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Bolsonaro será preso

Confira a análise feita pelo colunista Cláudio André

Publicado segunda-feira, 18 de março de 2024 às 06:33 h | Atualizado em 18/03/2024, 07:53 | Autor: *Cláudio André de Souza
Ex-presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro
Ex-presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro -

A decisão na sexta,15, do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes em suspender o sigilo dos depoimentos de militares à Polícia Federal (PF) trouxe à tona um plano articulado de sabotagem da democracia brasileira. Os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica, Marcos Freire Gomes e Carlos de Almeida Baptista Júnior, respectivamente, informaram detalhes sobre a participação ativa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em um plano golpista com início, meio e fim.

Não há novidade no fato de que a derrota eleitoral levou Bolsonaro e os aliados mais próximos a começar a articular uma estratégia desesperada para se manter no poder, visando impedir a posse legítima do novo presidente eleito. Quem não lembra que Bolsonaro se recolheu e vários interlocutores palacianos passaram a mandar mensagens cifradas publicamente de que o presidente havia se recolhido no silêncio do poder? Na verdade, ele liderava dentro e fora das ruas uma reação golpista calculada meticulosamente.

A cantilena golpista na porta dos quartéis agora parece fazer todo sentido por meio de uma lógica linear: no bojo das articulações políticas, os “patriotas” bolsonaristas pediam uma intervenção militar (leia-se, um golpe na democracia), organizando uma força externa voltada a legitimar na sociedade civil os golpistas palacianos. Ou seja, a retaguarda bolsonarista já expunha no seu cálculo político o objetivo final de concretizar um golpe de estado. A cumplicidade dos militares redundou no 8 de janeiro, mas as investigações em curso já relevaram a organização política do golpe.

A iminente prisão de Bolsonaro se respalda na base probatória dos fatos. O General Freire Gomes reiterou em seu depoimento que Bolsonaro em reunião com outros comandantes militares apresentou uma minuta do decreto golpista. Essa minuta previa o início de um estado de defesa, visando atingir o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Freire Gomes confirmou a reunião e a existência da minuta. Bolsonaro a descreveu como um “estudo” e prometeu relatar sua evolução aos comandantes. Já o Brigadeiro Baptista Júnior testemunhou uma reunião na qual Freire Gomes alertou Bolsonaro que a efetivação da minuta o obrigaria a prendê-lo pelo crime de subversão da ordem constitucional.

Nunca foram tão evidentes as provas da liderança de Bolsonaro na trama do golpe. No dia 23, movimentos sociais, sindicatos e partidos de esquerda planejam atos em todo o país para demarcar nas ruas a mobilização pelo pedido de prisão do ex-presidente. Como já sabíamos, a polarização eleitoral entre Lula e Bolsonaro foi entre a democracia e a ditadura. Colocar o ex-presidente na cadeia será um indicador de que vencemos mais uma batalha em defesa de um Estado democrático de Direito.


Cláudio André de Souza - Professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB) - [email protected]

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