendo que um deles improvisado, o excelente lateral-direito Alexander Arnold.
O futebol brasileiro patina, na organização e na gestão dos clubes e das federações. Dentro de campo, há um grande numero de ótimos jogadores, alguns excelentes treinadores, mas precisamos evoluir, na qualidade individual e coletiva para aumentar as chances de ganhar a Copa do Mundo.
É necessário melhorar bastante a produtividade, um problema nacional, da sociedade. Como mostrou a Folha, em uma pesquisa entre os anos de 2010 e 2023, a produtividade do brasileiro é um quarto da dos americanos, o que prejudica o desenvolvimento.
Precisamos aprender. Infelizmente, neste mundo radicalizado, binário, em que é isso ou aquilo, as pessoas não escutam nem enxergam o outro. É a banalização da mediocridade.