O jogo de futebol mora nos detalhes
Confira a coluna de Tostão: cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970
Os jogadores, treinadores e dirigentes de clube brasileiros deveriam protestar contra o número absurdo de jogos como fazem atualmente muitos jogadores europeus e as ligas desses países contra a FIFA, especialmente devido ao excesso de partidas no próximo mundial de clubes, mesmo que essa postura implique na diminuição dos salários dos jogadores. É preciso preservar a qualidade do espetáculo, prevenir tantas lesões musculares e cuidar da saúde mental.
O Brasileirão e as Copas do Brasil, da Libertadores e da Sul-americana estão próximas do fim. É o momento dos jogadores se superarem, dos técnicos usarem criativas estratégias, melhorar o equilíbrio emocional, os detalhes técnicos, táticos. Certamente os fatores inesperados e acasos entrarão em campo, embora a maioria ache que tudo que acontece em um jogo foi planejado e ensaiado.
Botafogo, contra Penarol, e o Atlético-MG contra o River Plate (a primeira partida foi ontem na Arena do Galo) possuem boas chances de fazerem uma final brasileira na Libertadores. O fato de o River poder decidir o título em casa em um único jogo cria um ambiente emocional favorável ao time argentino.
O Atlético-MG, único time brasileiro presente em três competições, flerta com o sucesso se ganhar os dois ou mesmo um título das copas e ao mesmo tempo corre o risco de um fracasso, se não for campeão e não conseguir uma vaga na próxima Libertadores via Brasileirão, já que está no nono lugar.
O Botafogo e Palmeiras devem decidir o título do Brasileirão. Os dois estão muito bem. O time carioca, que já tinha um ótimo conjunto, ficou mais forte individualmente com as chegadas de Igor Jesus, Luís Henrique e do argentino Almada. O Palmeiras evoluiu bastante quando se juntaram Estevão, cada dia melhor, Raphael Veiga, Richard Rios e Felipe Anderson. As finalizações e os cruzamentos de Raphael Veiga são decisivos. Em todo o mundo, aumenta progressivamente a importância da jogada aérea. O centroavante Flaco Lopes é um ótimo cabeceador.
Flamengo e Atlético-MG vão decidir a Copa do Brasil. Contra o Corinthians, após a expulsão de Bruno Henrique aos 27 minutos do primeiro tempo, quase todos os treinadores do mundo recuariam o time e deixariam um centroavante isolado. O jovem treinador Filipe Luís fez diferente. Tirou Gabigol, deixou o time sem centroavante e reforçou a marcação e a possibilidade de ter mais a bola. Funcionou bem. Porém, se o Corinthians tivesse feito um dos gols perdidos e classificado nos pênaltis, Filipe Luís seria bastante criticado.
Filipe Luís armou o time no inicio do jogo de uma maneira ousada, influenciado por Jorge Jesus, que foi seu técnico no Flamengo. Após a expulsão de Bruno Henrique, organizou a equipe no estilo defensivo de Simeone, que foi seu técnico no Atlético de Madrid. A capacidade de tomar decisões inesperadas é uma das principais qualidades de um treinador.
O Corinthians pode fazer a final da Copa Sul Americana contra o Cruzeiro e ao mesmo tempo ser rebaixado no Brasileirão, pois está entre os quatro últimos. Tudo é incerto. Descuidos e acasos mudam a história de um jogo e de um campeonato. O futebol mora nos detalhes.