Difíceis escolhas
Tostão é cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970
Se a seleção brasileira continuar dependente demais dos lances individuais, isolados, de estocadas e dribles dos seus excelentes atacantes, não vai dar certo contra fortes adversários. A individualidade está ligada à solidez coletiva, no controle da bola e do jogo. Se a seleção continuar alongada, deixando grandes espaços entre setores, com uma enorme distancia entre os jogadores mais recuados e mais adiantados, não vai dar certo.
Quanto mais atacantes têm a equipe, menos espaços para Vinicius Junior utilizar sua incrível velocidade, habilidade e talento. No Real Madrid, Ancelotti costuma atrair o adversário para contra-atacar com passes longos para Vinicius nas costas dos defensores.
Não dá para marcar com apenas dois jogadores no meio campo, pelo centro e pelos lados. Os pontas precisam voltar quando não é possível pressionar. O ponta direita costuma fazer isso, mas do lado esquerdo, Vinicius Junior não deveria ter esta função para aproveita-lo melhor nos contra-ataques. No Barcelona, Raphinha é escalado pela esquerda, com função de marcar e também de ir para o centro, perto do centroavante, para aproveitar sua excepcional finalização. No Real Madrid, Bellingham marca pala esquerda ao lado dos meio-campistas e avança pelo centro.
Não dá mais para uma equipe assistir á outra trocar passes. É fundamental pressionar no campo adversário para recuperar a bola. A seleção deveria fazer isso com mais frequência.
Nos últimos amistosos, ficou ainda mais evidente a pouca qualidade dos laterais e do centroavante para o nível de uma seleção brasileira. Existem várias opções, mas não há uma ótima solução. No meio campo, Bruno Guimarães não tem jogado como faz no campeonato inglês. Dorival Junior deveria tirar férias em janeiro na Inglaterra e aproveitar para ver os jogos do Manchester United e conversar com Casemiro. Ele com sua experiência, seus 32 anos tem melhorado no time inglês e, provavelmente, voltará a ser a melhor solução no meio campo.
Após o empate por 0x0 contra o Uruguai, Dorival disse que o processo evolutivo continua bem e citou os elogios de Bielsa à seleção brasileira. O técnico uruguaio falou que o Brasil será um fortíssimo candidato ao título mundial, ainda mais com Vinicius Junior e Neymar. Ele deve ter se referido ao Vini dos melhores momentos no Real Madrid e ao Neymar do Barcelona que, ao lado de Messi, foi disparado o melhor coadjuvante do mundo.
As dificuldades e as soluções para a seleção brasileira são muitas, difíceis de serem escolhidas. Espero que Dorival acerte no alvo.
Sombra da alma
O Inter, sob o comando de Roger Machado tem a melhor campanha do segundo turno no Brasileirão, mesmo com os problemas das enchentes no Rio Grande do Sul, que prejudicaram os treinamentos, as viagens e o emocional Roger, com sua lucidez e amplos conhecimentos merece estar entre os grandes técnicos brasileiros.
Nos últimos jogos do Brasileirão e das finais da Copa Sul-americana e da Libertadores, um fator importantíssimo e decisivo, que está presente em todos os jogos de futebol, é o emocional. Como ele não pode ser medido e não entra nas estatísticas é ignorado, como se não existisse. O corpo é a sombra da alma.