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A reforma tributária anti-Bolsonaro

Confira a coluna Conjuntura Política desta segunda-feira, 10

Publicado segunda-feira, 10 de julho de 2023 às 06:25 h | Autor: Cláudio André de Souza*
Ex-presidente Jair Bolsonaro
Ex-presidente Jair Bolsonaro -

Em meio a dezenas de deputados do PL presentes na reunião em Brasília na quarta-feira passada (5), o ex-presidente Jair Bolsonaro fritou o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao ser derrotado na narrativa de que a reforma tributária se resumia a um “projeto petista”. Na verdade, trata-se do contrário, pois, o governo Lula teve habilidade para unificar forças sociais e políticas em torno da reforma e quando ela passou a ser negociada com os líderes partidários na Câmara dos Deputados já foi diante de um clima enorme de consenso.

A derrota de Bolsonaro na reforma tributária é evidente ao analisarmos os dados de popularidade nas redes sociais. Segundo pesquisa realizada pela Quaest entre às 19h de quinta (6) e às 15h de sexta (7) e que mediu 5,3 milhões de menções nas redes sociais. O monitoramento mostrou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o presidente Lula alcançaram mais menções positivas do que negativas relacionadas à reforma tributária no Twitter, Facebook e Instagram. O ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu a maior parte de menções negativas, isto é, apenas 29% de menções positivas, amargando 71% de negativas.

O ranking de menções mostrou que Haddad teve 78% de menções positivas e 22% de negativas, Lira teve 63% positivas e 37% negativas e Lula recebeu 58% positivas e 42% negativas. Prevendo a derrota, a máquina bolsonarista nas redes sociais repercutiu o chilique de Bolsonaro ao se voltar contra o governador paulista, levando Tarcísio a obter 49% de menções positivas e 51%, negativas.

Se este foi o termômetro nas redes sociais, o isolamento do bolsonarismo dentro da Câmara ficou ainda mais evidente. A aprovação da reforma foi diretamente articulada pelo governo e por Arthur Lira, uma vitória de ambos na consecução de um novo cenário na governabilidade do petista, que teve a habilidade de gerar um novo recorde no empenho de emendas aos congressistas, incluindo os deputados de oposição. Foram R$ 7,5 bilhões em emendas liberadas na semana passada, sendo R$ 5,3 bilhões em “emendas pix”, aquelas que são pagas diretamente a estados e municípios sem a necessidade prévia de um projeto de aplicação do recurso.

Segundo a Oxfam, no Brasil os 10% mais pobres gastam 32% de sua renda com tributos, enquanto os 10% mais ricos despendem 21%, o que justificaria que o governo buscasse no bojo da reforma ajustar um pacote de medidas complementares, visando a curto prazo tirar a classe média do sufoco. Mesmo assim, a aprovação da reforma tributária pode nos conduzir a um novo ciclo de desenvolvimento baseado em uma nova estrutura tributária mais eficaz e equilibrada. Cabe agora ao Senado conduzir os diálogos da proposta. 

*Cláudio André de Souza é Professor Adjunto de Ciência Política da Unilab e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições”. E-mail: [email protected]

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