E o golpismo militar?
Desde maio de 2019 o ex-presidente passou a mobilizar a base bolsonarista contra os ministros do STF

Nas últimas semanas, após os ataques do 8 de janeiro, ficou ainda mais explícito que o plano golpista de Bolsonaro nunca foi um segredo, já que todas as vezes que tensionou a relação com as instituições trazia uma carta como trunfo, a sua base social e ideológica disposta a ocupar as ruas, entoando a cantilena autoritária e esdrúxula do Artigo 142 da Constituição Federal sobre uma possível intervenção militar.
Para se ter uma ideia, desde maio de 2019 o ex-presidente passou a mobilizar a base bolsonarista contra os ministros do STF, dando sinais claros de que uma ruptura institucional virou um projeto alternativo de poder. A montagem do governo bolsonarista refletiu o interesse em aparelhar as Polícias, ABIN, GSI e demais órgãos ligados à segurança exatamente para influenciar o rumo de investigações e processos. Nessa direção, a morfologia da organização política do bolsonarismo se manteve nas franjas do poder militar, como um tipo de arranjo oriundo do chão das ruas, dos quartéis e perfilando uma tropa de lideranças políticas dispostas a concorrer nas eleições.
De alguma maneira, esse agrupamento mostrou ao país que Bolsonaro não reconheceu o resultado das eleições em um movimento combinado com os golpistas dispostos a tomar o poder na força, levando milhares de bolsonaristas a ocupar a frente dos quartéis do país. Diante deste enredo golpista, as Forças Armadas foram cúmplices na tarefa republicana de rechaçar o movimento, um prenúncio do que estava por vir.
O erro gigantesco do ministro da Defesa, José Múcio, se deu ao enxergar um ethos democrático nos acampados em frente aos quartéis, mas o problema se revelou ainda maior, pois, tudo indica que Lula começou o seu governo diante da resistência de uma parte dos militares em reconhecer a legitimidade do resultado das urnas.
O que fazer agora? O primeiro passo fundamental foi dado com a demissão no sábado (21) do Comandante do Exército, o general Júlio Cesar de Arruda, em meio a uma crise de confiança após os ataques do dia 8 de janeiro. Escolhido pelo critério de antiguidade, a decisão de trocá-lo foi tomada diante da inação do general em acatar um conjunto de medidas do governo que acenassem para desbaratar o aparelhamento bolsonarista em curso no Exército.
A escolha do novo comandante, o general Tomás Ribeiro Paiva, comandante militar do Sudeste, representa a busca pela legalidade e o cumprimento do dever constitucional das Forças Armadas. A difícil tarefa do novo comandante é reafirmar que os militares devem ficar longe da competição político-partidária. O mercado financeiro e os líderes internacionais entendem que a medida pode nos colocar em um novo cenário de estabilidade política a ser observadas nas próximas semanas.
*Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições”. E-mail: [email protected]