De onde vem a força do PT?
Vitória de Lula põe o partido novamente sob a pressão e o pragmatismo que é liderar um governo nacional

A relevância dos partidos nos estudos coordenados por cientistas políticos marcou a produção de análises que tiveram como um dos precursores o professor francês Maurice Duverger, ao criar uma tipologia dual dos partidos políticos entre partido de quadros e partido de massa. O primeiro refere-se às organizações formadas por elites e lideranças notáveis formadas no século XIX e que atravessaram o século XX sob a forma ideológica de partidos conservadores e liberais.
A implementação do sufrágio universal a partir da segunda metade do século XIX e início do século XX se deu com a inclusão política de novos sujeitos sociais e políticos, levando ao desenvolvimento de partidos socialistas e comunistas de concepção marxista que entendiam a necessidade de incorporação da classe trabalhadora no ambiente político, formando um partido de massa com origem extraparlamentar.
Em razão do autoritarismo social e político, o nascimento de um novo partido de massas no Brasil com forte inclinação democrática se deu tardiamente em 1980 com a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), incorporando atores da sociedade civil como sindicalistas, militantes de grupos de esquerda e líderes de movimentos populares urbanos e membros das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que não fossem uma mera máquina partidária para a disputa sucessiva de eleições em prol da conquista de mandatos.
Os últimos anos desde a fundação do partido revela que o maior desafio dos petistas envolve a retomada de protagonismo no chão da sociedade e agora no “multiverso” das redes sociais por meio de um trabalho de base que deve estar acima do pragmatismo eleitoral.
A vitalidade de qualquer partido depende das condições dadas para um apoio político e eleitoral permanente na sociedade. Neste aspecto, o PT exerce uma centralidade no sistema partidário brasileiro. Desde 1989, em todas as eleições presidenciais realizadas, o PT esteve em primeiro ou em segundo lugar, protagonizando um padrão estável de competição política no país.
Apesar da profunda crise política vivida entre 2013 e 2018, que levou à perda consecutiva de mandatos e votos (o PT diminuiu quase três vezes a quantidade de votos a prefeito entre 2008 e 2020), a vitória de Lula põe o partido novamente sob a pressão e o pragmatismo que é liderar um governo nacional, no qual as condições políticas formadas pela coalizão não necessariamente coincidem com a ideologia do partido e dos movimentos sociais que apoiam o governo.
Na seara programática, o partido necessita ter estratégias de enfrentamento ao capitalismo global contemporâneo e dominar as novas formas de engajamento e organização dos trabalhadores brasileiros. Trata-se de um grande desafio rumo ao cinquentenário.
*Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020).