Javier Milei e a diplomacia Brasil-Argentina
Leia a coluna desta segunda
![Imagem ilustrativa da imagem Javier Milei e a diplomacia Brasil-Argentina](https://cdn.atarde.com.br/img/Artigo-Destaque/1250000/724x500/Javier-Milei-e-a-diplomacia-Brasil-Argentina0125009800202311261903-ScaleDownProportional.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.atarde.com.br%2Fimg%2FArtigo-Destaque%2F1250000%2FJavier-Milei-e-a-diplomacia-Brasil-Argentina0125009800202311261903.jpg%3Fxid%3D6030224%26resize%3D1000%252C500%26t%3D1731046464&xid=6030224)
A vitória do candidato outsider Javier Milei nas eleições presidenciais argentinas, com 55% dos votos, marca um ponto de inflexão na história política do país, interrompendo o modelo de polarização entre as forças políticas neoliberais e peronistas. Sem dúvidas, os primeiros 100 dias de governo definirão a gestão da crise econômica em curso no país. Com uma inflação de 142%nos últimos doze meses, câmbio descontrolado e déficits fiscais, a margem de manobra do presidente eleito depende de reformas estruturais de grande impacto e negociação.
Na verdade, apesar das propostas polêmicas apresentadas durante a campanha, Milei agora precisa recalibrar seu discurso para sobreviver no cenário político institucional, o que passa pelo diálogo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para a implementação de um novo sistema macroeconômico. Não é tarefa fácil, ainda mais diante de uma taxa de pobreza que ultrapassou 40% da população no primeiro semestre de 2023.
O fato das promessas de Milei dependerem de um pacto pela governabilidade reafirma que o ultradireitista não governará facilmente sem o "Juntos pela Mudança", liderado por Patrícia Bullrich e o ex-presidente Maurício Macri, que detém 93 cadeiras na Câmara. O partido de Milei, "Liberdade Avança", conquistou somente 37, enquanto a coalizão de Massa, "União pela Pátria", é o maior grupo com 108 deputados.
De fato, para efetuar mudanças constitucionais, Milei precisará formar uma coalizão com os liberais, o que não garante, por si só, a força parlamentar necessária. A aprovação de reformas constitucionais exige pelo menos dois terços dos votos na Câmara. O cenário a curto prazo obriga o presidente eleito a construir rapidamente um capital político relevante, sem confrontos e em torno de um consenso nacional.
Mas, como ficará a geopolítica entre a Argentina e o Brasil? Ambos os países estabeleceram ao longo das últimas décadas relações estratégicas no âmbito do comércio exterior. A Argentina é o terceiro destino comercial das nossas exportações, ficando atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Já o Brasil é o maior destino das exportações argentinas (2022).
Com grande chance de ser um governo tumultuado sem um planejamento efetivo das políticas públicas, dificilmente a diplomacia argentina buscará um conflito generalizado e direto com o Brasil, mas haverá um clima de tensão, em especial, pela disputa interna no Mercosul e de que forma o novo presidente conduzirá a sua relação com o presidente Lula (PT), o que depende de uma retratação e de uma agenda que reconheça o papel do Brasil como o líder geopolítico efetivo. Diante do caos, Milei fará do Brasil um parceiro pragmático ou um inimigo retórico? A priori, esta escolha política segue em aberto.
*Cláudio André de Souza é Professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB). E-mail: [email protected].